A zagueira Rafaelle ainda está se acostumando ao clima da Inglaterra e ao estilo de jogo do Arsenal, mas já briga por uma vaga entre as titulares. Primeira brasileira a defender os Gunners, em sua semana inicial no clube, jogou o segundo tempo do empate em 1 a 1 contra o Manchester City e foi titular na virada sobre o Brighton pela FA Women’s Super League, o Campeonato Inglês feminino.
Em entrevista às Dibradoras, ela garante que já está apaixonada pelo novo clube. A baiana de 30 anos contou que está impressionada com o profissionalismo e a estrutura dos Gunners. Antes de assinar, quando ainda estava na China, onde defendeu o Changchun Zhuoyue, já recebeu orientações de como poderia se encaixar no time londrino e o que seria esperado dela.
“Agora, no dia a dia, eu sempre tenho reunião com o grupo antes dos treinos, e individual com a assistente do Jonas (Eidevall, técnico do Arsenal), para passar o estilo de jogo. Saber como eles gostam de jogar, defender a bola dentro da área, sair jogando com as zagueiras. Isso tem sido um aprendizado muito grande para mim”, explica.
A negociação durou alguns meses, o que deu tempo para ela estudar bastante os materiais enviados pelo clube. Ainda assim, a definição foi muito rápida, e Rafaelle precisou fazer as malas no mesmo dia da mudança. Mas ela não deixou alguns itens essenciais de fora.
“Depois de morar seis anos na China, eu falei ‘na Inglaterra eu vou achar de tudo para comprar’. Então eu só fui com minha mãe no mercado rapidinho, e a gente só trouxe mesmo o azeite de dendê, leite de coco e farinha de milho pra fazer cuscuz, porque eu adoro comer cuscuz de manhã”, revelou.
Além da China, Rafaelle também tem experiência internacional por defender o Houston Dash, dos Estados Unidos, além de jogar o futebol universitário no país da América do Norte. No Brasil, ela passou pelo Palmeiras na campanha do Brasileirão Feminino em 2021, além de defender o América-MG e o São Francisco do Conde, no interior da Bahia. Ela é a terceira brasileira a jogar na WSL, a liga inglesa de futebol feminino – as outras foram Ester, que defendeu o Chelsea em 2013, e Ivana Fuso, que atualmente joga pelo Manchester United.
Mesmo tendo uma compatriota na liga, Rafaelle só falou com Ivana sobre a mudança quando já estava na terra da Rainha Elizabeth II. “Foi um segredo, só fui falar com ela depois. Meio que peguei ela de surpresa, até porque a gente é rival, não pode ficar conversando muito”, brincou.
A rivalidade é real. O Arsenal atualmente lidera a WSL com 29 pontos, seguido pelo Chelsea, com 25, e pelo United, com 24 pontos. E tem mais: os times das duas únicas brasileiras vão se enfrentar na próxima rodada, quando os Red Devils têm uma chance de colar novamente nas líderes. E um dia após o anúncio da contratação de Rafaelle, o United venceu o Arsenal pelas quartas de final da Continental Cup.
Rafaelle confessa que chegar a um novo clube, ainda mais tão embalado, é um desafio. Graças a sua experiência, já se sente mais confortável na situação. “É até mais fácil para mim estar jogando ali atrás na zaga sabendo que tem grandes jogadoras me ajudando, me tranquiliza. Eu achei que ia chegar aqui com o time líder do campeonato e ia dominar o jogo, mas a gente passou um aperto. Tive que trabalhar muito ali atrás”, riu, falando sobre o jogo contra o City.
Em um time com estrelas no ataque como Beth Mead, Vivianne Miedema, Nikita Parris, Stina Blackstenius e Tobin Heath, Rafaelle quer se consolidar na defesa dos Gunners. Depois da estreia, foi selecionada pelo técnico Jonas Eidevall para ser titular contra o Brighton. Ela esteve em campo durante os 90 minutos da vitória de virada por 2 a 1. Para ela, é um estímulo a mais disputar uma liga competitiva com clubes bem estruturados. Rafaelle conta, por exemplo, que as jogadoras têm acesso aos mesmos equipamentos que o time masculino.
“Não é só a parte do futebol, tem todo um trabalho por trás, até com psicólogo, podólogo, coisa que é difícil encontrar num clube no Brasil. Quando eu joguei no Brasil, você tinha jogos mais difíceis, alguns clubes muito bem estruturados, mas tinha jogos que você já entrava em campo sabendo que ia ganhar. E aqui não tem isso, cada jogo é uma decisão”, avalia.
Agora Rafaelle quer compartilhar essa experiência com as outras companheiras de seleção brasileira. Ela acredita que pode passar o que aprendeu para outras brasileiras e que elas levem os ensinamentos para os clubes brasileiros. Ela também garante que, pela história de sucesso de vários jogadores do país na Premier League, eles acreditam muito em quem vem do Brasil. “Ficam meio que botando pressão em mim, que agora eu tenho que levar esse nome do Brasil no feminino também”, conta.
“Eu acho que vou chegar mais preparada na seleção por toda a estrutura, todo o trabalho que eles têm aqui no clube. E quero também passar isso também para que as meninas levem para os clubes delas no Brasil, e também trazer jogadoras aqui para a Inglaterra, porque eu tenho gostado bastante. Acho que a gente combina muito com esse estilo de futebol. Eu quero ficar aqui, se eu aguentar jogar mais 10 anos, eu quero ficar aqui na Inglaterra.”