Conheça Alice Milliat, criadora de uma ‘Olimpíada paralela’ para mulheres em 1920

“As mulheres serão sempre imitações imperfeitas, nada se aprende vendo-as agir, e assim, os que se reúnem para vê-las obedecem preocupações de outras espécies. Talvez as mulheres compreenderão logo que esta tentativa não será proveitosa nem para seu encanto, nem para sua saúde”.

A frase acima é do Barão de Coubertin, responsável por criar as Olimpíadas da Era Moderna. Logo se vê que as mulheres não eram prioridades do historiador francês, e foi difícil de mudar este pensamento.

Coube à Alice Joséphine Marie Milliat, mais conhecida como Alice Milliat, enfrentar essa ideia absurda de Coubertin. Nascida na França em 1884, a professora e militante era também nadadora, remadora e jogadora de hóquei. Ela tinha apenas 12 anos quando os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna aconteceram.

Na segunda edição, o “prêmio de consolação” às mulheres foi serem incluídas em modalidades individuais (golfe e tênis), mas sem direito a premiação. Depois, elas puderam estar no arco e flecha, na natação, no barco a vela (modalidade mista em que só podiam participar se fossem esposas dos atletas) e ginástica.

Alice Milliat toma a frente dessa luta em 1919, onde aos 35 anos exige ao Comitê Olímpico Internacional a inclusão do atletismo feminino nas competições. O COI diz não!

Cansada de pedir e não ser atendida, em 1922 a professora resolve, então, criar os Jogos das Mulheres, em Mônaco, reunindo delegações femininas de França, Inglaterra, Itália, Noruega e Suécia.

Alice Milliat foi jurada de eventos de atletismo nos Jogos de 1928 em meio aos homens (Foto: Fundação Alice Milliat)

Dois anos depois da sua criação, os jogos femininos começaram a incomodar os “antis”. Após mais de 15 mil pessoas irem assistir à competição em Paris, um jornal da época comparou o sucesso das “Olimpíadas das mulheres”, que aconteceu em quatro edições, com as dos “homens”, e aí o COI se sentiu pressionado a fazer mais por elas.

Em 1928 Alice negociou com o COI a inclusão de cinco provas femininas, e ao todo 277 mulheres participam (isso dava menos de 10% dos 2606 participantes homens). O Comitê levou mais uns bons anos para, de vez, abrir espaço para elas, o que aconteceu em 1980. Quatro anos depois já tínhamos maratona feminina e outras modalidades.

Como Alice Milliat faleceu em 1957, aos 73 anos, ela não pôde presenciar a igualdade se tornando cada vez mais real, e isso só foi possível 100% em 2012. Essa foi a primeira vez que as mulheres puderam disputar todas as modalidades que os homens já disputavam há anos nos Jogos Olímpicos – o marco foi a inclusão do boxe feminino na edição de Londres há nove anos.

Pioneira do esporte feminino, a militante, professora e atleta foi homenageada recentemente com uma estátua sua no prédio do Comitê Olímpico Nacional da França, em Paris, colocada bem ao lado da escultura de Barão de Coubertin, aquele que negou às mulheres presença nos Jogos. Gostinho de vitória!

Créditos: Franck Fife/AFP/Getty Images

Além disso, há na França desde 2016 uma fundação em prol dos esportes femininos que leva o nome de Alice. E para completar as homenagens, na Olimpíada de Paris, em 2024, Milliat dará nome a uma arena que sediará o badminton e o takedown paralímpico, e após os Jogos o espaço deve se tornar a casa do Paris Basketball e do time de handebol do PSG.

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