Foto: Paula Reis/CRF
Entre os clubes de maior poder financeiro do Brasil, o Flamengo agitou os bastidores do mercado do futebol feminino para a temporada de 2024. Foi o ano em que fez o maior investimento do time na modalidade, dando continuidade à política de oferecer altos salários para contar com jogadoras renomadas. Apesar de chegarem a apontar a contratação badalada da atacante Cristiane como uma mudança de patamar da equipe da Gávea, o início do time no Brasileiro Feminino A1 é terrível.
As Meninas da Gávea perderam os três primeiros jogos e ocupam a penúltima colocação na tabela, na zona de rebaixamento, sem ter somado nenhum ponto nas três primeiras rodadas, em que enfrentou Palmeiras (3 a 2), Cruzeiro (2 a 1) e Corinthians (2 a 3). É a primeira vez que o Flamengo feminino amarga uma sequência de três derrotas seguidas desde a estreia no campeonato, em 2015.
– @SCCPFutFeminino: 3 jogos, 3 vitórias.
— Dibradoras (@dibradoras) March 26, 2024
– @Flamengo e @GaloFFeminino: 3 jogos, 3 derrotas.
Confira como ficou a tabela do @BRFeminino após o fim da 3ª rodada. pic.twitter.com/My6M2v1qv5
No Brasileiro de 2021, a equipe carioca só conquistou a primeira vitória na 5ª rodada, após dois empates (contra Minas Brasília e Associação Napoli Caçadorense, ambos por 1 a 1) e duas derrotas (para Internacional, por 1 a 0, e São Paulo, por 3 a 0). Naquele ano, o time terminou a primeira fase do campeonato apenas na 9ª colocação, fora da zona de classificação para o mata-mata.
Em 2024, a sequência de resultados negativos no início do campeonato mostra que apenas o alto investimento na folha salarial não é suficiente para suprir problemas antigos relacionados à estrutura e ao tratamento oferecidos ao time de futebol feminino, diante do alto potencial que o Flamengo dispõe. Em dois dos três primeiros jogos deste Brasileiro, o time atuou em casa (contra Cruzeiro e Corinthians). Mas o Rubro-negro manda os jogos do feminino no Luso Brasileiro, um estádio mais distante (localizado na Ilha do Governador) em que o acesso não é atrativo para a torcida e as condições do gramado nem sempre estão boas.
Outra alternativa que o Flamengo tem usado para os jogos do feminino é o estádio da Gávea, onde o time optou por disputar a final do Carioca de 2023, mas não pôde contar com a presença de público por questões estruturais na arquibancada (o local passa por reforma há anos). O Flamengo tão pouco demonstra ter um planejamento para levar partidas mais decisivas para seu principal estádio. Pelo contrário, o Flamengo queria que a CBF reduzisse a capacidade mínima dos estádios para os jogos da Série A1 do Brasileiro feminino para poder colocar suas partidas em locais ainda menores.
Soa como contraditório investir alto em contratações de jogadoras e colocá-las para atuar em locais com pouca visibilidade e que dificultam o contato delas com uma massa maior de torcedores. Além disso, é importante que haja um plano de divulgação e marketing para promover formas de incentivar os torcedores a conhecer e consumir cada vez mais o trabalho realizado por elas, ainda mais tendo uma das maiores torcidas do Brasil. A chegada da Cristiane no Flamengo no início do ano evidenciou o grande potencial de engajamento que o clube tem também em relação à equipe feminina de futebol.
Outro avanço importante para dar o salto de rendimento no futebol feminino que o Flamengo tem potencial de alcançar é promover uma maior integração das jogadoras com o restante do clube. Isso passa por todas as estruturas. Enquanto todas as categorias do masculino (profissional e de base) treinam no Ninho do Urubu, na zona oeste do Rio de Janeiro, o elenco feminino trabalha no CEFAN (Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, da Marinha), na zona Norte do Rio de Janeiro, desde o início da parceria firmada entre o Flamengo a Força Armada, em 2015.
A Cristiane chegou a comentar sobre a torcida dela para que o Flamengo cumpra a promessa feita às atletas do clube de montar uma estrutura para a equipe feminina no Ninho do Urubu em 2025. “Eu torço muito para que aconteça, porque dar essa estrutura 100% pra gente exercer nossa profissão é muito importante, faz uma diferença bem grande”, disse, em entrevista ao Charla Podcast.
O Flamengo tem um dos projetos mais antigos do futebol feminino entre os clubes que figuram na elite da modalidade. Criado em 2011, o time fechou parceria com a Marinha do Brasil em 2015 e foi campeão brasileiro como Flamengo/Marinha em 2016. Mas depois o clube ficou estacionado nessa parceria sem se mexer para promover uma maior integração do time feminino com o restante do clube, ficando para trás diante do crescimento de outras equipes no futebol feminino.
Ao Flamengo, não falta potencial para mudar de patamar no futebol feminino. Para isso, porém, é preciso ir além de montar um elenco com jogadoras renomadas. O aumento da competitividade do time em campo passa necessariamente pela estrutura oferecida para desenvolver o trabalho delas, assim como pelo sentimento de pertencimento e valorização dentro do clube, desde as estruturas destinadas à preparação até os estádios dos jogos e as estratégias de interação e engajamento com a torcida.