Resultados do ano apontam que Paris-2024 será histórico para mulheres brasileiras

Comitê Olímpico do Brasil projeta recorde de medalhas em Paris-2024 e as mulheres são as principais apostas
Rebeca Andrade em treino no Mundial de Ginástica Artística 2023 Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Foto: Ricardo Bufolin/CBG

A melhor campanha do Brasil na história dos Jogos Pan-Americanos foi em Santiago-2023. Nele, as mulheres brasileiras superaram o desempenho dos homens pela primeira vez. Foram 95 medalhas nas disputas femininas (33 ouros, 32 pratas e 30 bronzes) e 92 nas masculinas (30 ouros, 33 pratas e 29 bronzes), além das 18 medalhas nas provas mistas. A projeção do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) é que o Brasil faça uma campanha histórica também nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, superando os 21 pódios de Tóquio em 2021 – recorde que deve ser puxado, principalmente, pelos esportes femininos.

“Posso dizer para vocês que o Comitê Olímpico está preparado, sim, para fazer uma apresentação melhor do que foi em Tóquio”, disse Paulo Wanderley, presidente do COB, neste mês, durante o COB Summit, evento realizado para jornalistas no Rio de Janeiro. “Essa é a proposta, é a nossa missão. Quantificar? Eu poderia dar qualquer número, mas não quantifico. Temos a meta de ser melhor do que antes, sempre”, completou o dirigente. 

A meta, porém, passa por outro objetivo traçado também pelo COB para as Olimpíadas de Paris-2024: que a delegação feminina tenha o mesmo número de atletas da masculina pela primeira vez. Para isso, o país vive o melhor cenário possível, já que as mulheres estão em um momento de protagonismo no esporte olímpico do Brasil. 

As principais estrelas brasileiras da atualidade são mulheres: Rebeca Andrade, da ginástica artística; Rayssa Leal, do skate; Rafaela Silva, Mayra Aguiar e Beatriz Souza, do judô; Martine e Kaena, da vela; e Beatriz Ferreira, do boxe.

Para Guilherme Costa, jornalista da Globo e especialista em esportes olímpicos, tudo leva a crer que vamos ter, pela primeira vez, um desempenho melhor das mulheres do que dos homens do Brasil nas Olimpíadas de Paris. “Não é que torcemos para os homens não ganharem medalhas. É que analisando a conjuntura do que deve acontecer, as mulheres brasileiras chegam nas Olimpíadas de Paris com mais chances de ganhar medalhas do que os homens”, ressalta o jornalista.

A projeção é baseada nos resultados das principais competições de cada modalidade; e os Campeonatos Mundiais são os grandes parâmetros para projetar o desempenho nas Olimpíadas. Em 2023, o Brasil ganhou 20 medalhas mundiais. Delas, 12 foram conquistadas por mulheres e 8 por homens. Nos Mundiais de 2022, os atletas brasileiros subiram 23 vezes ao pódio, sendo 12 em disputas femininas e 11 em masculinas; sendo que das sete medalhas de ouro, cinco foram com as mulheres e duas com os homens.

Toda essa projeção tem um nome em torno do qual giram as principais expectativas: Rebeca Andrade. A ginasta de 24 anos tem tudo para ser a grande estrela do Brasil em Paris-2024 e, quem sabe, da história dos esportes olímpicos do país. “A Rebeca pode fazer algo histórico. Ela já tem duas medalhas olímpicas conquistadas em Tóquio e, se ganhar mais cinco nas Olimpíadas de Paris, igual fez no Mundial deste ano, chegaria a sete e se tornaria a maior medalhista olímpica da história do Brasil em todas as modalidades, entre homens e mulheres”, destaca Guilherme Costa. 

Além de Rebeca Andrade como destaque individual, outro pilar do Brasil para subir com frequência ao pódio nas próximas Olimpíadas será os esportes de luta ou de combate.  O judô feminino do Brasil tem, pelo menos, três enormes chances de medalha com Rafaela Silva (-57kg), Mayra Aguiar (-78kg) e Beatriz Souza (+78kg). 

O boxe feminino também mostrou como está bem com os quatro ouros no Pan-Americano, conquistados com Caroline Barbosa (50kg), Jucielen Romeu (57kg), Barbara Santos (66kg) e, principalmente, Bia Ferreira (60kg). “A Bia foi vice-campeã olímpica em 2021 e campeã mundial em 2023 e é uma das medalhas ‘mais certas’ que o Brasil deve ter na Olimpíada de Paris, não necessariamente de ouro”, destaca Guilherme Costa. 

O jornalista também coloca nesse pacote de “esportes de luta ou combate” a atleta de taekwondo Maria Clara Pacheco, medalhista de bronze no Mundial de 2023, e a esgrimista Nathalie Moellhausen, que é TOP-5 do ranking mundial, ajudou o Brasil a ganhar um ouro no Pan-Americano por equipes e tem grandes chances de medalhar nas Olimpíadas de Paris. “Isso considerando incluir a esgrima nesse grupo de esportes de duelo, porque os esgrimistas não se consideram esportistas de luta”, pondera Guilherme. 

Chances de medalhas inéditas

Barbara Domingos no Pan-Americano de Santigago Foto: Miriam Jeske/COB
Barbara Domingos é esperança de medalha na ginástica rítmica em Paris-2024 | Foto: Miriam Jeske/COB

Assim como o Brasil conquistou medalhas inéditas no skate e no surfe, que estrearam nas Olimpíadas em Tóquio, existe a expectativa que a delegação brasileira suba ao pódio dos Jogos de Paris-2024 em modalidades que nunca medalhou antes. Na ginástica rítmica, o Brasil tem batido na trave em Campeonatos Mundiais, mas tem ganhado medalhas em etapas de Copa do Mundo e faturou oito ouros no Pan-Americano. Bárbara Domingos é o principal nome da modalidade no Brasil, que também garantiu vaga olímpica ao conjunto.

E tem ainda a ginástica de trampolim, que é disputada em uma espécie de cama elástica. Nela, a Camilla Lopes é TOP-5 do ranking mundial e chegou à final do Campeonato Mundial da modalidade de 2023, mas sofreu uma queda e terminou na oitava posição, além de ter ganhado a medalha de prata no Pan na prova individual e outra prata na prova de duplas sincronizadas, ao lado de Alice Gomes, que ficou na sexta posição do Mundial. Com duas atletas na final do Mundial, o Brasil garantiu uma vaga olímpica para Paris e ainda pode conseguir uma segunda vaga pelo ranking mundial em 2024. 

Bons indícios do Pan-Americano de Santiago

Caroline de Almeida foi campeã pan-americana de boxe (50kg) | Foto: Wander Roberto/COB

Evento multiesportivo disputado um ano antes dos Jogos Olímpicos, o Pan-Americano serve muitas vezes como um aquecimento pros amantes dos esportes olímpicos. Em 2023, a delegação brasileira terminou na segunda colocação no quadro geral de medalhas, atrás apenas dos Estados Unidos, atingindo o melhor desempenho do país na história do Pan com o recorde de 205 medalhas (66 ouros, 73 pratas e 66 bronzes). E o feito empolgou a torcida brasileira para as Olimpíadas de Paris-2024! 

Claro que são competições de níveis muito diferentes e é preciso ter certa cautela em projeções pensando em Olimpíadas, mas alguns desempenhos do Pan valem ser ressaltados. “O Brasil ter ganhado quatro ouros no boxe feminino foi histórico! Porque o boxe nas Américas é muito forte”, comentou o jornalista Guilherme Costa. A pugilista Caroline de Almeida venceu a medalhista olímpica Ingrit Valencia na campanha que lhe rendeu o ouro no Pan, enquanto a Bárbara Santos foi campeã derrotando a forte norte-americana Morelle McCane na final.

O jornalista Guilherme Costa também destaca a campanha das brasileiras no wrestling do Pan: “Ganhar duas medalhas de ouro nessa modalidade é um negócio gigantesco”. Laís Nunes levou o ouro após vencer a cubana María Santana na final, mas antes havia derrotado a americana Kayla Miracle, duas vezes vice-campeã mundial, na semifinal. A Giullia Penalber também ganhou a medalha de ouro batendo adversárias fortes. “São duas atletas que não vão chegar nas Olimpíadas como favoritas, mas com chances de medalha”, analisa Guilherme. 

Além dos desempenhos diante de adversárias fortes no cenário mundial em várias modalidades, o Pan continua sendo uma oportunidade de avaliar grandes competidoras atuando em alto nível – e testar seus limites. “Temos que falar da Rebeca Andrade, que levou cinco medalhas no Mundial deste ano e tals, mas o salto que ela fez no Pan foi o mais perto da ‘nota 10’ que a ginástica teve desde a inclusão deste novo código, em 2006. Então é um negócio gigantesco não só a conquista do ouro, mas a nota que ela tirou”, destaca Guilherme Costa. 

Na ginástica artística, as notas não variam propriamente de 0 a 10, mas o jornalista se referiu à primeira apresentação de Rebeca na prova do salto no Pan, em que ela foi simplesmente fantástica, com um salto tecnicamente perfeito que levou nota altíssima: 15.333. Como no segundo salto a nota foi 14.633, a brasileira terminou com a média de 14.983, que lhe garantiu o lugar mais alto do pódio no Pan. A competição não teve a presença da equipe de elite dos Estados Unidos. Ainda assim, Rebeca Andrade acabou sua participação na prova aplaudida de pé pelo público e por suas adversárias.

Mulheres para ficar de olho nos Jogos de Paris-2024

Beatriz Ferreira – Boxe

Ana Sátila – Canoagem slalom

Rebeca Andrade e Flávia Saraiva Ginástica Artística

Bárbara Domingos e conjunto – Ginástica rítmica

Rafaela Silva, Mayra Aguiar e Beatriz Souza – Judô

Rayssa Leal e Pâmela Rosa – Skate street

Tatiana Weston – Surfe

Laura Pigossi, Luisa Stefani e Bia Haddad – Tênis

Martine/Kahena – Vela 49er

Duda/Ana Patrícia – Vôlei de praia

Ana Marcela Cunha – Maratona aquática

Nathalie Moellhausen – Esgrima 

Laís Nunes – Wrestling

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