Não é fácil admitir isso, mas ontem eu percebi que não dá mais para negar.
Não sei direito quando eu me dei conta. Talvez tenha sido no momento em que Dorival Junior sacou Cueva para colocar Brenner, e eu continuei acreditando na virada – mesmo sem ninguém em campo para armar o time. Ou quando ele trocou Diego Souza por Tréllez (oi?) e, ainda assim, eu segui com alguma esperança lá no fundo de que poderia sair feliz daquele jogo.
Não saí. Aliás, não tenho saído feliz de clássicos há algum tempo. E quando penso nos últimos anos, percebo que há mais momentos tristes que felizes neles. Entra ano, sai ano, eu renovo as esperanças. Compro camisa, compro ingresso, penso que “agora vai”. Comemoro até mesmo título da “Florida Cup” em cima do Corinthians acreditando piamente que a zika dos Majestosos havia acabado ali. Que dali pra frente, tudo seria diferente.
Não foi. Pela terceira vez em menos de cinco anos, lutamos contra o rebaixamento. Resistimos.
E hoje eu começo a olhar para trás e vejo o quanto tenho acreditado em vão. Acreditei em Wallyson, Negueba, (Cristiano?) Osvaldo, Cañete (o “novo” Riquelme), Pabón (meu Deus!), Centurión (fizemos até camiseta para ele em um grupo de são-paulinos!!!), Kelvin….vejo o quanto aguentei com Wesley (!!!!!!!!!!), Michel Bastos, Douglas, Mena, Wellington Nem, Neílton, Cícero….E o quanto me empolguei com David Neres, Luiz Araújo (vendidos antes que pudéssemos amá-los direito), Pratto (quanta ilusão).
Não era amor. Era cilada.
Caramba! Como não vi isso antes? Ninguém melhor do que Molejo soube definir essa nossa relação hoje em dia, São Paulo.
É fácil perceber isso respondendo às perguntas básicas que diferenciam um relacionamento bom de um ruim:
– Vocês têm mais momentos felizes ou tristes? Que dúvida!
– Você sente que doa muito mais do que recebe? Sim, toda quarta e todo domingo.
– É comum o sentimento de culpa? Ô! Quantas vezes não culpei a camisa que estava usando, o ritual feito antes de entrar no jogo, o “pé frio” que causou a derrota….
E aí já me vem de novo o Raça Negra na cabeça. “Você jogou (tem jogado) fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei…isso não se faaaaz”.
Vejamos o que tem acontecido nos últimos tempos.
No ano passado, houve um jogo do São Paulo no Morumbi em que eu estava fora do estado em um churrasco. Na hora da partida, subi para o apartamento do dono da festa e pedi pra colocar no jogo. Abrimos 2 a 0, eu estava feliz. Tomamos o empate. Desci as escadas do prédio chorando: seremos rebaixados, pensei.
Semanas depois, houve um aniversário em que era dia de clássico na casa do adversário. Sentei para ver o jogo. Abrimos o placar. Tomamos a virada. Saí, de novo, chorando.
Foram incontáveis os jogos em que fui ao estádio em 2017 e quase vi meu estômago sair pela boca, tamanho o nervosismo, o desespero, a aflição de ver aquele time desorganizado em campo. E isso aconteceu (vem acontecendo) com certa frequência desde 2013.
Nesse meio tempo, o que o São Paulo nos deu em troca por todo esse apoio incondicional? Gestões desastrosas, incluindo brigas entre dirigentes e torcedores bêbados em um churrasco, socos trocados pela diretoria, uma renúncia e, mesmo diante de tudo isso, eu e os outros 20 e poucos milhões de são-paulinos seguimos ali, firmes, fortes, acreditando.
(Agora vem Exaltasamba me atormentar: “Eu me apaixonei pela pessoa (time?) errada, ninguém sabe o quanto que eu estou sofrendo…”)
Aí chega o clássico deste domingo, um domingo ainda de carnaval em São Paulo, em que eu trabalhei às 6h da manhã e saí para poder ir ao jogo. Encontrei o bloco no caminho, logo ali, no metrô, banda tocando, pessoas felizes, dançando. Talvez fosse um sinal para eu ficar. Mas fui. E entramos esperançosos de que a vitória viria.
Terminamos o primeiro tempo bem até e achamos que seria possível sacramentar o jogo no segundo. Mas aí vieram os últimos 45 minutos com um banho de realidade. Tomamos o gol justamente dele: Gabigol. Em um lance bizonho da zaga, que deixou justamente o principal atacante do adversário completamente livre para marcar. Sério, vejam o lance: Arboleda marca Gabigol dentro da área, Gabigol faz o que qualquer atacante que se preze faria e se movimenta, vai para trás. Arboleda faz o que? Fica. E aí Gabigol aparece tranquilaço para chutar para o gol.
O que mais o Santos fez no jogo? Nada. E o que o São Paulo fez? Exatamente o mesmo: nada. Contando ainda com as absurdas alterações de Dorival, que conseguiram tornar nossa atuação ainda pior do que já estava. Para terminar, chove nos minutos finais.
(E lá vem o Só pra Contrariar embalar a noite no meu pensamento: “Você machuca demais esse meu coraçããão…(…) Queria poder dizer não e não te procurar. Cumprir toda vez que eu te digo que vou te deixaaar.”)
Como tem sido difícil gostar de você, São Paulo. Mas eu não vou desistir. Meu coração não me dá essa opção. Porque apesar de tantas frustrações nos últimos anos do seu lado, eu também me lembro das maiores alegrias que você me proporcionou. Os inesquecíveis anos 1990, quando nossa relação começou – eu mal tinha nascido e já era bicampeã da Libertadores.
Que dirá então do quadriênio 2005, 2006, 2007 e 2008? Estava chato pros nossos rivais. Não havia nenhuma chance para eles. Ganhávamos tudo. Fui hoje relembrada por um tuíte daqueles tempos áureos: de 1997 a 2007, fizemos 43 clássicos no Campeonato Paulista, vencemos 27, empatamos 10, perdemos SEIS e só.
O que aconteceu de lá para cá, São Paulo? Para passarmos de um aproveitamento de 70% para o atual de 24% em clássicos no estadual de 2008 a 2018? Para não chegarmos a sequer DISPUTAR O TÍTULO do Paulista desde 2005? O que fizeram com você para chegarmos a esse ponto?
Nesses anos todos, nos momentos difíceis, você olhou para o alto na arquibancada ou para fora da janela do ônibus e nós sempre estivemos lá. E seguiremos aqui. Prontos para te reerguer. Por enquanto, só por favor, nos ajude a segurar essa barra que é gostar de você, São Paulo.