A meio-de-rede Carol Gattaz joga em alto nível a pelo menos 20 anos e, por incrível que pareça, hoje, aos 40 anos, vive seu auge no esporte. Central do Minas, bicampeã da Superliga feminina, ela finalmente realizou em 2021 o sonho de disputar, pela primeira vez na carreira, os Jogos Olímpicos.
E ela definitivamente não foi a passeio. Seu entrosamento de anos com a levantadora Macris, do Minas, tem rendido frutos nos jogos da seleção, e Carol terminou a partida contra a Rússia, por exemplo, nas quartas-de-final, como uma das principais pontuadoras do Brasil. Protagonista de um time que já teve alguma das melhores do mundo nesta posição (como Thaísa e Fabi), Carol Gattaz tem mostrado que, aos 40 anos, ainda tem muito fôlego para buscar o ouro olímpico com a seleção brasileira.
A missão será difícil na madrugada deste domingo às 1h30, contra os Estados Unidos. Mas esse time comandado pelo técnico Zé Roberto Guimarães tem mostrado um amadurecimento ao longo da competição. Coletivamente, é uma equipe muito forte, que, mesmo com o corte da oposta Tandara no dia da semifinal, não se abalou e seguiu em busca do objetivo: sair de Tóquio com o ouro no peito.
A reinvenção de Carol
Jogando numa posição que exige bastante velocidade e impulsão a todo tempo – no bloqueio e para puxar os ataques no meio -, Carol precisou “se reinventar” nesta etapa da carreira, em que as dores apareceram com frequência. Ela sofre de tendinite patelar, um problema no joelho que gera um grande incômodo para quem precisa dele o tempo todo para saltar.
“Quando eu era mais nova, não tinha tanto essa preocupação com corpo, saúde, descanso e alimentação. Eu brinco dizendo que antes eu era jogadora de vôlei, hoje eu sou atleta. Muda tudo. Minha rotina e meus cuidados mudaram”, contou a central em entrevista às Dibradoras em 2019, quando ainda sonhava em figurar na lista das convocadas para Tóquio.
Mais madura e administrando melhor seu corpo, o resultado não poderia ser melhor. Para se ter ideia, Carol Gattaz liderou as estatísticas de aproveitamento no ataque no Minas nas últimas temporadas, mantendo um índice de acerto de cerca de 60%.
“Tive algumas lesões ao longo da carreira, poucas graves, tive fascite plantar há uns anos atrás e hoje tenho uma tendinopatia (tendinite patelar) que realmente me atrapalha em alguns momentos, tenho que fazer alguns tratamentos intensivos e tomar remédio pra jogar, mas a gente (eu e equipe médica) conseguiu controlar”, explicou.
“Consegui jogar durante toda a temporada em alto nível com menos dor e mais funcionalidade dos movimentos nessa idade não é muito fácil, mas com a experiência que adquiri, a gente acaba ficando menos ansiosa e pra mim está sendo muito prazeroso jogar hoje em dia, principalmente depois dos 30.”
Início
Carol teve uma infância mergulhada nos esportes. Antes de chegar nas quadras, a menina Carolina se aventurou no futsal, foi até artilheira do time do colégio e do Automóvel Clube de São José do Rio Preto.
Ela chegou a ser convidada para defender o América de Rio de Preto – tradicional clube de futebol da sua cidade. Mas aí Carol já tinha altura para saber que poderia ter um grande futuro no vôlei.
Aos 17 anos, a central se mudou para São Caetano do Sul para iniciar sua trajetória nas quadras. Assim, tão jovem, ela disputou sua primeira Superliga e conquistou seu primeiro título, o Campeonato Paulista Infanto Juvenil.
Depois de se tornar um dos principais nomes de São Caetano, Carol defendeu diversos clubes ao longo da carreira: Rexona, Finasa/Osasco, Unilever, Vôlei Futuro, Vôlei Amil e o Minas Tênis Clube, onde está jogando desde a temporada 2014/2015. Ela também teve uma passagem pela Itália em 2007/2008.
E sua história com a camisa da seleção brasileira começa em 2003, quando foi convocada pela 1ª vez para a seleção adulta e desde então passou a ser lembrada com frequência pelo técnico Zé Roberto.
Sonhos não envelhecem
Pelo Brasil, ela fez parte das conquistas dos cinco Grand Prix (entre 2004 e 2009), as medalhas de prata em Mundiais (entre 2006 e 2010), mas estava faltando uma parte importante nesse currículo: uma participação em Jogos Olímpicos. Carol esteve muito perto disso duas vezes, mas acabou fora do time convocado.
Em 2008, a jogadora fez parte de toda preparação do ciclo olímpico, mas o técnico Zé Roberto optou por levar apenas 3 centrais para Pequim (Walewska, Fabiana e Thaisa) e foi aí que ele cortou Carol Gattaz da lista.
Fora do time que competiu na China, a jogadora acabou sendo convidada pela Globo para comentar a Olimpíada. Pela TV, ela acompanhou e comentou o primeiro ouro olímpico do vôlei feminino do Brasil sabendo que poderia estar lá. Não deve ter sido fácil.
Nos anos seguintes, a atleta sofreu com algumas lesões, perdeu espaço na seleção, e viu Fabi e Thaísa se consolidarem como centrais.
Em Londres-2012, com 30 anos, mais uma vez a Carol ficou de fora da lista de convocadas e comemorou mais um ouro comentando na transmissão no SporTV.
O importante é que Carol seguiu. Firme, forte e, principalmente, jogando muita bola. Com as últimas duas temporadas impecáveis que fez pelo Minas, não havia mais como ignorá-la. E com a aposentadoria de Fabi e Thaísa, ficou fácil para Zé Roberto decidir quem supriria essas ausências: alô Carol, finalmente chegou a sua vez!
Quem se importa com calendário, né? A central não jogava um campeonato pelo Brasil desde 2010 e não era convocada desde 2013.
E agora, ela está de volta, mais forte do que nunca e pronta para levar o Brasil ao topo de novo – desta vez, não pela transmissão da TV, mas sim dentro de quadra.