Paulista teve final pobre que fez justiça ao premiar o ‘menos pior’

Foto: Divulgação Corinthians

O Campeonato Paulista  terminou neste domingo com um jogo tão fraco que não parecia estar valendo o título do estadual. O equilíbrio ficou por conta dos erros em campo, que eram incontáveis dos dois lados. Pouquíssimas chances de gol, um duelo com pouca ousadia das duas equipes, que pareciam com medo de tentar abrir o placar. O resultado foi justo nem tanto pelo futebol apresentado – que se fosse por ele, sairiam dois perdedores de campo -, mas principalmente porque premiou quem teve um planejamento melhor.

O Corinthians de Fábio Carille nitidamente ainda não se encaixou. Tem uma defesa sólida, e só. A produção ofensiva do time é quase nula, mesmo com os inúmeros testes que ele fez do meio para frente nos últimos jogos. Mas o Corinthians de Carille sabe ganhar. E no futebol brasileiro, a gente bem sabe (infelizmente) que não é preciso jogar bem para sair vitorioso. O time corintiano talvez tenha feito dois jogos realmente bons no ano – os dois contra o Santos, sendo o primeiro na fase inicial do Paulista e o segundo o jogo de ida da semifinal, ambos na Arena Corinthians. De resto, foi levando, com desempenho bem abaixo em campo, mas com a eficiência que lhe é característica nos últimos anos. Assim passou pela Ferroviária, pelo Ferroviário, pelo Ceará, pelo Santos e agora pelo São Paulo.

Mas se no ano passado, a diretoria do Corinthians fez tudo errado, vendeu meio time durante a temporada, teve duas trocas de técnico (e três treinadores diferentes ao longo dos 12 meses), e ainda assim chegou a uma final – e perdeu para o Cruzeiro, para um time mais estruturado e que tem mantido um bom planejamento técnico nos últimos anos -, desta vez o contexto foi bem distinto. Andrés Sanchez trouxe inúmeros reforços, todos muito bem indicados por Carille, que participou desde o fim do ano passado dos planos para a temporada corintiana de 2019. Vieram 3 atacantes, posição com a qual o Corinthians sofre desde a saída de Jô, sem encontrar ninguém que assumisse a função de efetivamente fazer gols. Com Boselli, Love e Gustavo, o técnico ganhou opções para montar um time mais ofensivo – ainda que não tenha sido muito efetivo nisso por enquanto. Mas quando precisou, quem resolveu o problema corintiano foi justamente um desses reforços para o ataque, Vágner Love, com belíssima finalização para fazer o gol do título aos 43 do segundo tempo.

O São Paulo foi o oposto disso. Planejamento é uma coisa que não existe no clube do Morumbi há bastante tempo. Não dá nem para lembrar a última vez que o time começou e terminou o ano com o mesmo técnico. Isso parece bobo no contexto do futebol brasileiro, mas é essencial, porque quando se faz um planejamento para uma temporada, isso deveria incluir um treinador participando da montagem do elenco de acordo com as suas ideias de jogo para buscar os resultados desejados ao longo do ano. Quando se faz uma troca no comando no meio da temporada, há um tempo necessário até que o novo treinador conheça o elenco que ficou e entenda como ele pode render melhor.

Foto: AGIF

Pois bem, só neste ano, já foram três técnicos que passaram pelo comando do São Paulo. O que comandou o time na decisão assumiu de verdade na semifinal. Olha o tamanho da bagunça. Mas não é só isso. O início de ano do clube do Morumbi estava promissor com a contratação de muitos reforços. Alguns de peso, como Hernanes e Pablo. Outros para compor elenco, como Biro Biro, Willian Farias, Leo Pelé,  Igor Vinícius. Contando com os remanescentes de 2018, dava para pensar num time mais completo, que tivesse reposições quando os principais jogadores se machucassem – algo que o São Paulo sentiu muito no ano passado, porque não havia substituto à altura para Nenê e Everton, por exemplo, e quando um estava mal em campo e outro estava machucado, não houve quem entrasse para manter o nível do time que alcançou a liderança do Brasileiro.

Mas aí após a queda precoce na Libertadores, caiu também qualquer resquício de planejamento que a diretoria eventualmente tenha feito. Saiu o técnico e saiu também o “vilão” escolhido pela torcida, Diego Souza. E talvez por uma ironia do destino, o centroavante titular, Pablo, se machucou justamente na reta final do Paulista. Carneiro, seu substituto imediato (muito abaixo dele tecnicamente, diga-se) também se machucou e foi cortado da decisão. O tal Biro Biro sequer tem sido relacionado – e não dá nem para entender por que ele foi contratado. E o São Paulo se viu disputando o título sem qualquer opção para o ataque, colocando um volante na última substituição, enquanto Carille usou seus três centroavantes e foi feliz com um deles.

Diego Souza seria a solução para a falta de opções de ataque do São Paulo. Não sei, não dá para saber. Mas o ponto aqui é justamente elucidar os erros que a diretoria são-paulina faz questão de negar toda vez que aparece em coletiva de imprensa. O São Paulo abriu mão do artilheiro de 2018 que em um mês já não servia mais movido pela revolta da torcida.

Só que se o torcedor é movido pelo coração, os dirigentes deveriam agir de acordo com a razão. E razão é o que tem faltado para essa gestão admitir as falhas no planejamento e corrigi-las para que finalmente um título possa vir. O São Paulo chegou à final do Campeonato Paulista por total mérito dos garotos da base que comandaram a classificação e do grupo que se uniu em campo para chegar lá. Fora de campo, segue tudo uma bagunça e a derrota para o Corinthians com gol de Love aos 43 minutos do segundo tempo não poderia deixar isso mais evidente: enquanto o rival se organizou fora das quatro linhas para poder ganhar dentro delas, o São Paulo ficou assistindo. E agora mais uma vez assistiu ao Corinthians ser campeão.

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