Foto: Rodrigo Gazzanel / Agência Corinthians
Ferroviária e Corinthians reeditam a final do Campeonato Brasileiro de 2019 na quinta-feira (7) e no domingo (10), às 16h20 e 16 horas, respectivamente, com transmissão da TV Globo e do Sportv. De um lado, o clube mais vitorioso do país no futebol feminino chega à 7ª decisão seguida no torneio. Nas últimas seis temporadas, as “brabas do Timão” foram campeãs quatro vezes — nas outras duas, perderam para Santos (2017) e Ferroviária (2019). Do outro lado, a Ferrinha volta à decisão desde o bicampeonato conquistado há quatro anos.
Depois de 2019, ninguém desbancou o Corinthians no Brasileirão – Avaí/Kindermann, Palmeiras e Internacional tentaram, mas perderam as últimas finais de Brasileiro para o rival alvinegro.
Ainda em 2019, Corinthians e Ferroviária se enfrentariam na final da Libertadores, mas a equipe comandada por Arthur Elias levou a melhor na decisão vencendo por 2 a 0. Na edição seguinte, de 2020 (disputada em março de 2021), seria a vez da Ferroviária conquistar o título da Libertadores, mas sem o reencontro com o grande rival, que caiu na semifinal para o América de Cali.
Esses dois foram os últimos títulos da equipe de Araraquara, que também foi à final do Paulista em 2020 e acabou derrotada para o mesmo Corinthians na decisão, incluindo uma goleada por 5 a 0 na Fonte Luminosa. A rivalidade dessas duas equipes ainda é considerada a maior do futebol feminino, já que são frequentes os encontros entre esses dois times em decisões e, antes do Corinthians consolidar sua hegemonia, era a Ferrinha a grande protagonista da modalidade.
Final do Brasileiro em 2019
Nos últimos quatro anos de Campeonato Brasileiro, o mais longe que a Ferroviária chegou foi o 3º lugar em 2021. Mas a dona do gol da equipe de Araraquara manteve-se a mesma e a estrela dela também: Luciana defendeu duas cobranças na decisão de pênaltis contra o São Paulo e garantiu a classificação do seu time na final do Brasileirão 2023, assim como fez em todos os jogos do mata-mata na edição de 2019.
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Naquela ocasião, Luciana defendeu duas cobranças na decisão de pênaltis contra o Santos pelas quartas de final e classificou a Ferroviária. Nas semifinais, mais penalidades contra Avaí/Kindermann e Luciana fez outras duas defesas decisivas. Na final contra o Corinthians, a goleira foi fundamental nos 180 minutos de jogo (1×1 na ida e 0 x 0 na volta) para levar a decisão para as penalidades. E adivinha? Defendeu a cobrança de Tamires e garantiu o título da Ferrinha.
Há quatro anos, o Corinthians já era o time a ser batido no futebol feminino do Brasil, enquanto a Ferroviária havia avançado para a fase eliminatória como a sétima colocada, com 6 vitórias, 5 empates e 4 derrotas. “Quando a gente se classificou em sétimo lugar, muitas pessoas falaram que a gente não ia nem passar do Santos e outros times que viessem. E a gente se blindou de tudo e de todos. Nos fechamos e falamos: ‘vamos que dá, a gente acredita’, contou Luciana, na época.
E deu certo! De desacreditada à final, a Ferroviária encararia o grande Corinthians. “A gente já tinha perdido pra elas por 4×0 lá em casa, e depois perdemos aqui, por 5×1 pelo Paulista. Depois que acabou aquele jogo, ficamos muito abatidas e no vestiário a gente se fechou”, disse Luciana, no período. Mas o primeiro jogo da final, na Fonte Luminosa, em Araraquara, acabou empatado em 1 a 1.
“A equipe do Corinthians é muito qualificada, é muito difícil fazer gol nelas, todo mundo sabe. Tínhamos empatado com elas dentro de casa e sabíamos que poderíamos ganhar na volta, no tempo normal ou nos pênaltis, não importava, mas a gente tinha que ir pra cima delas. Era o último jogo!”, completou a goleira da Ferroviária, que acabou segurando o empate sem gols e desbancou o rival nas penalidades.
Corinthians: mais uma vez o grande favorito
Apesar de não confirmar o favoritismo no Brasileiro de 2019, o Corinthians manteve sua hegemonia nos anos seguintes e volta a enfrentar a Ferroviária na final na condição de favorito. O clube terminou a primeira fase na liderança da tabela, com 37 pontos. Foram 12 vitórias, um empate (com o Real Brasília) e duas derrotas (para Internacional e Kindermann). Na primeira fase, foi também o time de melhor ataque, com 53 gols, e da melhor defesa, com 8 sofridos.
Nas quartas de final, o Corinthians venceu o Cruzeiro por 6 a 3 no placar agregado (2×1 e 4×2) e, nas semifinais, derrotou o Santos por 5 a 0 no agregado (3×0 e 2×0). Além de ter se imposto durante o mata-mata sem passar sufoco, a equipe chega para a decisão sendo comandada por Arthur Elias, o mais novo técnico da Seleção Brasileira feminina. O treinador seguirá no Corinthians na reta final do Brasileiro e deixará o clube após a Libertadores, em outubro.
Motivação não há de faltar para que a saída de um dos responsáveis por transformar o Corinthians no projeto mais bem sucedido do futebol feminino no Brasil seja com chave de ouro. Qualidade no elenco também não será problema. Na primeira convocação que Arthur fez no comando da seleção, nove das 30 jogadoras são do Corinthians. Delas, a goleira Lelê, a lateral/meia Tamires e as meias Luana e Duda Sampaio estiveram na Copa do Mundo.
Lelê voltou a atuar em alto nível, é atualmente a primeira goleira da seleção e fez uma boa Copa do Mundo, apesar da campanha muito ruim do Brasil. Tamires é usada como meia mais adiantada no clube, dando muita qualidade e criatividade ao ataque. Após se recuperar de uma lesão grave em 2021, Luana foi reencontrar o seu bom futebol com paciência no Corinthians e, hoje, é uma peça que dá maior cobertura defensiva ao meio de campo corintiano, que ainda tem toda a qualidade de Duda Sampaio, revelação do Brasileiro de 2022 quando atuava pelo Inter.
Isso sem contar Jheniffer, a artilheira do Timão (10 gols e 4 assistências no Brasileiro), a decisiva Victória Albuquerque (9 gols e 3 assistências) e a habilidosa Gabi Portilho (3 gols e 8 assistências). É um elenco recheado de craques, que soube se reinventar com as mudanças de jogadoras nos últimos anos. Trabalho que passou pelo crivo de Arthur Elias. Com tanta qualidade dentro e fora de campo, é difícil não colocar o Corinthians como forte candidato ao título.
Ferroviária tem experiência no gol e joia no ataque
Do outro lado, a Ferroviária foi a terceira melhor equipe da primeira fase, com 34 pontos. Foram 11 vitórias, um empate com Cruzeiro e três derrotas para Corinthians, Flamengo e Palmeiras, com 38 gols marcados e 16 sofridos. No confronto direto entre os dois pela quarta rodada, a Ferrinha perdeu do Corinthians por 4 a 1, em Araraquara. Os gols foram marcados por Vic Albuquerque, duas vezes, Jaque Ribeiro e Jheniffer. Já Aline Gomes descontou para as Guerreiras Grenás.
Nas quartas de final, a Ferroviária passou pelo Internacional por 4 a 0 no placar agregado (1×0 e 3×0). Nas semifinais, abriu ótima vantagem no jogo de ida por 3 a 1, mas a derrota na partida de volta por 2 a 0 levou a decisão para a disputa de pênaltis. Circunstâncias ideias para a goleira Luciana mostrar por que é uma das maiores jogadoras da história da Ferrinha. Ela defendeu duas cobranças e garantiu a vitória da Ferroviária por 3 a 1 e a vaga na final.
Mas a Ferroviária não se garante só com a experiente Luciana na missão de fechar o gol. Uma das melhores jogadoras do campeonato é tida como uma joia da Ferrinha, tem apenas 18 anos e já viveu a experiência de ir para a Copa do Mundo como suplente da seleção brasileira. Aline Gomes é a artilheira do time, com 10 gols, e ainda soma 5 assistências.
Entre os destaque do ataque do time de Araraquara ainda estão a centroavante Laryh, que tem 9 gols marcados no Brasileiro, e a atacante Eudmilla, com 3 gols e 2 assistências, que foi convocada pela primeira vez para a seleção brasileira por Arthur Elias para Data Fifa de setembro.
No comando, tradicionalmente a Ferroviária tem sido o time a dar oportunidades para mulheres como treinadoras. Não à toa, a primeira técnica mulher a ser campeã brasileira foi Tatiele Silveira com a Ferroviária em 2019. E a primeira mulher a ser campeã da Libertadores no comando de uma equipe foi Lindsay Camila com a Ferroviária em 2020/21.
Desta vez, é Jéssica de Lima o nome que faz a diferença no comando técnico da Ferrinha. A ex-jogadora do Rio Preto, que disputou três finais de Brasileiro com o time (e foi campeã em 2015, vice em 2016 e 2018), começou a carreira na beira do gramado como auxiliar de Jonas Urias na seleção brasileira sub-20, em que conquistou o bronze na Copa do Mundo da categoria, e agora tem sua primeira oportunidade em um clube nacional.
Diante do desafio de fazer frente a clubes de grandes investimentos no futebol feminino – os times de camisa têm aumentado consideravelmente a folha salarial das equipes femininas -, a Ferroviária investe na base e na ótima estrutura fornecida às atletas para tentar se manter protagonista. E tem dado certo.
Uma final com ótimos ingredientes para dois grandes jogos. A disputa começa na quinta-feira, às 16h20, na Fonte Luminosa, e termina no domingo, a partir das 16h, na Neo Química Arena.