Jogar, apitar, narrar, treinar, gerir. Ser mulher e desempenhar qualquer uma dessas funções no ambiente esportivo causa estranhamento e incômodo para muitas pessoas. Mas essa luta – que começou há mais de 100 anos quando o futebol começou a ser praticado no Brasil – vem abrindo espaço e possibilitando a participação feminina no esporte. E, nesse sentido, a Copa de 2022 tem sido um marco, com árbitras estreando, mulheres narrando e comentando, e desempenhando também outros papéis.
Em países europeus, a presença feminina em cargos de treinadoras e dirigentes já é um pouco mais comum, principalmente no comando de equipes femininas. Mas em Copas do Mundo masculina ainda é muito raro ver mulheres presentes no campo. Por isso, quando encontramos uma ou outra, já vamos logo atrás para saber quem são.
No caso da Croácia – adversária do Brasil nas quartas-de-final desta sexta-feira -,quem viu a campanha em 2018 da atual vice-campeã mundial, deve se lembrar do rosto feminino que já chamava a atenção na comissão técnica à época. Na Copa do Mundo da Rússia, a presença de uma loira no banco de reservas da Croácia durante o primeiro jogo da equipe contra a Nigéria.
Iva Olivari é o nome dela, que também está presente na Copa do Mundo do Catar. Ex-tenista, ela ocupa o cargo de gerente da seleção croata, cuidando da organização e do planejamento da equipe fora do campo. Iva tem 51 anos e trabalha desde 1992 na Federação Croata de Futebol, ocupando o cargo de gerente desde 2016.
“O fato é que vivemos em uma comunidade bastante tradicional, onde o futebol é considerado um esporte predominantemente masculino. Mas eu há muito tempo percebi que a única maneira de mudar isso era arregaçar as mangas e provar com trabalho. Acho que hoje, no ambiente em que estou, sinto-me totalmente igual, embora o caminho para isso tenha tido muitos espinhos”, disse Iva ainda em 2018.
Histórico e preconceito
No Brasil, registra-se que o futebol feminino chegou por volta da década de 20 e seguiu pelos anos 30 e 40 praticado apenas como lazer, aparecendo apenas em eventos beneficentes e espetáculos que atraiam grande quantidade de público.
Em 1941, o então presidente Getúlio Vargas proibiu a prática de alguns esportes para as mulheres, dentre eles, o futebol. O impedimento seguiu com o golpe militar de 1964 e somente nos anos 80 é que a pratica foi reconhecida oficialmente.
O preconceito e a proibição atrasaram a evolução do futebol feminino no país, que ainda sofre com a falta de apoio, investimento, visibilidade e desenvolvimento. Afinal, são 40 anos de atraso, são décadas que impediram a presença e o aperfeiçoamento das mulheres dentro do esporte mais amado do Brasil.
Como consequência desse preconceito e desse atraso, são poucas as mulheres que também aparecem no cenário do comando técnico do futebol. Nem como treinadoras, nem como preparadoras, ou mesmo como membro de uma comissão técnica. É muito raro vê-las ocupando essas posições. E essa ausência de mulheres no meio esportivo não acontece só por aqui, infelizmente.
Diante desse cenário, a Fifa mudou suas regras e passou a ter cotas para a inclusão de mulheres nesse meio, pelo menos nas competições de futebol feminino. A norma passou a valer a partir do Mundial Sub-17 em 2016 e exige pelo menos uma mulher na comissão técnica e uma médica viajando com a equipe.
Se ainda precisamos quebrar muitas barreiras para comandar equipes femininas, imagine dentro de equipes masculinas? Iva não é treinadora, nem auxiliar técnica, mas a sua presença numa competição desse tamanho significa muito para abrir caminho a todas as mulheres que sonham e se capacitam para ocuparem cargos diretivos dentro do futebol.