Campeã de tudo no Corinthians, Grazi projeta futuro na carreira da sobrinha

(Foto: Bruno Teixeira/Agencia Corinthians)

Só atuando pelo Corinthians, Grazi tem mais de 100 jogos. De carreira, são mais de 20 anos desde que deixou seu campinho de asfalto e a molecada de Brasília para trás para buscar seu sonho e se consolidar com uma das grandes jogadoras que o país já teve.

Aos 38 anos, Grazielle Pinheiro Nascimento, camisa 7 do Corinthians coleciona títulos pelos clubes por onde passou e também pela seleção brasileira. Com o objetivo de atuar profissionalmente por mais dois anos, a meia já tem definida como missão o que irá fazer quando se aposentar: cuidar da carreira de sua sobrinha Emily que, com apenas 9 anos de idade, já desponta como uma grande craque, assim como foi sua tia. 

“Esse é um dos pedidos de minha irmã e meu cunhado. Eu tenho mais cinco sobrinhos, todos homens, mas eles não sabem nem chutar uma bola”, revelou em entrevista às dibradoras.

A sobrinha de Grazi se chama Emily em homenagem à treinadora (Foto: Arquivo pessoal)

Apelidada de “Martinha” pelos colegas da escola, o nome da sobrinha de Grazi homenageia a treinadora Emily Lima, que foi companheira da jogadora alvinegra no final dos anos 90, quando jogaram juntas no São Paulo. 

“Eu frequentava muito a casa da Emily, éramos muito próximas. Minha irmã se apaixonou por esse nome porque toda vez que me ligavam e perguntavam onde eu estava, eu dizia ‘estou na casa da Emily’. Nem sei se a Emily sabe dessa história”, disse Grazi.

Trajetória vencedora

Aos sete anos de idade, Grazi dava seus primeiros chutes na rua onde morava. Naquele tempo, ela recorda que havia escolinha de futebol, mas todas eram exclusivamente masculinas. Foi acompanhando o pai nos campos da várzea que seu amor pelo futebol foi crescendo.

Quando tinha 13 anos, Grazi passou a jogar pela Sociedade Esportiva do Gama e um dirigente do clube indicou a jogadora para Romeu Castro – hoje Supervisor de Futebol Feminino na CBF -, que na época era presidente do SAAD Esporte Clube. 

Grazi no SAAD Esporte Clube (Foto: Acervo pessoal/Romeu Castro)

“Trouxemos a Grazi por um período de experiência e ela jogou o primeiro campeonato sub-17 da história em Cabo Frio, no Rio de Janeiro. Ela teve uma participação avassaladora, foi artilheira do time e o SAAD foi campeão. Vimos que era uma jogadora promissora e encaixamos ela na equipe do São Paulo, que o SAAD coordenava”, nos contou Romeu.

E assim, tão nova, ela saiu de Brasília para buscar seu sonho em São Paulo. “Tinha apenas 13 anos na época e tinha a questão da escola. Eu ficava indo e voltando pra Brasília a cada quatro ou cinco dias. Fiquei nessa por um ano e meio até meu pai mandar eu decidir: ficar em São Paulo pra jogar bola e estudar ou voltar pra casa só para estudar.”

Ela decidiu ficar em São Paulo e em 1996 integrou a equipe do SAAD ao lado de outras 50 mulheres, entre elas, Juliana Cabral e Emily Lima. Em 1997, o São Paulo Futebol Clube foi montado com algumas atletas que faziam parte do SAAD. “Fui uma felizarda, fiz parte daquele timaço e foi ali que conquistei meu primeiro título Paulista, aos 17 anos”, relembrou Grazi. 

Grazi foi campeã da Libertadores com o Santos em 2010 (Foto: Acervo pessoal)

“Ela era uma jogadora habilidosa, com visão incrível de gol, uma das grandes goleadoras do futebol feminino. Teve um começo meteórico pelo São Paulo e depois colecionou passagens consistentes pelos clubes onde passou”, reforçou Romeu. E não foram poucas as equipes que defendeu: Portuguesa, Botucatu, Santa Isabel, Levante (da Espanha), Santos, América-RJ, Tiradentes-PI, Centro Olímpico, Audax e Corinthians.

Defendo clubes, Grazi foi nove vezes campeã paulista, tem duas Copas do Brasil, três Brasileiro e três Libertadores.

Vice campeã olímpica e campeã Pan-Americana

Pela seleção, fez parte da equipe comandada por Renê Simões que conquistou a histórica medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas. Na época, ela defendia a equipe de Botucatu que era formada por meninas da cidade. “Nós tínhamos um único uniforme que era usado para jogar e treinar, guardo ele até hoje”, contou.

Aline Pellegrino, Grazi, Renata Costa e Cristiane com a medalha de prata em Atenas (Foto: Arquivo pessoal)

Na véspera da final olímpica em Atenas, Grazi estava muito ansiosa. Dividia o quarto com a zagueira Renata Costa e para acalmar seu nervosismo, pegou uma bandeira do Brasil e começou a escrever mensagens nela, como “100% Botucatu” e outras frases como forma de agradecimento ao time por estar ali, representando o Brasil.

No momento do pódio, Grazi levou a bandeira com ela e a cena ficou mundialmente famosa.”Quando voltei, todo mundo estava me esperando na entrada da cidade com carro de bombeiros. Foi ali que começou a mudar a história da modalidade em Botucatu. O prefeito passou a apoiar e levar bastante jogadoras pra lá, como a Bagé, Renata Costa, Carol Carioca, Formiga, e foram os anos em que o Botucatu ficou no topo”, revelou.

Grazi no Torneio Internacional jogado no Pacaembu (Foto: Acervo pessoal)

Com a camisa do Brasil, a jogadora também alcançou o 3º lugar na Copa do Mundo em 1999 e 2º lugar na Copa de 2007. Em Jogos Pan-Americanos, foi campeã no Rio de Janeiro em 2007 e vice-campeã em 2011, em Guadalajara.

‘Quando vou embora de Brasília, é sempre como se fosse a 1ª vez’

“Meu pai é meu principal apoiador e minha mãe também. Se não fosse por eles eu não estaria aqui”, declarou a meia. Mais velha entre os três irmãos, ela conta que quando volta para São Paulo, a emoção bate mais forte. “Toda vez que vou para Brasília e volto pra casa, parece a primeira vez. Meu pai e minha mãe choram”, disse a atleta.

Grazi pela Libertadores deste ano (Foto: Bruno Teixeira/Agencia Corinthians)

Grazi sempre sonhou em ser jogadora de futebol e sabia que conseguiria realizar. “Sou muito dedicada, muito elétrica e sempre quero mais”, revelou. Mais dois anos jogando em alto nível e Grazi tem em mente que cuidará da carreira da sobrinha.

“Dia desses, a Emily não foi para a escola porque estava resfriada. Aí, o diretor do colégio bateu na casa da minha mãe perguntando por ela porque o time estava disputando o Interclasses e precisavam dela para jogar. Mesmo doente não pensou duas vezes, vestiu o uniforme e foi jogar. Ela é atacante e a única menina que joga no time dos meninos”, conta a tia orgulhosa.

Emily, a única menina entre os garotos (Foto: Arquivo pessoal)

A ideia de Grazi é trazer Emily – ou a “Martinha” – para São Paulo e colocá-la em alguma escolinha ou time de futebol onde ela possa jogar com meninas de sua idade. “Já falei que ela não tem que se comparar a ninguém, ela tem que construir a carreira e a própria história dela. E é isso que Emily vai fazer e se depender de nós, os familiares, vamos dar todo o apoio.”

Dona de uma trajetória vencedora, o objetivo da camisa 7 do Timão era ver o futebol feminino se consolidar no Brasil e fazer parte desse momento. E ela conseguiu. “Meu desejo é permanecer aqui. Joguei um ano na Espanha e tive outras propostas para jogar fora, mas meu sonho sempre foi permanecer no Brasil, porque eu queria que a coisa aqui andasse de alguma forma e deixar meu nome gravado na história do país. A gente tem tanta jogadora conhecida mas que não tem a sua historia completamente feita no Brasil e eu posso me orgulhar disso, porque o que eu ainda tô plantando e o que já plantei não vai ser apagado.”

O ano de 2019 foi especial para Grazi, que levantou a taça do Paulista e da Libertadores pelo clube do Parque São Jorge. A jogadora que se inspirava em Formiga e Tânia Maranhão – duas atletas com longas e vitoriosas carreiras -, hoje é referência para a sobrinha, que trilhará caminhos mais fáceis no futebol graças às pioneiras como a tia e suas parceiras de campo.

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