(Foto: Reprodução Instagram)
No próximo dia 23 (sexta-feira), a seleção feminina de vôlei entra em quadra para a disputa do Mundial. Esta será a 5ª vez que o técnico José Roberto Guimarães comandará o time numa competição como essa e uma das jogadoras mais experientes do grupo é a levantadora Macris.
Líder dentro de quadra, a atleta valoriza a renovação da equipe. “Elas estão muito presentes e afim de aprender, crescer e se abrindo para as possibilidades. Vejo que isso vai ser muito positivo para nós”, declarou ao Dibradoras.
Após a medalha de prata na Liga das Nações, o Brasil busca o inédito título do Mundial com as levantadoras Macris e Roberta, as opostas Kisy e Lorenne, as ponteiras Gabi, Rosamaria, Pri Daroit e Tainara; as centrais Carol, Carol Gattaz, Julia Kudiess e Lorena e as líberos Nyeme e Natinha.
Confira abaixo a entrevista exclusiva que fizemos com Macris.
O tempo de Macris
O esporte sempre fez parte da vida de Macris. Seus pais eram professores de Educação Física e atletas de vôlei, e foi acompanhando um treino da irmã mais velha que ela teve sua primeira chance. “Precisavam de uma pessoa pra completar o time e como sabiam que eu tinha os fundamentos do vôlei, me chamaram. Mas, em algum momento, eu sabia que isso iria caminhar junto da minha trajetória. A vontade de se dedicar a esse esporte sempre foi muito grande.”
A jogadora defendeu algumas equipes durante a carreira – como BMG/São Bernardo, São Caetano, EC Pinheiros e Terracap/BRB/Brasília Vôlei -, mas foi em Minas Gerais que ela alcançou grande destaque e conquistas. Foram cinco temporadas, 13 títulos conquistados e prêmios individuais, como ser eleita a melhor levantadora em Superligas, Sul-Americanos e até em Mundial.
“Ao longo da minha carreira, sempre busquei evoluir. Mesmo que jogasse por equipes que não disputassem o topo da tabela naquele momento, que talvez não seria a melhor opção financeiramente, eu achava muito importante estar atuando, ganhar experiência. Fui buscando dar um passo de cada vez para crescer em equipes que pudessem elevar o meu nível. E, com o Minas, eu consegui um novo patamar no meu voleibol porque eles me proporcionaram oportunidades de disputar Campeonatos Sul-Americanos de clubes, de chegar em finais e ser campeã de Superliga, de jogar Mundial de Clubes”, afirmou.
Agora – além do Mundial e aos 33 anos -, Macris enfrentará outro desafio assim que acabar competição com a seleção brasileira: a levantadora se apresentará ao Fenerbahçe da Turquia, clube que defenderá na próxima temporada.
“Agora, entendo que estou num momento nessa busca por crescimento, por novas experiências e jogar fora (do Brasil) vai será uma ótima oportunidade de saber como está o meu nível internacional, passar por dificuldades e novos desafios também. Já tinha conversado com o Zé e ele me disse que após Tóquio seria importante ter essa experiência e ver como está o nível internacional. Eu já pretendia que isso acontecesse nesse próximo ciclo olímpico para que eu possa estar preparada da melhor maneira, caso apareça uma nova oportunidade em Olímpiadas, eu quero estar na minha melhor condição”, contou a levantadora.
Hoş geldin Macris Carneiro!
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— Fenerbahçe Voleybol (@FBvoleybol) June 2, 2022
Muitos podem considerar tardia a ida de Macris para o exterior, mas o tempo sempre foi aliado da atleta e, na seleção, sua trajetória também foi construída com passos contidos. “Em 2015 foi minha primeira convocação pra seleção e já foi pra equipe adulta. Eu não tinha nenhuma experiência internacional, não tinha nem passaporte e foi uma novidade pra mim. Tive a oportunidade de jogar um Pan-Americano como titular em Toronto e foi muito bacana viver tudo aquilo, ao lado de jogadoras experientes. Em 2016 já era um ano olímpico, mas eu tinha acabado de chegar na seleção, não me via preparada pra ter uma oportunidade. E aí foquei nos clubes e me preparei para que quando tivesse uma nova oportunidade, que eu fosse convocada”, recordou.
E assim foi. Após o ciclo da Rio-2016, Macris passou a ser convocada com frequência e em 2019 garantiu lugar entre as titulares. E, na sequência, um novo tempo foi imposto à jogadora com o avanço da pandemia do Coronavírus. “É tudo questão de momento. Não adianta eu estar bem hoje e, quando chegar a Olimpíada não estar bem. É algo que tem que construir agora, mas (a escolha para a seleção) vai ser o momento de quem estiver melhor.”
A seleção feminina e a formação das atletas
Camisa 8 e uma das líderes do time brasileiro, Macris valoriza muito a troca que existe entre o treinador, Zé Roberto Guimarães e o elenco. “Pra mim foi muito enriquecedor absorver todo esse conhecimento e aos poucos ir entendendo outras necessidades e importâncias dentro do jogo como levantadora, não só em relação ao levantamento. Então é algo que ele (Zé Roberto) busca muito: ser uma jogadora completa que defende bem, sabe bloquear, sacar, para contribuir com a equipe. Vejo que ele consegue passar muito conhecimento pras jovens atletas, de ensinar, de ter essa paciência, de mostrar que tem que trabalhar duro, fazer repetição, buscar algo a mais. E pra nós é um privilégio ter alguém multicampeão, que também foi atleta e teve as vivências que nós passamos hoje e agora ter a oportunidade de absorver tudo isso”, declarou.
A renovação da seleção feminina conta com enorme contribuição do treinador que comanda a equipe paulista de Barueri, um dos principais clubes formadores da modalidade e que, de certa forma, funciona como um “laboratório” para a renovação do vôlei brasileiro. Parte das jovens jogadoras que chegaram à seleção vieram de lá, como a oposta Kisy, de 22 anos, a líbero Nyemi e a central Diana, ambas de 23 anos.
Só as novinhas! A oposta Kisy, de 22 anos, e a central Julia Kudiess, de 19, disputam pela primeira vez uma temporada pela seleção adulta e chegaram com tudo! Elas se preparam no CT da CBV, em Saquarema, para o Campeonato Mundial, que começa no dia 23 de setembro! Vamos! pic.twitter.com/CSyq7pITLH
— CBV (@volei) August 16, 2022
“Vemos o Zé, que se dedicou a fazer trabalhos formadores e isso precisa ser incentivado. Então, fica um pedido para que as empresas e outras pessoas apoiem e incentivem a base, porque isso auxilia na formação do jovem como pessoa e como atleta. É muito importante que as jogadoras jovens tenham essa oportunidade. Digo por mim, talvez eu tenha tido um desenvolvimento tardio porque eu só fui conhecer algumas coisas com a seleção, onde eles ensinam cada detalhe, especialmente para levantadora. Na idade delas eu não tive essa oportunidade e o fato delas jogarem importantes competições só tem a agregar. Elas estão muito presentes e afim de aprender, crescer e se abrindo para as possibilidades. Vejo que isso vai ser muito positivo para nós”, avaliou.
“Vice-campeã olímpica e vegana”
É assim que Macris se apresenta em seu Instagram. E, de fato, nesta entrevista que fizemos com a atleta, estes foram os dois temas que mais renderam assunto no bate-papo.
A medalha de prata conquistada em Tóquio-2021 e a superação da jogadora – que sofreu uma lesão no tornozelo direito durante a fase de grupos – deixaram marcas e histórias pra contar. “As Olimpíadas têm, realmente, um ar diferente de todos os campeonatos. Não mudaria em nada o que eu fiz, mas a gente paga um preço por exigir tanto do corpo. A temporada inteira foi muito difícil pra voltar ao ritmo, lidar com dor, ter uma superação. Foi importante ter passado por isso com o suporte das pessoas, mas até hoje eu jogo de tornozeleira com receio de passar novamente por uma lesão e sigo no trabalho pra voltar, tanto na questão do fortalecimento, na parte técnica e física mesmo”, revelou ao site.
O que pouca gente sabe é que a lesão de Macris não foi uma simples entorse, ela rompeu três ligamentos (um total e dois parciais) e um estiramento da musculatura. “A gente vai na adrenalina e na motivação. Mas assim que pisei no aeroporto pra ir embora, já senti que não ia conseguir andar mais depois de ter jogado as quartas, semifinal e final daquele jeito. Baixou a adrenalina e tive que chegar de cadeira de rodas no Brasil”, completou.
E o veganismo, que passou a adotar como estilo de vida desde 2017, também mudou a vida da jogadora. “Me sinto mais equilibrada, sinto benefícios em dormir melhor, do intestino funcionar melhor, de sentir mais energia e diminuir minhas inflamações no corpo. Sinto que tenho menos desgaste físico em exercícios de alta intensidade, me recupero mais rápido. Ganhei um plus na parte do rendimento, mas minha motivação (para a mudança alimentar) foi mesmo a causa animal.”
Sempre muito discreta e um pouco tímida, Macris foi apelidada carinhosamente pelas companheiras e pelos “vôlei-fãs” de Fada Vegana e ela tem começado a compartilhar um pouco dessa sua escolha nas redes sociais. “Tenho tentando aos poucos mostrar um pouco mais aquilo que acredito como estilo de vida que é o veganismo, das minhas ideias, dos livros que leio que trazem mensagens muito bacanas e de compartilhar com as pessoas. Medalhas, títulos, tudo isso vão ficar aqui. Mas as histórias, as pessoas que você encontra e como você pode transformar e ser transformado nesse caminho é a verdadeira conquista”, disse a atleta.
Além de Macris, outras atletas tem adotado o veganismo, como Carol, a central da seleção e companheira de quarto da levantadora. “Vejo uma consciência maior das meninas no cuidado com a alimentação. Não só na questão de diminuir açúcar e industrializados, mas também de fazer escolhas diferentes em relação às coisas de origem animal, que são mais inflamatórias, mais pesadas, e buscando também um ganho de performance. Então, vejo cada vez mais as meninas experimentando novos sabores e isso é muito importante para que as pessoas vejam como é possível ser atleta, ser vegana e estar em alto rendimento, diminuindo o consumo de comida animal. Acho que cada um pode dar um passinho pra contribuir de alguma maneira, tanto pelos animais, como pelo meio ambiente e pela própria saúde.”
Em 2016, Macris começou a pesquisar sobre alimentação saudável e na faculdade de Educação Física ela aprofundou seu conhecimento sobre nutrição, com informações baseadas em evidências científicas. “Quando eu aprendi que a proteína é um conjunto de aminoácidos e que posso encontrar também no reino vegetal, as coisas foram se abrindo na minha mente. Como a OMS (Organização Mundial da Saúde) preconiza que a alimentação sem nada de origem animal é viável pra qualquer fase da vida, uniu aquilo que eu trazia desde criança, de amar e proteger os animais, aquele desejo que tive de ser veterinária quando criança, e virei essa chave quando percebi que tinha esse embasamento científico. E aí foi 8 ou 80, não fiz transição e tirei tudo de origem animal da minha vida de uma vez”, detalhou.
É claro que a atleta respeita as escolhas e o tempo de cada pessoa, mas deixa um aviso. “Cada um está no seu processo e no seu tempo, mas acho importante fazer movimentos pensando em como impactamos o mundo. É realmente se dando uma chance que você acaba descobrindo outros sabores e saindo do senso comum. Se não tiver uma mudança, não existe outro planeta e os recursos estão se esgotando. Então, precisamos mudar um pouco a consciência do nosso consumo”, finalizou.
De olho no Mundial
Após preparação em Saquarema (RJ), a equipe brasileira embarcou para a Alemanha no início desta semana para um período de treinamentos antes do embarque para a Holanda, sede do Mundial. Neste sábado (17), as brasileiras disputam um amistoso contra as alemãs.
A seleção feminina está no Grupo D, ao lado da República Tcheca, da Argentina, da Colômbia, do Japão e da China. As quatro melhores se classificam para a próxima fase. A estreia é no dia 24 (próximo sábado), às 15h30 (de Brasília), contra a República Tcheca, com transmissão ao vivo do Sportv 2.
“Sextou” com selfie de fim de treino das novinhas direto da Alemanha! Hoje é dia de jogo treino da seleção feminina contra as alemãs! Vamos com tudo! #BancoDoBrasil #tamojuntonessegame #mikasabrasil #voleiagentetorcejuntos pic.twitter.com/2AJ9L4tLCc
— CBV (@volei) September 16, 2022