Foto: Thais Magalhães/CBF
A seleção brasileira foi para a Copa do Mundo 2023 com a melhor preparação já realizada para o torneio. Os dois amistosos disputados em abril, com empate diante da Inglaterra (e derrota nos pênaltis) e vitória sobre a Alemanha, empolgaram os torcedores e deram confiança às jogadoras. No Mundial, porém, o Brasil só repetiu a competitividade mostrada contra as atuais finalistas da Eurocopa na goleada sobre o Panamá (4 x 0).
Após a estreia na Copa da Austrália e Nova Zelândia, a equipe verde-amarela não jogou bem na derrota para a França (2 x 1) e, nesta quarta-feira (02), voltou a ter uma atuação apática no empate sem gols contra a Jamaica, em Melbourne, na Austrália. Resultado que terminou com a eliminação brasileira ainda na fase de grupos, justamente na sexta e última Copa do Mundo disputada por Marta, a maior artilheira da competição com 17 gols, que acabou sem balançar as redes desta vez.
“É difícil falar em um momento desse. Não era, nem no meu pior pesadelo, a Copa que eu sonhava. Mas o povo brasileiro pedia renovação e ela está acontecendo. Peço para que continuem apoiando o futebol feminino. Eu termino aqui, mas para elas continua”, disse Marta, muito emocionada após a partida, em entrevista à TV Globo. “Estou muito grata pela oportunidade que tive de jogar mais uma Copa e muito contente com todo o crescimento que vem acontecendo no futebol feminino no Brasil e no mundo”, completou.
"A Marta acaba por aqui. Não tem mais Copa pra Marta. Eu tô muito grata pela oportunidade que tive de jogar mais uma Copa, e muito contente com tudo isso que vem acontecendo no futebol feminino no Brasil e no mundo".pic.twitter.com/gggpvbvjC8
— Dibradoras (@dibradoras) August 2, 2023
A frustração por uma eliminação precoce como essa é nova para a Camisa 10, que disputou a primeira Copa em 2003. Isso porque a seleção brasileira feminina não era desclassificada na primeira fase desde 1995.
No Mundial de 2019, o Brasil também terminou em terceiro do grupo, atrás de Itália e Austrália. Mas aquela edição contou com 24 seleções e as quatro melhores terceiras colocadas também avançaram para as oitavas de final. Neste ano, o número de participantes aumentou para 32, modificando a classificação para apenas as duas primeiras de cada grupo. O que não minimiza a frustração por não conseguir avançar da primeira fase em um grupo com Jamaica e Panamá.
Com um elenco renovado, o Brasil empolgou pelo futebol envolvente e ofensivo que apresentou na estreia contra o Panamá. Depois, porém, o desempenho na derrota para a França acendeu um sinal de alerta. Ainda assim, a adversária era favorita. A classificação passou a depender de uma vitória sobre a Jamaica. A missão não era nem de longe tão difícil. A adversária está apenas no seu segundo Mundial, sendo que, quatro anos atrás, o Brasil venceu as Reggae Girlz com tranquilidade, por 3 x 0.
Desta vez, a equipe brasileira não apresentou um futebol envolvente para abrir espaço na retranca montada pelas jamaicanas. A seleção comandada por Pia Sundhage até ficou com a bola a maior parte do jogo (73% de posse), mas errou muitos passes e se precipitou na hora de finalizar nas poucas oportunidades que chegou realmente com perigo ao gol adversário. O Brasil totalizou 18 chutes na partida, sendo oito ao gol. Mas em nenhum momento levantou a torcida para valer com aquela sensação de bola que quase entrou.
Pia fez duas mudanças no time que começou o jogo contra a Jamaica. Marta e Kathellen fizeram o primeiro jogo delas como titulares, deixando a jovem zagueira Lauren e as atacantes Geyse e Bia Zaneratto no banco. Mas o Brasil se mostrou pouco criativo diante da necessidade de fazer gol contra uma defesa bem fechada. Da mesma forma, a técnica Pia deixou a desejar quanto às modificações na equipe. A seleção voltou para o segundo tempo com apenas uma alteração: Bia Zaneratto entrou no lugar de Ary Borges.
A atacante do Palmeiras até entrou bem no jogo, mas o Brasil continuou afobado, errando muitos passes na construção das jogadas e sem conseguir criar um volume ofensivo interessante para entrar na área com chances mais reais de alterar o placar. Pia foi mexer novamente no time apenas aos 34 minutos do segundo tempo. Luana, Marta e Antônia saíram para a entrada de Geyse, Andressa Alves e Duda Sampaio. Modificação que deixou a seleção mais ofensiva, mas que poderia ter sido realizada antes.
Nos últimos minutos, Debinha ainda recebeu com liberdade pela esquerda e entrou na área com perigo, mas chutou em cima da goleira. E Andressa Alves tentou em cobrança de falta, que também acabou com defesa da Spencer. Aos 49, a árbitra Esther Staubli apitou o fim do jogo. A alegria pela classificação inédita à segunda fase do lado jamaicano se contrastou com o choro brasileiro pela terceira eliminação do país nas oitavas de final em Mundiais femininos (também caiu de forma precoce nas edições de 1991 e 1995). O choro mais dolorido, claro, foi da Rainha Marta, que ainda consolou companheiras que estão começando suas trajetórias, como a zagueira Lauren, de 20 anos.
Após uma eliminação dolorida, mesmo que precoce diante do potencial que tinha a seleção brasileira nesta Copa do Mundo, é importante frisar a importância de manter e melhorar os avanços conquistados. Como disse a jornalista Fernanda Gentil: “Com a estrutura é difícil, sem ela é impossível”.
Em nota, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, confirmou a continuidade de investimento no futebol feminino: “Faremos os investimentos necessários para que o Brasil venha nos Jogos Olímpicos, assim como nas próximas competições, com ainda mais apoio em busca dos melhores resultados”.
Foi um jogo horrível, decepcionante, completamente abaixo do que elas são capazes de fazer. Uma mistura de erro individual com falta de eficiência. Mas ameaçar a estrutura básica que elas conquistaram depois de tantos anos a bons resultados é um desserviço. Com a estrutura é… https://t.co/uxvDZiPlQt
— Fernanda Gentil (@Fernanda_Gentil) August 2, 2023
FICHA TÉCNITA
JAMAICA
Spencer; Blackwood, A. Swaby, C. Swaby, Wiltshire; Sampson, Spence, Primus; Brown (Washington), Matthews (Cameron), Shaw.
Técnico: Lorne Donaldson
BRASIL
Lelê; Antonia (Geyse), Rafaelle, Kethellen, Tamires; Luana (Duda Sampaio), Keronin, Adriana, Ary Borges (Bia Zaneratto); Debinha e Marta (Andressa Alves).
Técnica: Pia Sundhage
Arbitragem: árbitra Esther Staubli e auxiliares Katrin Rafalski e Susann Küng.
Campanhas do Brasil em cada Copa feminina
2023 – Primeira fase
2019 – Oitavas de final
2015 – Oitavas de final
2011 – Quartas de final
2007 – Vice-campeã
2003 – Quartas de final
1999 – 3º lugar
1995 – Primeira fase
1991 – Primeira fase