Aos 43 anos de idade, Formiga voltará a jogar no futebol brasileiro. A volante faz nesta sexta-feira seu último jogo com a camisa do PSG após quatro anos no clube francês. O destino já está confirmado: ela será jogadora do São Paulo.
Formiga tem uma história vitoriosa vestindo a camisa tricolor. Entre 1997 e 2000, ela jogou pelo clube do Morumbi e conquistou um título brasileiro (num formato diferente do que o que existe atualmente) e dois títulos do Campeonato Paulista. A jogadora havia manifestado o interesse do retorno quando anunciou que não renovaria com o PSG por mais uma temporada e, agora, o acordo foi firmado. A decisão de voltar ao Brasil veio também porque Formiga quer preparar seu pós-carreira e ficar mais perto da família.
Ela deverá se apresentar no São Paulo no dia 21 – como as inscrições do Campeonato Brasileiro feminino se encerram dia 25 de junho, haveria tempo de o nome de Formiga ser registrado para a disputa da fase final da competição.
Antes de efetivamente estrear pelo Tricolor, porém, Formiga deve se apresentar à seleção brasileira. Ainda não há confirmação das convocadas para os Jogos Olímpicos de Tóquio, mas a volante está na pré-lista da técnica Pia Sundhage e é um nome de confiança da treinadora. O Brasil começará sua preparação olímpica em Portland, nos Estados Unidos, a partir de 24 de junho, quando o Brasileiro feminino também para – a primeira fase termina nessa data e o mata-mata só recomeça depois dos Jogos.
O reencontro de Formiga com o São Paulo é histórico não só para o clube, mas também para o futebol brasileiro. Hoje em dia, não há jogadora que simbolize mais a luta do futebol feminino do que ela. São mais de 25 anos dedicados à seleção brasileira, é a jogadora que mais vestiu a camisa amarela (entre homens e mulheres), recordista de Copas do Mundo (tem sete edições no currículo) e que está prestes a embarcar para sua sétima Olimpíada.
Quando começou a carreira, Formiga viveu na pele as dificuldades e o preconceito que impediam o futebol feminino de se desenvolver. Em 1995, quando ela chegou à seleção aos 17 anos, não havia campeonatos femininos por aqui, as jogadoras atuavam no futsal para conseguirem sobreviver e, quando representavam o Brasil, usavam os uniformes que sobravam do masculino.
Uma meio-campista completa, que tinha um fôlego interminável e aparecia por todos os lados do campo, Formiga construiu a maior parte da sua história em clubes brasileiros, saindo de um para outro quando fechavam as portas para o futebol feminino. O São Paulo foi marcante porque era o início da sua trajetória em um tempo em que houve um pouco mais de visibilidade após a primeira Olimpíada do futebol feminino. O Campeonato Paulista foi patrocinado, exibido na TV aberta e teve jogos com grandes públicos – alguns que eram preliminares de jogos masculinos. A craque Sissi também vestia a camisa tricolor na época.
Mas foi no São José que Formiga teve seu período mais vitorioso. Com a equipe do interior, foi bicampeã brasileira, bicampeã da Libertadores e campeã mundial. Sua última temporada por aqui foi em 2016 vestindo a camisa do São Francisco do Conde, clube baiano que teve a chance de contar com ela após o “draft” organizado pela CBF com as jogadoras que, até então, faziam parte da seleção permanente.
Formiga chegou a jogar nos Estados Unidos de 2009 a 2010 e na Suécia um pouco antes disso, e só aos 39 anos teve chance de construir uma carreira internacional mais longeva. Atuando com o PSG, disputou a final da Champions League em 2017 (o PSG acabou derrotado nos pênaltis) e voltou a fazer história neste ano nas quartas-de-final, quando o time parisiense eliminou o poderoso Lyon (hexacampeão da Champions) com a brasileira jogando como titular.
O PSG acabou caindo nas semifinais contra o Barcelona, mas Formiga pode encerrar sua passagem por lá de maneira muito marcante. O time de Paris confirmou a conquista do título francês nesta sexta-feira de maneira histórica, encerrando uma hegemonia das rivais que já durava 14 temporadas.
A chegada de Formiga ao Brasil marca um momento único do futebol feminino por aqui. Em ascensão, com transmissão em TV aberta (Band) e mais visibilidade da mídia, os clubes passaram a investir mais e conseguimos ver grandes nomes consagrados da seleção brasileira atuando em território nacional – como a lateral Tamires, a meia Andressinha, e a zagueira Erika, que jogam no Corinthians, e as atacantes Cristiane (Santos) e Bia Zaneratto (Palmeiras), por exemplo.
Vous n’avez pas entendu❓
#WeAreParis and #WeAreChampions pic.twitter.com/YzBXdEoRu7
— PSG Féminines (@PSG_Feminines) June 4, 2021
Ver Formiga em campo é um privilégio. Resta torcer para que a pandemia de coronavírus passe logo para que a torcida são-paulina (e brasileira, em geral) tenha a oportunidade de saudar presencialmente nas arquibancadas essa jogadora histórica. É a chance de dar a ela o reconhecimento que merece.