Gabi Portilho é decisiva na temporada do Corinthians

Pela quinta vez consecutiva o Corinthians está na final do Campeonato Brasileiro Feminino e pode se tornar o primeiro time tricampeão da competição. Com a vantagem de 1 a 0 conquistada no primeiro jogo diante do Palmeiras, as Brabas do Timão podem até empatar a partida da volta que ficam com o título.

Não há muito o que dizer além do que já vem sendo falado há alguns anos sobre esta equipe de Arthur Elias. Sólida, competitiva, acostumada com decisões, a cada temporada procurava um adversário à altura. Desta vez parece ter encontrado: o próprio rival da final.

Se o Corinthians liderou o campeonato com 84% de aproveitamento, perdeu apenas uma vez e foi impecável no mata-mata, o Palmeiras não fez diferente, chegando às quartas de final invicto, dono do melhor ataque e dividindo a melhor defesa do torneio com o seu rival. E vale lembrar que os dois times perderam peças importantes no meio do ano.

Gabi Nunes – a maior artilheira da história do Brasileirão com 55 gols – e Giovanna Crivelari saíram do Corinthians rumo à Europa, dois pilares ofensivos de um time que já ultrapassou a marca de 100 gols na temporada. Sem tempo de sentir falta das duas, uma outra atacante reluziu no Parque São Jorge.

Talento nato

É injusto dizer que Gabi Portilho só apareceu no time após as saídas das suas colegas de ataque. Em sua segunda temporada no Corinthians, ela já havia mostrado ser peça importante no time de Arthur Elias, sempre entrando bem e fazendo gols. Mas, em 2021, especialmente no pós-Olimpíada, a atleta natural de Brasília (DF) cresceu como nenhuma outra.

“(A Portilho) é uma atleta que realmente vem se destacando muito nos jogos, uma menina que eu conheço há muitos anos, categoria de base da seleção brasileira, saiu um pouco para fora do país, passagem por alguns clubes aqui. Sempre teve esse um pra um muito forte, muito poderoso. É uma jogadora que identificou que poderia nos ajudar muito pela capacidade que ela mostrou, mas sem dúvida se desenvolveu muito com o nosso trabalho, isso fica muito claro vendo a Portilho antes de chegar no Corinthians e a Portilho agora, depois de dois anos se dedicando muito nos treinos, se cuidando demais. É uma jogadora muito dedicada, muito inteligente também”, explica o técnico Arthur Elias.

“Estou vivendo um momento muito bom, podendo desempenhar sempre o meu melhor, colocando em prática as minhas melhores qualidades, aprimorando, evoluindo e buscando a melhora naquilo que preciso. Cresci e venho crescendo muito aqui dentro do Corinthians e fico muito feliz por isso. Fazer história, ganhar títulos com essa camisa é indescritível”, conta a atleta de 26 anos.

Créditos: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Gabrielle Jordão Portilho começou no futebol cedo, ainda criança. Desde nova, puro talento. “O início foi de muitos obstáculos e desafios que toda menina enfrentava e enfrenta até hoje. Jogava na rua com os meninos, jogava na escola, aí com 10 anos tive a oportunidade de jogar meu primeiro campeonato escolar, fui destaque da competição e então depois disso as coisas começaram a acontecer. Consegui uma bolsa de estudos na melhor escola de Brasília na época, disputei várias competições escolares e junto jogava na escolinha do Fluminense onde participei de todas as competições de futsal que tinha em Brasília (risos), até que com 14 anos tive a oportunidade de sair de Brasília e ir para Joinville, e de lá cheguei ao Kindermann, onde realmente vi meu sonho se tornando realidade, até porque não fiquei só no futsal, passei a jogar campo também. Depois disso, decolei (risos)”, brinca a atacante.

Foram três temporadas no clube do Sr, Salézio Kindermann para na sequência ter a primeira passagem no São José. Em 2015, Portilho se transfere para o Madrid CFF, da Espanha, e enfrentou um dos momentos mais difíceis da sua carreira.

“Foi um período de muita experiência e aprendizado em todos os termos. Primeiro clube fora do país que eu joguei, tive que me adaptar em muitas coisas dentro e fora de campo. Lá também tive a lesão grave de LCA (quase um ano parada para recuperação), onde foi um período difícil, doloroso, mas que me trouxe muito aprendizado em termos de força, paciência, resiliência. Com certeza, mesmo não sendo uma passagem muito boa pela Espanha principalmente pela lesão, foi um período que me moldou em ser melhor como pessoa e como atleta, tudo faz parte de um processo positivo”, diz a jogadora.

Créditos: Instagram oficial @gaabiportilho

No seu retorno ao Brasil, Gabi vai para o São José pela segunda vez, passa o ano de 2018 por lá e no seguinte se transfere para o Audax. Ali surge um convite desafiador, e a atleta decide aceitar.

“Foi um grande desafio na verdade, uma experiência muito boa. Na época fui com o objetivo de ajudar a equipe do 3B (da Amazônia) a acabar com uma grande hegemonia do Iranduba que até então havia vencido todos os estaduais (desde 2011). Graças a Deus o objetivo foi alcançado de uma maneira incrível. Fora que lá possui uma estrutura incrível, tudo do bom e do melhor. Só tenho gratidão ao Bosco (presidente do clube)”, explica a atacante, que fez um dos gols que garantiu o 3B na final do Amazonense de 2019, ano do título inédito.

Dedicação e reconhecimento

Com o objetivo alcançado no norte do país, chega o convite do Corinthians. Naquele momento, o clube era o atual campeão Paulista e tinha perdido o Brasileirão para a Ferroviária. Nas redes sociais, a atleta foi apresentada como “veloz, habilidosa e que sabe bem como fazer gols”.

“Como toda atleta que chega aqui a gente tenta deixar o máximo confortável possível para a jogadora desempenhar aquilo que sabe e depois a gente ir colocando os nossos elementos, as nossas ideias, aos poucos a atleta ir assimilando aquilo com consistência. Hoje a Portilho se identifica muito com a nossa maneira de jogar, entende muito bem todos os momentos da partida, posicionamento que ela tem que estar, o momento que é da função dela de usar a capacidade que ela tem de um contra um. Ela tem melhorado muito nas decisões do terço final, tem marcado muito bem. Uma jogadora que, para mim, pode aumentar ainda o número de gols, mas já tem feito gols decisivos”, pontua Arthur Elias.

Créditos: Instagram oficial @gaabiportilho

Se o Corinthians chega à grande final com a vantagem do empate, muito é por conta da camisa 18. Foi dela o gol da vitória no Allianz Parque por 1 a 0 em falta cobrada por Vic Albuquerque em um momento da partida em que estava difícil furar a marcação do Palmeiras.

“Não tenho dúvida nenhuma que ela ter participado de outras decisões fez com que ela chegasse também super preparada para esse momento e foi muito feliz, nos ajudou demais com um golaço que ela fez na primeira partida da final, um jogo difícil, com poucas chances dos dois lados, uma jogada de bola parada que a gente ensaiou, mas mais do que a jogada ensaiada, o que decidiu foi a qualidade da Vic na batida e dela para encobrir a goleira do Palmeiras”, enaltece o comandante.

“É um grande clássico, um jogo histórico, estamos trabalhando muito forte para chegar no domingo e ir em busca de mais uma vitória, agora na nossa casa. Sabemos que vamos enfrentar uma equipe muito qualificada, mas estamos confiantes no trabalho que estamos realizando e na preparação que estamos tendo. Aquele friozinho na barriga sempre vai existir, ainda mais diante de um jogo tão importante como esse”, afirma Gabi.

Já são dez gols com a camisa do atual clube, quatro somente nesta temporada, além de cinco assistências em 2021. Também são dois títulos, um no Paulista e um no Brasileiro na temporada passada. São muitos os motivos que mantém a atleta motivada a aumentar esses números.

Créditos: Marco Galvão/Agência Corinthians

“Sempre me cobro muito pela evolução constante a cada dia para conseguir desempenhar aquilo que eu sei e que eu posso, para assim alcançar meus sonhos e objetivos, que são muitos (risos), começando por esse título de domingo. Quero seguir trabalhando duro para conquistar cada vez mais com essa grande camisa que é a do Corinthians. Meu sonho é comprar uma casa para a minha mãe, ajudar meu pai”, explica Portilho.

Basta uma passada rápida pelas redes sociais de Gabi para ver o quanto a família faz parte das suas conquistas e batalhas. “Minha família sempre me apoiou, de todas as formas, mesmo com muitas dificuldades sempre fizeram o máximo possível para que eu seguisse sempre adiante, principalmente meu pai. A maior certeza que tenho é que para se chegar em bons lugares é necessário termos pessoas que nos ajude e eu só tenho a agradecer pelas pessoas que Deus colocou em meu caminho e que ainda continua colocando até hoje, até mesmo aquelas que não foram boas, mas que me ajudaram a crescer”, pontua a atacante. “Uma conquista fora de campo que marcou minha vida foi conseguir comprar meu primeiro carro para ajudar minha mãe, isso foi gratificante demais”, completa.

Eleita a melhor jogadora da partida de ida da final, Portilho aos poucos se acostuma com o “assédio” da imprensa e também da torcida. Entre um treino e outro, a camisa 18 valoriza o tempo que tem para “desligar” do campo. “Nas horas vagas eu procuro descansar de forma geral, sou muito caseira, gosto de assistir séries, ver filmes. Em questão de concentração eu costumo sempre mentalizar lances do jogo que eu posso realizar, isso me ajuda muito”, explica a atacante.

Ciente da marcação pesada que terá das adversárias, Gabi Portilho garante que enfrenta isso no próprio CT. “Atualmente as jogadoras mais difíceis são as nossas próprias zagueiras e laterais, treinar contra elas é bem difícil (risos)”, brinca a atleta.

O título da temporada 2021 do Brasileirão Feminino será decidido neste domingo (26), às 21h. O jogo entre Corinthians e Palmeiras terá transmissão da Band, do SporTV, da Rádio Band News FM e do Tik Tok da página oficial do clube e também do Desimpedidos.

Compartilhe

Facebook
Twitter
Pinterest
LinkedIn

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *