Rebeca Andrade se consolida como uma das principais atletas da ginástica no Mundial 2023

Brasileira ganhou 5 medalhas no Mundial, desbancou Simone Biles no salto e Tornou-se 11ª a subir no pódio em todas as provas femininas do torneio ao longo da carreira

Foto: USA Gymnastics

Uma cena diferente rodou as redes sociais no último dia do Campeonato Mundial de Ginástica Artística de 2023, na Antuérpia, na Bélgica, no domingo (08). Antes de ser chamada para subir ao lugar mais alto do pódio do solo, Simone Biles fez um gesto como se estivesse passando a coroa para Rebeca Andrade, que ficou com a prata na prova. O gesto foi feito após a norte-americana comentar que pretende se aposentar após os Jogos Olímpicos de Paris-2024. “Não, a gente precisa de você”, respondeu Rebeca, ao falar para Biles que ela inspira todas as outras ginastas.

A decisão de continuar ou não a competir cabe à Biles, que está com 26 anos. Mas a simbologia de “passar a majestade da ginástica para Rebeca” é fruto do carisma da americana e, claro, da grandeza da ginástica apresentada pela brasileira, que, aos 24 anos, se consolida como uma das melhores ginastas da história.

Na Antuérpia, Rebeca ganhou cinco medalhas, sendo uma delas na trave, único aparelho que ela ainda não havia subido ao pódio mundial. Assim, ela tornou-se a 11ª ginasta a conquistar medalha em todas as provas da ginástica feminina ao longo da carreira. No quarto Mundial que disputa, ela se iguala às soviéticas Larisa Latynina e Olga Korbut, às russas Svetlana Khorkina e Aliya Mustafina e à americana Simone Biles.

Ao todo, Rebeca disputou quatro Mundiais e ficou de fora de outras três pelo rompimento do ligamento cruzado anterior do joelho direito por três vezes, em 2015, 2017 e 2019. Mas no Mundial da Antuérpia-2023, a brasileira estava 100% e pôde mostrar todo seu talento e carisma.

Rebeca Andrade e Simone Biles foram as ginastas mais vitoriosas da competição. As duas ganharam cinco medalhas cada uma – só não medalharam nas barras assimétricas – e dividiram o pódio em todas as conquistas. Um deles entrou para a história para além de qualquer fronteira nacional e trata-se de uma vitória da humanidade. Biles, Rebeca e a estadunidense Shilese Jones formaram o primeiro pódio composto 100% por mulheres negras no individual geral, justamente a prova mais nobre da ginástica artística. 

Na disputa por equipes, pela primeira vez o Brasil subiu ao pódio com a seleção feminina e foi logo como a segunda melhor do mundo, atrás somente dos Estados Unidos. de Biles. Também teve dobradinha brasileira inédita no pódio do solo, com a prata de Rebeca Andrade e o bronze da Flávia Saraiva. E não podia ser em uma prova diferente, afinal foi no solo que Daiane do Santos colocou o Brasil pela primeira vez no lugar mais alto do pódio em um Mundial de Ginástica Artística, em 2003.

Por sinal, há 20 anos a brasileira eternizada pelo duplo twist carpado ao som de Brasileirinho (chorinho composto por Waldir Azevedo) foi a primeira mulher negra campeã mundial de uma prova por aparelhos na modalidade. A acrobacia de alto grau de dificuldade foi batizada de Dos Santos I e, depois, ganhou uma evolução, com o duplo twist esticado, sendo chamado de Dos Santos II.

Dez anos depois do título de Daiane, uma ginasta negra de 16 anos dos Estados Unidos começaria uma trajetória lendária. Simone Biles ganhou quatro medalhas (sendo uma de ouro no individual geral) no seu primeiro mundial, na Antuérpia em 2013, antes de se tornar uma das principais atletas do mundo pelos cinco pódios alcançados nos Jogos Olímpicos do Rio-2016.

Duas décadas após sua estreia em Mundiais, Biles estava novamente na Antuérpia para voltar às competições após dois anos afastada para cuidar da saúde mental. E ela voltou com tudo! Apresentou até uma nova acrobacia batizada com seu nome, assim como Daiane dos Santos fez. E somou mais cinco medalhas mundiais, chegando a 30 na carreira. Com outras sete medalhas olímpicas, Biles é a ginasta mais condecorada da história.

Mas neste Mundial essa gigante de 1,42m de altura dividiu o protagonismo com Rebeca Andrade. Nas cinco finais que disputou, Biles foi desbancada apenas em uma prova, justamente por Rebeca. A brasileira cravou seus dois saltos e conquistou o bicampeonato mundial na prova, com 14.750 pontos. Já a norte-americana teve uma queda no primeiro salto, em que apresentou a acrobacia batizada com seu nome. Ainda assim, ela teve um notão (14.549), ficando com a prata, à frente da coreana Yeo Seojeong (14.416).

Rebeca com o ouro, Biles com a prata e a coreana Yeo Seojeong com o bronze no salto do Mundial de Ginástica 2023 | Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Mas engana-se quem achava que Biles ou Rebeca sairia chateada de alguma prova. Ao invés de rivalidade, uma inspirava o melhor da outra. Entre acrobacias, sorrisos, conversas e abraços, as duas travaram uma disputa histórica. E comemoraram dançando juntas na festa de encerramento.

O duelo entre essas gigantes da ginástica promete se repetir nos Jogos Olímpicos de Paris-2024. Na última edição olímpica, Biles esteve no pódio por equipes (prata) e na trave (bronze), mas desistiu de disputar quatro finais para priorizar a saúde mental. Sem a norte-americana nos seus 100%, grande parte do protagonismo da ginástica artística nos Jogos de Tóquio ficou com Rebeca Andrade, que faturou o ouro no salto e a prata no individual geral, em 2021.

Veja as 9 medalhas de Rebeca Andrade por prova nos Mundiais: 

Individual geral: ouro (Liverpool-2022) e prata (Antuérpia-2023)

Salto: ouro (Antuérpia-2023), ouro (Kitakyushu-2021)

Solo: prata (Antuérpia-2023) e bronze (Liverpool-2022)

Barras assimétricas: prata (Kitakyushu-2021)

Trave: bronze (Antuérpia-2023)

Equipe: prata (Antuérpia-2023)

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