Foto: Staff Images Woman/CONMEBOL
A Libertadores Feminina foi criada em 2009, quando o Santos reuniu num mesmo time Marta, Cristiane, Érika, Maurine, Aline Pelegrino, entre outras craques que faziam parte da Seleção Brasileira e tinham chegado na final dos Jogos Olímpicos no ano anterior e da Copa do Mundo dois anos antes.
Com esse timaço, o Santos venceu com sobra a competição nacional em 2008 e 2009, que na época era a Copa Brasil e começou a pressionar a CBF para também cobrar a Conmebol a organizar uma competição de clubes continental no futebol feminino. A pressão funcionou e a primeira Libertadores Feminina foi disputada com 10 times durante duas semanas em 2009, em três cidades do Brasil. As Sereias da Vila, claro, foram campeãs. E Cristiane, a artilheira, com 15 gols em seis jogos.
Em 2019, o número de participantes aumentou para 16 clubes. Mas a Libertadores Feminina continua sendo disputada com praticamente o mesmo formato de praticamente 15 anos atrás: em só duas semanas e em apenas um país.
Apenas dois estádios para 32 jogos
A atual edição da competição está sendo disputada em duas cidades da Colômbia e em dois estádios. O Pascual Guerrero, em Cali, que recebeu 15 jogos em 12 dias. E ainda vai ser o palco da final e da disputa de terceiro lugar, no próximo sábado (21). O outro é o Metropolitano de Techo, em Bogotá, que sediará ao todo 15 jogos em duas semanas. Nenhum gramado, por melhor que seja, dá conta!
Poxa Conmebol, vamos olhar com mais carinho pra Libertadores Feminina. As meninas merecem uma estrutura melhor. Jogar semifinal nesse gramado ruim e com uma trave que se "desfaz" com um chute. Tem muita coisa a melhorar. #agloriaedelas #LibertadoresFEM
— Luis Felipe Pereira (@lfpereira95) March 18, 2021
Problemas com arbitragem e VAR só nas semifinais
São poucos jogos em apenas duas semanas e a arbitragem continua sem VAR. Em 2022, o uso do VAR só aconteceu na final e, neste ano, foi anunciado de última hora a arbitragem de vídeo a partir das semifinais. Para piorar, foram muitos os erros da arbitragem dentro de campo nesta edição do campeonato.
A Libertadores Feminina passa a ter o uso do Árbitro de Vídeo (VAR) nas semifinais da competição.
— Time do Povo (@povotime1910) October 17, 2023
Apesar da demora, começar na semifinal é um pequeno avanço, visto que em 2021 e 2022 foi implementado o uso do VAR apenas na final.
A arbitragem de vídeo de Corinthians x… pic.twitter.com/kp0Sk8mZcZ
Datas e horários ruins de jogos
Os horários dos jogos também não ajudam a engajar a presença de torcedores. Pela competição ser comprimida em duas semanas, muitas vezes os jogos acontecem à tarde, com pouca divulgação e ingressos que não são baratos. Para piorar, falta o mínimo de cuidado e planejamento para que as datas da Libertadores feminina não concorra com os principais jogos do masculino.
Hoje é dia de semifinal de @LibertadoresFEM e acho que vale gastarmos uns tuítes falando sobre a competição que a @CONMEBOL adora boicotar.
— Renata Mendonça (@renata_mendonca) October 17, 2023
1. O torneio existe desde 2009, está na 15ª edição e, pasme, tem quase o mesmo formato desde que começou. São DUAS SEMANAS de jogos e só. pic.twitter.com/tj2Tz67ag5
No último domingo, o América de Cali jogou em casa co quase na mesma hora da equipe masculina do América de Cali encarar um clássico contra o Deportivo Cali. E teve mais uma. O único time colombiano que chegou nas semifinais jogou contra o Palmeiras na terça-feira (17) à noite, bem na hora do jogo da Colômbia contra o Equador pelas eliminatórias da Copa do Mundo masculina. E olha que a torcida do America de Cali Feminino já colocou 37 mil pessoas na final do Colombiano de 2022 no mesmo estádio que está acontecendo a Libertadores.
Jogos longe das próprias torcidas
Em 2023, a competição sul-americana chega à 15ª edição. E o ideal seria ter jogos de ida e volta para que os times possam atuar diante das próprias torcidas. O futebol feminino vive uma crescente a ponto de a a maior competição sul-americana de clubes também ser uma oportunidade para os times engajarem os torcedores a comparecerem nos estádios.
E dá para almejar esse cenário em pleno 2023, ano em que a Copa do Mundo Feminina da Austrália bateu vários recordes de público e audiência. A Champions League feminina também virou uma grande atração neste ano, enchendo os estádios e ajudando a desenvolver a modalidade na Europa. O maior exemplo disso é o Barcelona, que foi bicampeão europeu e a Espanha, que sagrou-se campeã mundial na Oceania.
O próprio Corinthians Feminino vem acumulando vários recordes desse tipo. E o futebol sul-americano também tem acompanhado esse crescimento.
Em setembro, a final do campeonato peruano colocou 42.107 torcedores pra assistir o clássico entre Universitario e Alianza Lima. A torcida da capital peruana bateu o recorde que era do Corinthians na final do Brasileirão de 2022, com 41.070 torcedores. Então, o Corinthians foi pentacampeão brasileiro nesse ano e pegou o recorde de novo. Colocou 42.566 pessoas na Neo Química Arena na despedida do técnico Arthur Elias de um jogo em casa antes de assumir de vez a seleção feminina.
Agora, imagina essa atmosfera para os jogos decisivos de uma Libertadores Feminina?!
Premiação melhorou, mas e o resto?
É verdade que a premiação aumentou mais da metade em relação aos valores de 2022. Neste ano, a Libertadores Feminina vai premiar o campeão com mais de R$ 8 milhões (US$1,7 milhão), o vice com quase R$ 3 milhões (US$ 600 mil), o terceiro com R$1,2 milhão (US$ 250 mil). E cada time participante com cerca de R$ 260 mil (US$ 50 mil). Mas o investimento por parte da Conmebol não pode parar por aí.
A Libertadores é a maior competição de clubes da América do Sul e precisa ter a devida atenção e investimento para também ser grande na versão feminina. O futebol feminino cresceu e atingiu um patamar que não cabe mais nesse formato que pouco mudou desde 2009 e nesse descaso que nada ajuda a atrair o público.