Da música para a narração, Milla virou a voz dos e-Sports e inspira meninas

Era mata-mata da Liga dos Campeões com Real Madrid e Paris Saint-Germain. “Lembro que falei pros meus amigos me esquecerem nesse dia porque ia ter jogo, e eles responderam: como você é chata com esse negócio de futebol, né?!”. E os amigos da Camilla Garcia tinham razão, quando ela não estava na rua jogando futebol, estava no videogame jogando futebol ou na frente da TV assistindo futebol. “Nesse dia, em fevereiro de 2018, eu estava no quarto acompanhando a partida da Champions quando o narrador falou: ‘ei, você mulher que gosta de futebol, tem uma chance aqui pra você, você quer ir para a Europa narrar uma partida da Champions?’. Nessa hora tive a sensação de que o narrador falava comigo e decidi me inscrever!”, conta.

Apesar de amar futebol, Milla, como é chamada, nunca tinha pensado em trabalhar nessa área. Ela era extremamente tímida na infância, sofria pra falar em público, tinha pavor de apresentar os trabalhos na escola, mas fez faculdade de música, começou a dar aulas para crianças e adolescentes, conseguiu superar a timidez e, antes do Real e PSG terminar, já estava com o celular na mão pronta pra gravar a inscrição pro reality show. “Eu lembro da emoção que senti nesse momento, me arrepia só de falar. Pensava: olha que absurdo essa emoção que eu to sentindo narrando do meu quarto, como é que pode?! Sem contar a ansiedade pra saber se tinha sido selecionada, foi a maior da minha vida!”, relembra. 

Mal sabia ela que esse não seria o único reality show que participaria. “Terminei em quinto entre 12 mulheres. Foi muito bom porque pude aprender como a narração funcionava e quando o programa acabou eu fui em frente”. Milla se mudou de Salvador para São Paulo e continuou com as aulas de música enquanto buscava um trabalho como narradora. Começou em eventos presenciais no Sesc, passou para webradios, se tornou a primeira mulher a narrar na Arena Corinthians, fez o Paulistão feminino e foi para os esportes eletrônicos com o reality show do SporTV ‘Looking for a Caster’. Dessa vez, o vencedor iria participar da final do Brasileirão de Rainbow Six Siege, um jogo de tiro tático que era o segundo que a ela mais jogava depois do Pro Evolution Soccer (PES). 

Milla desbancou cinco participantes e venceu a final contra Victor “Stoker” com 55% dos votos do público. Antes de poder comemorar o prêmio, entretanto, ela recebeu uma enxurrada de críticas. “Os comentários falavam que eu só ganhei por ser mulher, que era cota, lacração, mimimi. Foi uma porrada. A crítica é até ok, o problema é a ofensa, o ataque ao gênero”, ressalta. Os insultos foram tantos que o SporTV criou a #porqueémulher, compartilhada por diversos narradores, comentaristas e apresentadores. “A campanha foi muito importante para mostrar que as mulheres não podem ser atacadas dessa forma”, comenta. “A gente está tão acostumada a apanhar e ficar por isso mesmo que dessa vez eu me senti muito acolhida”. 

Para os críticos, Milla ainda pode mostrar um currículo cada vez mais impressionante. Em 2021, aos 35 anos, ela não precisa mais dar aulas de música, foi contratada como narradora de várias modalidades – como basquete, atletismo e futsal – pela TV NSports e tem feito também transmissões pelo DAZN – em torneios tradicionais e virtuais. Você pode escutá-la no Paulistão e no Brasileirão feminino, de campo, com narração e comentários 100% femininos em uma parceria da CBF TV com a Vity Produções.

Ao lado do jornalista Everaldo Marques, Milla participou do eGol Pro, torneio de eFootball com algumas das principais equipes do país, como Flamengo, São Paulo, Vasco e Corinthians. Em julho, ela vai narrar o primeiro torneio de PES 2021 exclusivo para mulheres. “Temos ainda um ambiente muito masculinos e muitas mulheres não conseguem se inserir ou se sentir à vontade. Um campeonato como esse é fundamental para fortalecer o cenário feminino para que no futuro a gente possa misturar e ter um campeonato com todos os gêneros, sem distinção”, analisa. “Até lá a gente vai enfrentar bastante preconceito ainda, não vai ser fácil, mas a gente vai continuar encarando porque pra trás a gente não volta mais”.

O PES das Minas começa no dia 15 de julho com cobertura das Dibradoras e transmissão no canal da Player1 na Twitch. As inscrições, exclusivas para jogadoras brasileiras residentes no país e com mais de 13 anos, já estão abertas e podem ser realizadas até o dia 11 de julho no site da Player1.

 

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *