Esse texto foi escrito para a Folha de S. Paulo. Você confere a coluna na íntegra aqui.
Há algum tempo, venho digerindo as palavras que escorrem por esse texto junto com as lágrimas no meu rosto. O choro dos últimos dias é de impotência, de desespero, de raiva, de uma dor que não é diretamente minha, mas também me pertence.
Dirijo essas palavras à mulher que ousou denunciar o homem mais poderoso do futebol brasileiro. Eu não te conheço, não sei seu nome, mas imagino que já tenhamos nos cruzado pela CBF. Como na oportunidade em que estive lá para uma entrevista exclusiva com Caboclo para falar da mudança de postura da CBF com relação ao futebol das mulheres. Ele se dizia um apreciador das minhas colunas e espero que esteja lendo essa também. Não há bem que Caboclo tenha feito ao futebol feminino que apague as graves acusações que o envolvem agora.
Eu imagino que você esteja frustrada. E que talvez até tenha se arrependido de ter feito essa denúncia. Daquele 4 de junho para cá, só consigo pensar no inferno que sua vida se tornou. Mas você não titubeou. Até mesmo a tentativa desesperada de Caboclo de oferecer R$ 12 milhões para você se calar não funcionou.
A sua denúncia, aliás, estimulou duas outras vítimas a também revelarem comportamentos abusivos do presidente da CBF.
Eu queria te dizer que você não está sozinha. Porque quando uma mulher tem coragem de gritar sobre uma situação de violência, ela acorda uma multidão.
Esse grito morreu entalado na garganta de muitas de nós no passado. Porque o silêncio também mata. E cada um que assiste a uma situação de assédio ou abuso e se cala, passa a ser conivente. Você deve ter encontrado muitos na CBF que não ecoaram o seu grito. Que na oportunidade de fazerem algo, escolheram a omissão.
Mas a sua coragem não vai ser em vão. Não deixaremos que seja. Você deve ter acompanhado que a seleção feminina de futebol ficou do seu lado. A faixa histórica exibida em rede nacional no dia 11 de junho com os dizeres “Assédio Não” é a mensagem que a gente precisa repetir agora.
Não é mais tempo de se conformar. Você mostrou para as mulheres que nenhuma de nós precisa aceitar violências por um emprego, por um casamento ou por um status social. Você se levantou contra uma das entidades mais poderosas e machistas do país e, claro, não seria fácil lidar com as consequências disso.
Eu espero que você esteja bem. Que esteja forte. Que não tenha arrependimento, só orgulho. A mudança é mais lenta do que gostaríamos, mas ela vai vir – e vai vir por causa de mulheres com a sua coragem. Obrigada por não ter se calado.