Foto: Serena Williams @ US Open 2018
*Por Renata Mendonça e Roberta Nina
Serena Williams passou 2018 sem conquistar nenhum Grand Slam, algo muito raro na super vitoriosa carreira da maior tenista de todos os tempos, que já soma 23 títulos dos principais torneios do Circuito Mundial – ninguém tem mais conquistas do que ela.
Mas a maneira como retornou às quadras apenas cinco meses após o parto de sua filha Olympia, que inclusive teve complicações e gerou precauções a mais para Serena na volta ao esporte, a forma como levantou a bandeira das mulheres (especialmente das mães) e os incríveis feitos de ter alcançado duas finais (Wimbledon e US Open) em um ano tão difícil como esse a levaram a uma outra conquista: ela é a única atleta a figura na lista da Forbes das 100 mulheres mais poderosas do mundo.
A publicação reúne os principais nomes da política, da economia, do mundo artístico, enfim, que tenham relevância mundial por suas atuações em seus respectivos países. Para se ter ideia dos nomes que figuram na lista de 2018, lá estão: Angela Merkel, chanceler alemã, Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido, Beyoncé, cantora americana, Sheryl Sandberg, executiva do Facebook, entre outras mulheres influentes e poderosas do mundo.
Pela sua importante atuação no esporte, não só como atleta super vencedora, mas principalmente como uma representante das mulheres negras em um meio ainda tão machista e racista como é o tênis, Serena Williams foi incluída pela revista na 79ª posição do ranking, e é a quarta mulher mais jovem da lista.
Uma coroação importante para um ano difícil e essencial na carreira de Serena. Ela retornou às quadras em fevereiro, cinco meses após um parto que quase lhe tirou a vida.
Ano de superação
A recuperação da tenista após o nascimento de sua filha foi muito difícil e ela nunca escondeu de ninguém tudo que precisou superar. Enfrentou uma cesariana de emergência e, logo depois do parto, apresentou problemas de coagulação sanguínea e dificuldades para respirar.
Como já tinha um histórico, a própria Serena alertou os médicos sobre a possibilidade de estar enfrentando um problema de coagulação e pediu para realizarem uma tomografia específica para chegar ao diagnóstico.
O exame apontou uma embolia pulmonar e o medicamento indicado para conter esse problema causou um efeito colateral em sua cirurgia, impedindo a cicatrização e reabrindo o corte feito para a cesariana. Serena precisou enfrentar uma nova cirurgia e ali foi encontrado uma grande massa de sangue coagulado no abdômen da atleta.
Sua recuperação foi lenta e gradual e 12 dias após o nascimento de sua filha, Serena divulgou um vídeo em suas redes sociais com momentos de sua gravidez e a superação pós-parto.
Em fevereiro deste ano, a tenista voltou ao esporte disputando torneios menores, cinco meses após o parto. Em maio, ela já entrava em quadra para disputar um Grand Slam. Foi em Roland Garros, que a maior tenista de todos os tempos começou a renascer. Mas, além de seu retorno às quadras, também chamou muito a atenção do público e da mídia a roupa que vestia.
Em vez de usar a tradicional saia ou vestido que geralmente é designado para as tenistas, a americana desfilou o melhor de seu jogo em um traje de calça comprida e blusa preta. Foi chamada de “Mulher-Gato” e ela mesmo declarou estar se sentindo uma “Rainha de Wakanda” – uma referência ao filme Pantera Negra (falamos mais sobre o uniforme usado por Serena aqui).
O que muitos não sabiam, num primeiro momento, é que a roupa da atleta tinha um significado importante, muito além da estética. Tratava-se de um uniforme incomum, mas que foi escolhido, em primeiro lugar, pela funcionalidade (auxiliava sua circulação sanguínea), por garantir seu rendimento e, ao mesmo tempo, sua saúde.
Eu perdi as contas de quantos problemas de coágulos eu tive nos últimos 12 meses. Há uma funcionalidade para esse uniforme. É divertido, mas é útil também, para eu poder jogar sem ter problemas”, explicou a jogadora na época.
Serena abandou o torneio francês nas quartas-de-final por conta de uma contusão. A tenista estava sentindo fortes dores no peito que se estendia para as costas e comprometia seus movimentos com a raquete, especialmente durante os saques.
Em julho, voltou às quadras para disputar mais um Grand Slam em Wimbledon e, após dez meses do nascimento de sua filha, chegou à final do torneio e emocionou muita gente – especialmente as mães – ao declarar que perdeu os primeiros passos de sua filha.
Em suas redes sociais, a tenista não escondeu a tristeza. “Ela deu seus primeiros passos hoje. Eu estava treinando e perdi isso. Eu chorei”, afirmou pelo Twitter.
Na ocasião, Serena foi derrotada pela alemã Angelique Kerber (número 9 do mundo) na final e visivelmente emocionada, a tenista fez questão de frisar que jogou esta final em nome de todas as mães e elogiou o feito da rival alemã. “Eu fiquei muito feliz de ter chegado tão longe. Para todas as mães aí fora, eu joguei por vocês hoje”, disse.
Após o revés, voltou – em grande estilo – a mais um Grand Slam, desta vez nos Estados Unidos. Durante o torneio americano, noticiou-se a proibição imposta pela Federação Francesa de Tênis, que alegou que o traje usado por Serena em Roland Garros não seria mais permitido.
Segundo o presidente Bernard Giudicelli, o uniforme composto por calça e blusa preta “desrespeitava a tradição do jogo” e ainda frisou que os vestuários das atletas seguirão um código mais rígido e a direção precisará aprovar previamente os designs dos uniformes antes de serem usados.
Diante de toda polêmica, Serena foi presenteada por Virgil Abloh, diretor criativo da Loius Vuitton Hommes e da Off-White, com um traje especial para que ela pudesse jogar o torneio dos Estados Unidos.
Na época da polêmica, a própria Nike – que patrocina Serena – se posicionou em suas redes sociais dizendo “você pode tirar um super herói de suas roupas, mas você nunca poderá levar embora seus super poderes.”
Ela perdeu a decisão para a japonesa Noami Osaka em uma partida que mais uma vez teve polêmica pelas decisões da arbitragem, pelas punições aplicadas à tenista americana – que chegou a discutir com o árbitro durante o jogo -, e pela repercussão dada ao caso (“o chilique de Serena”).
“Eu já vi outros homens xingarem árbitros de diversas coisas. Estou aqui lutando pelos direitos das mulheres, por igualdade de gênero e por muitas outras coisas. Para mim, dizer ‘ladrão’ e ele me tirar um game, foi uma punição sexista Ele nunca tiraria um game de um homem que o chamou de ‘ladrão’. Por isso, é algo que me tira do sério. Mas vou continuar lutando pelas mulheres”, afirmou à época.
Depois disso, Serena Williams ainda foi eleita a mulher do ano pela revista americana GQ e agora teve o reconhecimento da Forbes como uma das mulheres mais poderosas influentes do mundo.
O que ela representa vai muito além do esporte, muito além das quadras: Serena representa os leões que as mulheres (principalmente as mulheres negras) matam todos os dias – e ela mata um por um, sem pestanejar. Mostra a todos que seu lugar é ela quem vai determinar. E em 2018, sua trajetória ficou ainda mais vencedora, mesmo que sem títulos de Grand Slam para comemorar.