CBF falha na preparação para a Copa e expõe descaso com futebol feminino

O ano é 2022, mas vemos o filme se repetir como se ainda estivéssemos na década de 90. Campeã recentemente da Copa América pela oitava vez e com vaga garantida na Copa do Mundo de 2023 (e Olimpíada de Paris, em 2024), a seleção brasileira feminina continua refém do descaso da CBF.

A próxima data Fifa, de 29 de agosto a 6 de setembro, está logo aí e, até a manhã desta quarta-feira (24), não havia confirmação de amistosos para o time da técnica Pia Sundhage. Em uma de suas coletivas neste ano, a comandante falou sobre a importância de a seleção enfrentar as melhores equipes do mundo para elevar o patamar competitivo das atletas, colocar em prova a condição física e técnica das representantes do país, mas a grande verdade é que o desejo ficou no passado – e no discurso.

O Brasil chegou a jogar neste ano com equipes Top 15 no ranking da Fifa (perdeu para a Dinamarca, hoje 17ª, mas na época 15ª colocada, por 2 a 1 e para a Suécia, atual terceira melhor, antes segunda, por 3 a 1). Quase no final da tarde de hoje, a entidade anunciou que o adversário da próxima semana é a África do Sul, 54ª colocada.

Como se não bastasse o tempo perdido com a pandemia da Covid-19, que impactou diretamente na renovação do time e na transição daquela geração vitoriosa de Marta (hoje machucada), Formiga (aposentada da seleção) e Cristiane (não mais convocada por Pia) para a que esteve na Colômbia disputando a Copa América 2022, a própria entidade contribui com a estagnação.

O suposto compromisso da CBF com a modalidade contrasta com o momento que o futebol de mulheres vive por aqui e, principalmente, ao redor do mundo. Esta edição da Copa América que o Brasil venceu de forma invicta e sem ser vazado (em todas as outras o time levou gol) teve pela primeira vez todas as suas partidas exibidas em rede nacional, na TV aberta e fechada.

A Euro Feminina vencida de forma inédita pela anfitriã Inglaterra contou com uma surra de recordes quebrados, inclusive de investimento e retorno. E logo após o fim do torneio, o time europeu anunciou amistoso com os Estados Unidos para 7 de outubro, em Wembley, e a torcida esgotou os ingressos em três horas. É gritante a diferença de comprometimento da Federação Inglesa com o desenvolvimento da sua seleção.

Por mais que afirme que esteja empenhada em alavancar o futebol feminino nacional, a CBF não age como tal. Não é mais possível aceitar discursos sem ações, as migalhas que um dia alimentaram, hoje humilham e revoltam.

As seleções de base também são reféns da falta de um calendário competitivo para as disputas dos Campeonatos Sul-Americanos e Mundiais. A Sub-17  e a Sub-20 foram campeãs do continente. Agora, as garotas comandadas por Jonas Urias estão em uma semifinal de Mundial Sub-20 após 16 anos, mas o caminho do time até aqui também contou com a falta de planejamento por parte da CBF.

Depois do Sul-Americano, o time Sub-20 jogou contra equipes adultas brasileiras e fez jogos-treino, mas em termos de amistosos, só jogou uma vez contra a Nova Zelândia – isso porque a CBF não agendou outros jogos.


E não é mais tolerável que o futebol feminino seja escanteado a cada troca de comando na Confederação Brasileira de Futebol. Em menos de um ano, mudou a presidência e a gestão que cuida da modalidade dentro da entidade.

Entram pessoas boas que entendem do assunto e sabem como provocar a mudança, mas quem toma as decisões importantes segue fazendo pouco caso do futebol feminino. O reflexo está no planejamento da seleção brasileira, no calendário, no principal campeonato do país para elas (o Brasileirão, que nesta edição terá VAR apenas nas semifinais e finais) e claro, nos resultados, que em campo batalham para acontecer, mas que fora dele estão sempre saindo atrás no placar.

Para o Brasil conseguir competir com as principais seleções do mundo a ponto de voltar a uma semifinal de Copa, por exemplo (algo que não acontece desde 2007), o mínimo que se precisa fazer é dar condições a essas mulheres de terem uma preparação digna. Agendar amistosos em cima da hora contra adversários de pouca competitividade definitivamente não é a melhor estratégia.

Pedimos um posicionamento à CBF com detalhes sobre a demora na convocação da equipe principal na Data Fifa deste mês e nos foi passado que o assunto será tratado na coletiva de convocação do time, que acontece nesta sexta-feira (26), às 15h30.

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