A paranaense Aline Rocha já tem o seu nome registrado na história do esporte brasileiro. Ela foi a primeira mulher brasileira a disputar uma edição das Paralimpíadas de Inverno, ao competir no esqui cross-country sentado em 2018, em PyeongChang. Nos Jogos de Pequim, que vão até o próximo domingo (13), ela é a única mulher entre seis atletas do país. Aline tem a sua segunda participação nos Jogos de Inverno, e foi a única mulher a defender o país na competição até agora.
Na edição de 2022 dos Jogos, em Pequim, ela conquistou o segundo melhor resultado do Brasil no torneio, ao terminar a prova longa na sétima posição. O melhor resultado é de Cristian Ribera, que, na longa distância, foi o sexto colocado. Enquanto a prova masculina tem 18km, a feminina tem 15km de extensão. As provas do cross-country são realizadas em Zhangjiakou, a 180km de Pequim.
“Foi bastante difícil. A subida foi cruel. Doeu tudo. Durante a prova, atingi 46km/h, uma velocidade bastante alta, isso porque ainda tinha um ventinho contra. Eu acho que eu sofri um pouquinho mais do que eu esperava, mas estou feliz com a minha prova e na de média distância espero ir ainda melhor”, avaliou a atleta. Esta foi só a estreia de Aline, que competiu durante a madrugada (em horário de Brasília) deste domingo (6). Ela volta às montanhas chinesas nos dias 8 de março, para a prova de sprint, e 12, para a média distância (7,5km).
Aline terminou a prova em 50min45s7, a cerca de sete minutos da medalhista de ouro, a chinesa Hongqiong Yang. A prata ficou com Oksana Masters, dos Estados Unidos. A China ainda levou o bronze com Panpan Li. “As chinesas são sempre uma surpresa. Elas participaram da Copa do Mundo da Finlândia e surpreenderam, já na primeira competição”, explicou a brasileira.
A atleta paranaense foi também uma das porta-bandeiras da delegação brasileira na cerimônia de abertura, ao lado de Christian Ribera. Ela já tinha sido a responsável por levar o pavilhão na abertura dos Jogos de PyeongChang, em 2018. “Foi uma homenagem em PyeongChang ao Dia Internacional da Mulher, já que a cerimônia ocorreu em 8 de março. Eu chorei muito, um misto de emoção, não sei explicar direito, surpresa, alegria. Quando a gente está ali na área do cerimonial passa aquele filme na cabeça e a gente percebe que aqueles quatro anos do ciclo de treinamentos e dedicação valeram a pena e a recompensa chegou”, relembra.
Bom dia, Brasil.
Boa noite, Pequim.Muito feliz em anunciar a dupla de porta-bandeiras do @cpboficial na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Inverno @Beijing2022.
Os atletas do cross-country Cristian Ribera e Aline Rocha serão nossos representantes. pic.twitter.com/ECQ8WYISeq
— Mizael Conrado (@Mizaelconrado) March 2, 2022
Aline nasceu na cidade de Pinhão (PR), em fevereiro de 1991. Ela começou no esporte paralímpico quatro anos após um acidente automobilístico, que a deixou paraplégica. Após praticar atletismo e disputar os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016, migrou para o esqui cross-country em janeiro de 2017.
Por ser de um país tropical onde não há neve suficiente para treinar para competições de inverno, Aline precisa adaptar os treinos. Ela utiliza o rollerski, que conta com um sistema de rodas para simular a função dos esquis, e um skate de montanha para possibilitar o treino em lugares irregulares.
Além disso, é importante prestar atenção em detalhes como a proteção da pele de atleta em locais que possam ter contato com a neve, mas onde ela não tenha sensibilidade térmica, para evitar lesões ou queimaduras. “Atualmente o fator mais relevante é o próprio contato com a neve e suas variações de acordo com a temperatura ou se é artificial/natural, dentre outras diferenças”, explica o treinador Fernando Alves.
Para ter mais prática antes da Paralimpíada, Aline treinou nos Estados Unidos, Finlândia, Suécia, Noruega e Itália, onde fez a preparação final antes da viagem para a China. “Estar tanto tempo na neve foi espetacular, fez muita diferença.”
Neste ano, ela já conseguiu medalhas de bronze no sprint e na média distância na Copa do Mundo da Ostersund 2022, na Suécia, e na Copa do Mundo de Planica em 2021. Nos Jogos de PyeongChang-2018, ela terminou a prova de longa distância (que, na época, tinha 12km de extensão) na 15ª posição. Na média distância (à época, com 5km), Aline ficou em 12º – seu melhor resultado até então. No sprint, ela terminou em 22º.
“A prova sprint, para mim, é a mais difícil. É a prova que eu tenho menos velocidade. A minha maior expectativa é para a média distância. Agora é descansar para chegar bem na próxima prova”, afirmou a atleta. Já pensando na média distância, prova em que exibe o seu melhor desempenho, ela garante que vai chegar forte para brigar por uma boa colocação. “Como a prova era mais longa, eu tinha de ir um pouco mais controlada porque subir cinco vezes é bastante difícil. Na prova de média distância vou tentar ir um pouco mais forte nas subidas desde o começo.”
Aline volta a competir às 23h de terça-feira (8), nas classificatórias do sprint. Caso avance, as semifinais e finais serão disputadas horas depois, a partir da 1h do dia 9. Por fim, a disputa da média distância será no sábado (12), a partir das 1h30. Todos os horários são de Brasília. Todas as provas serão exibidas ao vivo no SporTV2.