*Por Jessyka Freitas, de Fortaleza (CE) especial para as ~dibradoras
*Texto atualizado às 17h20 do dia 21/11/2019.
O ano mais importante da história futebol cearense – com as equipes masculinas de Ceará e Fortaleza na Série A -, respingou no futebol feminino. Com a obrigação de ter equipes da modalidade, as duas agremiações passaram a investir nas meninas cada vez mais.
Desde 2008, o futebol feminino na Terra do Sol vem tomando espaço nos gramados, mas ainda enfrenta inúmeros percalços. A diferença gritante com o futebol masculino ainda assola a modalidade, mas 2019 veio para mostrar o caminho a ser seguido.
Desde outubro, o Campeonato Cearense Feminino vem acontecendo, e o vencedor garante vaga no Brasileirão A2 de 2020. Normalmente, um campeonato dessa magnitude e respaldado com as presenças de Ceará e Fortaleza, requer uma boa preparação e planejamento de gestão das organizações, mas no feminino, não é bem assim.
Pouco antes de iniciar o estadual, que estava marcado para o início do mês, a Federação Cearense adiou em 15 dias a estreia do campeonato. As mudanças repentinas não pararam por aí, pois desde o primeiro jogo oficializado, a tabela da competição sofre com alterações “em cima da hora”, seja na data, no local ou no horário. Jogos que são anunciados poucos dias antes do acontecimento acabam atrapalhando até mesmo as jogadoras, além do planejamento da logística para os clubes, imprensa e torcedores.
Em entrevista para a Web Rádio do Vozão, programa oficial do Ceará Sporting Club, o técnico da equipe, Sérgio Alves opinou sobre a falta de organização do campeonato. “O atraso, atrapalha todo o planejamento do trabalho com as meninas”, afirmou.
Os jogos, na maioria das vezes, acontecem no meio da semana, em horários de difícil acesso para o torcedor e em estádios que não tem boa estrutura. Em alguns jogos, não havia policiamento ou atendimento médico, que é algo básico e necessário em todos os confrontos. Esses são alguns exemplos simples que ainda faltam no dia-a-dia do futebol feminino no estado do Ceará.
“Inadmissível, no campeonato feminino, as garotas jogarem às 13h30, em um local sem a mínima condição. Às 13h30 da tarde, sem segurança, sem policiamento, sem estrutura nenhuma. Porque não jogam em um PV (Estádio Presidente Vargas) ou no Castelão (Arena Castelão)?”, disse o técnico do Ceará, Sérgio Alves, no programa oficial produzido por Abreu Neto.
A expectativa para a realização do estadual feminino em 2019 era enorme, mas a competição vem sendo deixada de lado por falta de um consenso dos organizadores e divulgação das grandes mídias.
A falta de investimento no Campeonato Cearense Feminino, reflete em todos os fatores citados, pois só é possível que essas meninas joguem nos melhores estádios do estado se a “verba” for investida. Segundo muitos “críticos”, a modalidade tem que “se pagar”, mas sem o apoio mínimo necessário fica complicado.
Diante de tantos problemas, existem vários sonhos de mulheres guerreiras que lutam em cada jogo. Mas, onde está a grande mídia para divulgação das mesmas? Para transmissão das partidas? Para anúncios dos jogos? O único canal que transmite um pouco de informação sobre a competição é o site e as redes sociais da Federação Cearense de Futebol (FCF). No YouTube, alguns jogos são transmitidos ao vivo, mas fora isso não existe a presença de nenhum outro veículo de comunicação nos jogos.
A divulgação nos clubes, nas redes sociais, na imprensa tradicional, também é fundamental para o reconhecimento e apoio das torcidas. O processo ainda é “novo”, mas precisa ser tratado com mais seriedade e regularidade. “A imprensa local não dá tanto valor, cobertura. Não se preocupa com o futebol feminino”, reforçou Sérgio Alves.
É por esses e outros fatores, que o futebol feminino é resistência. Ainda é difícil o processo de inclusão e de igualdade, dentro e fora do campo, mas as mulheres não desistem de ocupar os gramados em busca de maior reconhecimento.
A reportagem entrou em contato com a Federação Cearense de Futebol em busca de um posicionamento sobre a organização do campeonato, mas só obteve resposta após a publicação da matéria.
Segue posicionamento abaixo, na íntegra:
“A Federação Cearense de Futebol deixa ambulâncias de plantão em pontos estratégicos que podem ser acionadas pelos delegados da partida caso haja qualquer ocorrência.
Quanto aos horários, as partidas são agendadas conforme a disponibilidade dos estádios em acordo com os clubes. No decorrer de toda a competição, somente dois jogos começaram às 13h30.
Até o momento, a FCF não foi procurada por emissoras para a transmissão do Campeonato Cearense Feminino, porém a Federação realiza cobertura completa das competições em todos os seus veículos de comunicação, além das transmissões ao vivo da FCF TV, tanto de confrontos do Feminino como de outros campeonatos profissionais e de base.
Vale destacar que dentre as ações que a Federação realiza para promover o desenvolvimento do Futebol Feminino, além de isentar os clubes da taxa de arbitragem, a entidade tem custeado em algumas ocasiões, o aluguel de estádios e quadro móvel para realização das partidas. Por exemplo, os três clássicos do campeonato, assim como feito nas competições de base (masculina e feminina) realizadas pela FCF.
Além disso, é bom lembrar que todos os jogos possuem súmulas eletrônicas e podem ser acessadas no site da FCF. Lembrando ainda que a alteração de locais, horários e datas das partidas são realizadas após análise de solicitação enviada pelo clube. A Federação não realiza sem critério e sempre alinha com os clubes envolvidos.
A intenção e o objetivo da atual gestão da FCF é fomentar o futebol feminino, tanto que nunca antes na história do futebol cearense houve a criação de competições dedicadas exclusivamente para a categoria e tanta valorização ao futebol feminino.”