A seleção feminina entra em campo neste sábado para enfrentar a Colômbia na final da Copa América e há muito mais do que apenas o oitavo título da competição para o Brasil em jogo. O time renovado que entrará em campo em busca dessa conquista poderá representar uma virada de chave para o futebol feminino no país.
Se, por um lado, falta experiência, podemos dizer também que sobra potencial para essa seleção brasileira que tem sido moldada ao longo da Copa América. Do time base com as 11 consideradas “titulares” ao longo da competição (Lorena; Antonia, Tainara, Rafaelle, Tamires; Angelina, Ary Borges, Kerolin, Adriana; Debinha e Bia Zaneratto), seis delas nunca haviam disputado uma competição internacional pela seleção brasileira adulta. Das 23 convocadas, 18 não tinham participação em nenhuma Copa América anterior.
Como já dissemos tantas vezes, essa é a primeira competição sem que nenhum dos três pilares do futebol feminino brasileiro nas últimas décadas estejam presentes. Marta está machucada, Cristiane já não tem sido convocada, e Formiga se aposentou da seleção no ano passado. Parece um detalhe irrisório, mas num país que pouco investiu para criar mais referências dentro de uma modalidade que precisou superar vários obstáculos para, literalmente, sobreviver, a ausência delas têm impacto. E faz também com que a responsabilidade das novatas seja ainda maior: não é possível entregar nada menos que a excelência – e não há margem para erro.
A seleção feminina nunca foi tão vista e, por consequência disso, nunca foi tão cobrada. As cobranças, inclusive, são importantes e fundamentais para a evolução. Se tivéssemos (mídia e torcida) acompanhado ao longo de todos esses anos todos os jogos da seleção como acompanhamos hoje, com certeza nossas cobranças teriam vindo antes e teriam gerado, talvez, as mudanças que eram tão necessárias e que, infelizmente, só vieram nos últimos três anos.
Mas é importante também trazer um pouco de contexto para embasar o que se cobra. A seleção brasileira chega à final desta Copa América com 19 gols feitos, nenhum sofrido. Foram atuações que oscilaram ao longo dos jogos, mas que apresentaram também variações – se olharmos os 4 a 0 em cima da Argentina, ou o 3 a 0 sobre o Uruguai, o Brasil atacava sempre pelo meio e poucas vezes acionava os lados do campo; se olharmos para os jogos contra a Venezuela, contra o Peru e contra o Paraguai, a seleção usa muito mais a amplitude e a profundidade do campo.
Se vencer a Colômbia na final e não levar gols, será a primeira vez que o Brasil conquistará o título sem ser vazado.
Tem sido a melhor exibição de uma seleção brasileira na história da Copa América? Não dá para saber, porque não pudemos ver as outras. Essa é a primeira vez que o torneio está sendo exibido em rede nacional, na TV aberta e fechada, e por isso estamos tendo a chance de avaliar cada centímetro do trabalho que está sendo feito. O Brasil ainda sobra na competição e todos sabemos que isso não é parâmetro para o que vai acontecer na Copa do Mundo ou na Olimpíada. Mas também não é justo olhar para esta Copa América e apenas descartá-la, como se não fosse relevante.
É a primeira oportunidade que essa seleção renovada está tendo para passar 30 dias junto com treinamentos, jogos e a chance de absorver melhor as ideias da comissão técnica. O entrosamento melhorou bastante se compararmos o primeiro e o último jogo feitos na competição. O entendimento das ideias de jogo também.
Além disso, é a primeira vez que um time tão “inexperiente” tem a chance de ganhar cancha numa competição internacional. Que traz consigo as dificuldades de lidar com arbitragens ruins, com adversárias fazendo cera, com torcida contrária (como vai acontecer na final). Tudo isso dá a chance para essas jogadoras amadurecerem, entenderem o peso de vestir a camisa da seleção brasileira, e ganharem confiança para que no futuro estejam prontas para desafios maiores.
Evolução
Algumas pessoas dizem que “já era hora de ver mais” no trabalho da técnica Pia Sundhage à frente da seleção brasileira, já que ela está há três anos no comando. Acho importante fazer uma diferenciação na hora de falar desses “três anos de trabalho”. Quando a sueca assumiu a seleção brasileira, em agosto de 2019, havia um objetivo a curto prazo – os Jogos Olímpicos de 2020 – e outro mais distante, que seria o início de um novo ciclo pós-Olimpíada preparando para a Copa do Mundo de 2023 e Paris-2024.
Além disso, havia também a urgência de se trabalhar bem a base das seleções brasileiras, que ficou sem comando por quase um ano. Foi nesse contexto que chegaram Jonas Urias e Jéssica Lima para comandar a sub-20, e Simone Jatobá para assumir a sub-17. O trabalho deles com o de Pia na seleção principal tem sido integrado – prova disso são as atletas que hoje estão na Colômbia e, em 2019, estavam com Jonas na Granja Comary (Angelina, Duda Sampaio, Ary Borges são alguns exemplos).
Com a eliminação nas quartas-de-final em Tóquio em 2021, começou um novo trabalho da comissão técnica. O de garimpar novas jogadoras e formar uma seleção renovada para o próximo ciclo. Das 23 convocadas na Colômbia, por exemplo, só nove estiveram nos Jogos Olímpicos do ano passado. Ou seja, mais da metade das atletas que representam o Brasil na Copa América são esses tais “novos nomes” que a comissão técnica começou a garimpar para um novo trabalho à frente da seleção, visando a Copa de 2023 e a Olimpíada de 2024.
Não sei se o título da Copa América virá neste sábado, mas não tenho dúvidas de que o Brasil sairá mais forte desta final. Será um jogo com casa cheia, torcida contra e muitos aprendizados para esse time jovem e cheio de potencial ter dentro de campo. O Brasil é, sim, absoluto favorito e precisa saber impor a diferença técnica que tem diante da Colômbia que, evoluiu, mas ainda está um nível abaixo da seleção brasileira.
E, para além do resultado, é importante que o processo de renovação siga. Se o título vier, com certeza esse time jovem ganhará mais confiança e estará mais pronto para lidar com os desafios maiores que virão.
A final da Copa América entre Brasil x Colômbia será neste sábado às 21h com transmissão do SBT e do Sportv.