O São Paulo apresentou, nesta terça-feira, o novo time de futebol feminino do clube no Morumbi. As jogadoras treinaram pela primeira vez no campo do estádio, que é a casa tricolor para os jogos do futebol masculino, mas não receberá – ao menos por enquanto – os jogos das mulheres. A estreia da equipe feminina na temporada será nesta quarta-feira diante do América-MG pela Série A2 do Campeonato Brasileiro em Cotia, onde fica alojada a base.
Destaque do time nesta volta do investimento no futebol feminino, Cristiane foi apresentada como a grande estrela do clube para os jornalistas em uma coletiva que contou com a participação – na plateia – do presidente Leco, do diretor de futebol Raí, e do superintendente de relações institucionais, Lugano. Os três tiraram foto com Cristiane e deram as boas-vindas à atleta, que disse ter escolhido o São Paulo pelo projeto que foi apresentado a ela no início do ano.
“É um orgulho muito grande poder representar o São Paulo, é muito bacana ver o que eles vêm fazendo pelo futebol feminino agora, tem uma oportunidade muito grande de fazer crescer e dar visibilidade para a modalidade e fico feliz em poder fazer parte deste momento aqui”, afirmou a camisa 11.
“Eu tive proposta de fora, do Barcelona, do Lyon, mas no primeiro momento eu realmente queria ficar no Brasil por causa da minha mãe. O São Paulo foi o clube que mais mostrou interesse, o Santos e o Corinthians chegaram a conversar, mas nada de concreto, e aí o São Paulo tomou à frente e isso me agradou.”
Com a obrigatoriedade dos clubes de camisa de manterem equipes femininas para poderem disputar os torneio da Conmebol e da CBF, o Brasil vive um novo momento no futebol feminino. Mas Cristiane alerta que já viu essas coisas acontecerem no passado e morrerem após o ciclo de Copa do Mundo e Olimpíada. Por isso, ela projeta o desenvolvimento real da modalidade para os próximos dois anos, para que os estádios encham e a torcida abrace a ideia de ver as mulheres em campo.
“Meu sonho em relação ao Brasil era que esse momento chegasse. Que a gente conseguisse trazer as meninas que jogam fora para cá, que os grandes clubes investissem. Agora está acontecendo, vamos ter clássicos, isso vai atrair público, serão jogos mais equilibrados. São momentos que a gente precisa aproveitar para divulgar mais, chamar mais torcida. E pensar que daqui dois anos a gente esteja com estádios cheios, como tem acontecido na Espanha, na Itália”, pontuou.
A ideia em trazer Cristiane era justamente promover o futebol feminino no São Paulo. Mas a estreia dela com a camisa do clube acontecerá um pouco longe de casa. Será nesta quarta-feira em Cotia, a 35 Km da capital, e às 15h. Questionados pela reportagem sobre como aproximar a torcida tricolor do futebol feminino com jogos neste horário e num estádio fora de São Paulo, o supervisor da modalidade, Amauri Nascimento, explicou que, por enquanto, abrir o Morumbi para os jogos das mulheres é inviável por causa do custo.
“Para que a gente tenha essa aproximação do torcedor para a nossa casa, tem que ser com o tempo. Dentro da viabilidade que temos agora, a solução que encontramos foi mandar os jogos em Cotia, porque precisa ser um estádio pela exigência da competicao, então não pode ser aqui no complexo social. Infelizmente, a modalidade ainda não é auto-suficiente para abrir o estádio, fazer a estrutura do jogo lá ainda é um um custo alto e ele começa a ficar cada vez mais negativo”, explicou o dirigente.
“Primeiro a gente constrói o elenco e utiliza a estrutura para a competição. É uma construção. Então primeiramente vamos utilizar a estrutura que já tem lá (em Cotia). Depois, os refletores serão levados para lá e temos a ideia de fazer jogos à noite no meio da semana. Vamos aos poucos viabilizando tudo isso”.
Insistimos que, enquanto um clube enxergar o futebol feminino como apenas um custo, a modalidade não tem como dar certo. Aproximar a torcida, criar a cultura dos jogos das mulheres, mandar partidas no estádio principal, tudo isso é uma construção e, acima de tudo, um investimento para que, no futuro, seja possível ver o Morumbi lotado num jogo feminino.
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A própria Cristiane falou sobre isso ao longo da apresentação. Ela usou o exemplo do público de Atlético de Madri x Barcelona no Metropolitano há uma semana para mostrar que o futebol feminino pode ter um retorno se houver um planejamento e uma vontade de fazer acontecer.
“É só ver o quanto a Espanha cresceu no futebol feminino sem precisar de conquistas, sem precisar de um título mundial. Eles estão lotando os estádios aí que você precisa trabalhar, fazer um planejamento a longo prazo para que isso aconteça. A gente sempre acaba vendo que ha um preconceito, mas a gente vai quebrando isso”, afirmou.
As 29 jogadoras que fazem parte do elenco são-paulino usam a estrutura do Morumbi para alojamento e treinamentos. Os treinos são no social, no campo sintético, que não é ideal para uma equipe profissional. Por isso, a comissão acaba tentando conciliar alguns trabalhos de campo com o masculino na Barra Funda ou com a base em Cotia.
O clube afirma que tem a intenção de fazer algum jogo do time feminino no Morumbi, mas ainda não tem plano de data para isso.