Quem está acompanhando o Sul-Americano sub-17 já se deu conta que o Brasil tem uma atacante muito promissora vestindo a camisa 9. Johnson é artilheira isolada da competição, tem 9 gols e seu futebol aos 16 anos de idade já encanta o mundo. Revelada pelo Toledo, do Paraná, ela já atrai propostas de clubes brasileiros e europeus.
Pela lógica que estamos acostumados a ver no futebol masculino, um talento desses não ficaria muito tempo num clube de menor expressão. Os craques que surgem em equipes modestas como o Toledo logo recebem propostas melhores e optam por ter uma estrutura melhor para desenvolver seu futebol. O futebol feminino tinha tudo pra seguir a mesma lógica, ainda que com cifras mais modestas, já que o mercado ainda está se desenvolvendo. Mas, no caso de Johnson, é improvável que ela deixe o Toledo antes de 2025.
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Isso porque o contrato profissional que o clube assinou com ela no início deste ano inclui uma multa rescisória milionária. O Toledo pede 10 milhões de dólares (cerca de 54 milhões de reais) aos times europeus que quiserem contratar Johnson e 2 milhões de dólares aos times brasileiros que quiserem contar com a atacante. Valores exorbitantes no contexto do futebol feminino.
Para se ter uma ideia, a maior transação do futebol feminino foi a de Pernille Harder, uma das melhores jogadoras do mundo, que foi contratada pelo Arsenal após ter feito uma carreira vitoriosa no Wolfsburg. O valor pago foi 300 mil libras (cerca de 2 milhões de reais). Isso por uma jogadora com a trajetória consolidada, já na melhor prateleira do futebol mundial.
É difícil imaginar que valores assim seriam pagos por uma atleta de 16 anos, ainda uma aposta no futebol. Uma jogadora que ainda está em formação e precisaria da melhor estrutura possível para desenvolver todo o seu potencial e chegar pronta para enfrentar os desafios do futebol profissional. Johnson tem talento para vestir a camisa dos principais clubes do Brasil e do mundo, mas isso não deve acontecer tão cedo.
HARDER É DO @ChelseaFCW! A craque dinamarquesa de 27 anos assinou com o time inglês e defenderá o clube por 3 anos. A jogadora defendia o @VfLWob_Frauen e, apesar dos valores não serem confirmados, a transação é citada como mais alta da história, c/ valores perto de 350 mil euros pic.twitter.com/cyArxuatSx
— Dibradoras (@dibradoras) September 1, 2020
Em contato com as Dibradoras, Jaime Lira, técnico do Toledo e responsável pelo contrato de multa milionária com Johnson, explica que os valores astronômicos são para “proteger a jogadora dos tubarões”.
“O objetivo é prendê-la no clube. Tentar protegê-la dos tubarões. Não preciso de dinheiro. A multa é para proteger a integridade da jogadora. O que mais tem no futebol feminino são aproveitadores”, afirmou.
Jaime viu Johnson jogar futsal numa competição escolar em Londrina, onde ela morava, e a convidou para treinar no clube, sediado na pequena cidade de Ouro Verde, a 15km de Toledo. A menina era de Londrina, começou a jogar futebol de campo com 15 anos e já mostrou seu talento e seu potencial. Foi destaque do Brasileiro Sub-18 de 2020 (edição realizada em janeiro de 2021) e chamou a atenção da técnica da seleção brasileira sub-17.
Até então, ela recebia apenas uma ajuda de custo de 500 reais do Toledo e morava no alojamento. No início desse ano, porém, assinou o contrato profissional com a multa milionária. Esse contrato rende a ela apenas um salário mínimo por mês, mas Jaime garante que ela recebe muito mais do clube.
“A reforma da casa da família dela, somos nós que estamos fazendo. Ela tem tudo o que ela precisa aqui. O que ela ganha é muito dinheiro, não é pouco. O valor é baixo em carteira mesmo, o mínimo possível, que é pra ver as especulações. Mas os valores que gastamos com ela são astronômicos. Ela ganha o quanto ela pedir”, disse o técnico.
Alguns clubes brasileiros já tentaram levá-la do Toledo. No ano passado, a Ferroviária tentou e ofereceu um salário bem maior do que o que ela ganha hoje. Segundo Jaime, Johnson não quis ir. A reportagem tentou contato com o pai da jogadora, mas ele não respondeu as mensagens.
Jaime concorda que outros clubes brasileiros, como Internacional, Ferroviária e São Paulo, por exemplo, têm uma estrutura melhor do que o Toledo para desenvolver a base do futebol feminino. Mas reforça que Johnson quer ficar ali. E considera importante a presença dela no estado para inspirar outras meninas da região.
“Ela não quer sair daqui. Ela valoriza outras coisas, que não o dinheiro. Ficando aqui, no estado dela, ela pode difundir o futebol feminino para muitas outras meninas”, diz Jaime.
O Sul-Americano sub-17 está na segunda fase, e a seleção brasileira tem goleado em todas as partidas, contando muito com o talento de Johnson no ataque. O próximo jogo do Brasil será contra o Paraguai na quarta-feira às 18h30 – com transmissão do Sportv.