Sete histórias que você não conhece sobre Fofão

*Por Roberta Nina 

A atleta mais vencedora da história do vôlei feminino brasileiro irá lançar no próximo dia 10 de abril (terça-feira) sua biografia “Toque de Gênio” e seu documentário “Brilhante” na Cinesala, em São Paulo.

Brilhante – Teaser from Março Produções on Vimeo.

Hélia Pinto, a Fofão, começou a jogar vôlei profissionalmente com 15 anos. Durante toda sua carreira, defendeu diversos clubes do Brasil e exterior, como da Itália, Espanha e Turquia. A jogadora vestiu a camisa da seleção durante 17 anos. É a única jogadora de vôlei a disputar 5 edições dos Jogos Olímpicos, conquistando três medalhas, duas de bronze (Atlanta-96 e Sidney-2000) e uma de ouro (Pequim-2008).

Além disso, a ex-camisa 7 e capitã da seleção que conquistou o primeiro ouro da história do vôlei feminino brasileiro há dez anos, foi seis vezes campeã do Grand Prix, campeã sul-americana, campeã pan-americana sendo considerada melhor levantadora em algumas das competições. Atuando em clubes, Fofão foi campeã mundial pelo Fenerbach (Turquia), Champions League (Itália) e seis vezes campeã da Superliga. Em 2016, entrou para o Hall da Fama do Vôlei, nos EUA.

Capa da biografia que será lançada dia 10 de abril, em São Paulo. Foto: Edu Lopes/Click de Gente

A biografia da levantadora, que se aposentou 45 anos, será lançada pela Editora Laços e foi escrita pela Profª Katia Rubio, do Grupo de Estudos Olímpicos da USP (GEO-USP) e pelo jornalista e documentarista Rodrigo Grilo. “Por ser econômica nas palavras e avessa a holofotes, poucas pessoas conhecem Fofão a fundo. E, certamente, quase ninguém sabe com detalhes quem foi Hélia Rogério de Souza Pinto. O livro joga luz na trajetória da maior atleta do vôlei feminino do Brasil e da filha de um sapateiro e de uma dona de casa de Lauzane Paulista”, afirma Rodrigo Grilo.

Confira a seguir sete histórias sobre a carreira da ex-levantadora:

A avó foi sua parteira

“Helinha”, como era chamada entre os familiares antes de se tornar jogadora de vôlei, nasceu na periferia de São Paulo, em Lauzane Paulista, zona norte da cidade, em 10 de março de 1970. Seu parto foi realizado em casa e feito por sua avó paterna Paulina. Fofão foi a quinta dos sete filhos da dona de casa Eurides e do sapateiro Sebastião.

A casa caiu

Em 1963, o pai e o padrinho de Fofão construíram uma casa em um terreno desabitado em Lauzane Paulista. Nenhum dos dois tinha conhecimento sobre engenharia civil e a construção feita por eles não tinha uma coluna sequer, contava apenas com estuque e muitos tijolos de barro, tudo isso entrelaçado por madeiras.

Em 1981, quando Fofão tinha 11 anos, sua mãe preparava o almoço para a família quando ouviu um estalo em uma das paredes da casa. Seu pai viu uma rachadura no teto e escutou um novo estalo. “Pega o que estiver ao seu lado, sai correndo de casa, porque ela vai cair”, avisou Seu Tião. A mãe de Fofão só encontrou tempo para desligar o botijão de gás e sair da casa.

A família contou com a ajuda de alguns vizinhos até Seu Tião começar a construir uma nova casa, no mesmo terreno.

Pensou em ser freira

Por conta de seu jeito tímido e recatado, Fofão cogitou a ideia de se tornar freira e até comunicou sua mãe. Ela se achava uma criança estranha e pensava que só um convento poderia lhe trazer respostas sobre seu jeito de lidar com a vida. Desistiu da ideia e passou a cogitar ser psicóloga, levando em conta o fato de ser observadora e prestar muita atenção no comportamento das pessoas ao seu redor.

No livro, a ex-atleta também revela que não tinha “jogo de cintura” para se relacionar com os garotos. “Não era vaidosa e não perdia o sono por causa disso”. Beijou um menino pela primeira vez aos 17 anos. “Eu era boba, boba de ingenuidade mesmo. Minhas irmãs não, elas eram espertas.”

Fim do segredo

A bola rápida, levantada para as jogadoras centrais no meio da rede, sempre foi a melhor execução de Fofão dentro das quadras. A ex-levantadora treinou muito os movimentos desse passe e, de fato, colocava a bola na altura certinha de cada central que jogou ao seu lado, como as jogadoras Fabi e Janina. O que muita gente não sabe é que tamanha precisão era fruto de uma dificuldade: Fofão não se saía tão bem ao levantar bolas nas pontas.

Levantamento para as centrais: sua especialidade / Acervo pessoal

“Levantar bola rápida no meio era minha zona de conforto. Tenho consciência disso desde que comecei a levantar, mas nunca comentei”, revela Fofão em sua biografia. Para ela, as jogadoras de ponta eram mais exigentes e era comum reclamarem da altura da bola quando fazia o levantamento “A única que nunca reclamou foi a Ana Moser. Você podia levantar a bola em suas costas que ela falaria: ‘Tá ótimo assim’. Para ela eu levantava numa boa”, confessa.

O apelido Fofão

João Crisóstomo foi o treinador que descobriu Fofão, ainda menina, no Centro Olímpico, em São Paulo. Em pouco tempo, a carreira da jogadora avançou e, quando chegou ao Pão de Açúcar, seu primeiro clube, o mesmo treinador foi o responsável por apresentá-la ao grupo.

O personagem Fofão, a atleta Fofão e o técnico João Crisóstomo/Acervo pessoal

“Ela era a Hélia, uma menina humildezinha, vinda lá da periferia, que foi treinar lá no meio das feras do Pão de Açúcar. E desde o princípio uma coisa nos chamou atenção: ela era bochechuda, uma bochecha gostosa de apertar, de sacudir. E naquele momento fazia muito sucesso na televisão um personagem de programas infantis, de nome Fofão, e aí a gente começou a chamar, de bochechuda. Daí para Fofão foi um pulinho. Pegou e todo mundo passou a chamá-la assim.”

Fernanda x Fofão

A seleção feminina precisava conquistar um pódio olímpico para deslanchar de vez como potência do vôlei. Fernanda Venturini foi por anos a levantadora titular do Brasil e coube a Fofão esperar a sua vez, permanecendo na reservas de 90 a 97.

Em 1999, Fofão foi titular nos Jogos Pan-americanos de Winnipeg. A medalha de ouro conquistada em cima das rivais cubanas deu uma grande moral à equipe novata que seria a base dos Jogos Olímpicos do ano seguinte, em Sidney. Dito e feito, Fofão foi a capitã da equipe que terminou a competição com a conquista da medalha de bronze.

Depois da Olimpíada, Bernardinho trocou a seleção feminina pela masculina. Com quase 30 anos de idade, Fofão e demais atletas não se sentiram a vontade com o novo comandante Marco Aurélio. Algumas foram dispensadas da equipe e outras pediram afastamento. Com os resultados adversos, Zé Roberto Guimarães foi chamado para assumir o comando da seleção feminina em 2003 e com ele, a ideia era trazer Fofão e as demais jogadoras experientes de volta ao time para formar uma forte em equipe para os Jogos de Atenas, em 2004.

Voltou Fofão, Virna, Leila, Waleska e… Fernanda Venturini. A esposa de Bernardinho havia se afastado da seleção e Fofão assumiu a titularidade em 2000. Para o recomeço, Zé Roberto garantiu, segundo conta Fofão em seu livro, que ela e Fernanda teriam chances iguais na equipe. “Zé conversou comigo e falou que todas estavam ali para ajudar, mas não tinha titular, nem reserva. E eu pensei ‘tudo bem, se vai ser assim, são duas pessoas que podem ajudar o time’, só que não foi. Foi diferente. Eu fui pouco utilizada, eu não tinha chance de jogar”, conta Fofão em sua biografia.

As duas melhores levantadoras da história da seleção em um mesmo time: Fofão e Fernanda/Acervo pessoal

Fofão foi reserva de Fernanda durante o Grand Prix de 2003, perdendo sua condição de capitã e titular conquistada anos antes. Nos Jogos Olímpicos de Atenas, viu do banco de reservas o Brasil chegar à semifinal contra as russas e perder a classificação de forma dolorosa. Ganhavam o jogo por 2×0 e estavam perto do match point, com o placar apontando 24×19 para as brasileiras. O que aconteceu depois todos sabem: derrota no tie-break e, sem forças para disputarem o bronze, a geração mais favorita do vôlei brasileiro amargou a quarta colocação no Jogos Olímpicos de 2004.

Depois da competição, Fernanda pediu uma nova dispensa e Fofão acreditou que seu ciclo na seleção havia se encerrado. Zé Roberto estava montando um time jovem e viu que precisava da experiência de Fofão para liderar a equipe. Ligou para a atleta e perguntou se ela estava disposta a retornar à seleção. Fofão aceitou e novamente assumiu o posto de capitã e líder do grupo que iria disputar os Jogos de Pequim.

Quatro meses antes da convocação final, Fernanda Venturini declarou para a imprensa seu interesse em fazer parte do time que iria para Pequim em 2008. “De novo essa história?” pensou Fofão, mas a atleta foi surpreendida pelo treinador que foi até sua casa na Espanha (onde defendia a equipe do Murcia) para consultá-la sobre como deveria agir nessa situação.

A camisa 7 estava preparada para mais um ciclo olímpico, não desistiu da seleção após o vexame em 2004 e se via receosa, mais uma vez, com a ameaça de Fernanda Venturini voltar novamente para a seleção. Fofão sabia que a pressão em cima de Zé Roberto seria muito grande por parte da imprensa, mas nesse momento ela se posicionou como nunca havia feito em sua trajetória, no encontro que teve com o treinador: “Quem tem de decidir é você. Mas eu espero que você pense bem na sua decisão. Porque não acho que será justo. As coisas não podem ser assim. Até mesmo pelo que eu passei, acho que tem de existir um respeito por aquilo que você propôs lá atrás para mim e para o grupo. No caso, é ela (Fernanda), mas poderia ser qualquer outra levantadora que quisesse entrar agora. Mas se você mudar de ideia, eu estou fora da seleção”.

Pequim, 2008, depois do treinamento/Acervo pessoal

Em seu retorno ao Brasil, o comandante da seleção agendou uma coletiva de imprensa, no Rio de Janeiro, para anunciar a lista das atletas convocadas para Pequim-2008. Nela, comunicou a sua decisão: Fernanda Venturini estava fora dos Jogos. O desfecho dessa história representa muito para a carreira de Fofão: capitã e campeã olímpica pela primeira vez em Pequim.

Com Zé Roberto, após a conquista da medalha de ouro em Pequim, 2008 / Acervo Pessoal

Alex, jogador e primo na Turquia

Fofão foi defender o Fenerbahçe, na Turquia, em 2010, dois anos após conquistar o ouro olímpico. Chegou com moral e foi muito bem recebida por todos, especialmente pela levantadora titular da equipe e da seleção turca, Naz Aydemir.

Como já estava aposentada da seleção, a levantadora pode desfrutar mais a nova cidade em que estava vivendo. E foi morando em Istambul que teve a oportunidade de conhecer Alex, que também defendia o Fenerbahçe e era como um “Deus” pelos torcedores do time. “O Alex foi sensacional e se colocou à disposição para qualquer coisa que eu precisasse. Um dia, eu e meu marido saímos com ele e foi quando nos conhecemos pessoalmente. É um cara super simpático, sensacional. Tempos depois, ele nos convidou para passar o Ano Novo em sua casa ao lado de sua família. Alex era rei lá em Istambul. E eu me aproveitava, já que, como eu, ele tem Souza como sobrenome e dizia para todo mundo que era meu parente. Um dia, ele entrou no nosso vestiário para nos desejar sorte antes de uma partida e as meninas ­ ficaram eufóricas, de boca aberta. Elas diziam: ‘Fofão, é o Alex!’. E eu: é meu amigo, parente, tranquilo, tranquilo”, revela em seu livro.

Lançamento Biografia “Toque de Gênio” e sessão de autógrafos
Dia 10 de abril (terça-feira), a partir das 19h
Cinesala: Rua Fradique Coutinho, 361 – Pinheiros, São Paulo – SP.
Mais informações: www.fofao7.com.br 

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