Foto: Federação Espanhola de Futebol
Num jogo com bolas no travessão, defesas espetaculares e pênalti desperdiçado, a Espanha superou o favoritismo inglês e conquistou, pela primeira vez e com placar mínimo, a edição 2023 da Copa do Mundo de Futebol Feminino. Vale destacar que essa foi a terceira vez que a Espanha disputou um Mundial feminino: em 2015 foi eliminada na fase de grupos e, em, 2019 caiu nas oitavas de final. O único gol da partida foi marcado por Olga Carmona aos 29 minutos do primeiro tempo.
A jogadora de 23 anos, que também marcou na semifinal contra a Suécia, comemorou o gol homenageando a mãe de sua melhor amiga, que faleceu recentemente. Ela escreveu “Merchi”, apelido de Mercedes, na camisa que usava por baixo do uniforme.
“Primeiramente quero dizer que essa vitória, isso que conseguimos, vai para a mãe de uma de minhas melhores amigas que faleceu recentemente. Comemorei o gol com sua camisa, o dedico a toda a família com todo amor. Foi uma partida muito sofrida, sabíamos que seria muito complicado, a Inglaterra tem uma autêntica equipaça. Mas creio que o jogo estava para nós, tínhamos a fibra de que podíamos conseguir, e… Estou sem palavras! Não sei o que dizer”, falou, emocionada, em entrevista ao final do jogo.
O gol teve participação de atletas dos dois maiores clubes espanhois: após roubada de bola e inversão de Teresa Abelleira, atleta do Real Madrid, para Mariona Caldentey, a atleta do Barcelona põe a bola em ponto futuro para que a madridista Olga chutasse cruzado para balançar as redes.
Antes do gol marcado, as principais chances foram de Lauren Hemp, que mandou a bola no travessão da goleira Cata Coll, e de Alba Redondo, que contou com defesa da goleira Mary Earps.
No segundo tempo, após constatação de mão na bola por parte da zagueira inglesa Keira Walsh, a arbitragem marcou pênalti a favor da Espanha. Jenni Hermoso foi para a cobrança, que foi defendida por Earps. A Espanha ainda teve chances de ampliar o placar com a própria Hermoso e Salma Paralluelo, que mandou bola próxima à meta inglesa.
Com essa conquista, a Espanha se junta à Alemanha como únicas seleções com Copas no masculino e feminino – curiosamente, com uma estrela para cada. O feito das mulheres foi comemorado por Iker Casillas, goleiro campeão do mundo pela Espanha em 2010.
Me altera mi tranquilidad! Esto es de ponerte cachondo! #Together ⭐️ ⭐️ pic.twitter.com/VvTWhXizR0
— Iker Casillas (@IkerCasillas) August 20, 2023
A base veio forte, mas tem treta na equipe
Com uma seleção jovem, a Espanha mostra que investimento nas categorias de base dá resultado: o país foi campeão mundial sub-17 e sub-20 em 2022, contando com a atleta revelação desta Copa, Salma Paralluelo, de 19 anos. Das sete últimas edições de mundiais sub-17, em cinco a seleção espanhola esteve no pódio: isso mostra que as jovens atletas vão se profissionalizando acostumadas a grandes competições e grandes jogos.
O entrosamento nas trocas de passes, marca característica do futebol espanhol, conseguiu envolver as adversárias, enquanto a defesa, principal fragilidade da equipe e que custou uma derrota para o Japão por 4 a 0 na fase de grupos, se aprimorou ao longo da Copa do Mundo: mesmo levando gols em todas as partidas do mata-mata, não passou de um por jogo. A exceção foi justamente na final, quando a defesa não foi vazada.
No entanto, nem tudo foram flores: a Espanha teve que superar problemas extracampo para conquistar o inédito título. As jogadoras e a comissão técnica não vivem bom momento desde o ano passado, quando as atletas pediram à Federação Espanhola de Futebol (FEF) mudanças no comando técnico e melhor preparo físico na seleção. Desde o episódio, que contou com trocas de notas oficiais e culminou com a não-convocação de jogadoras de ponta, o relacionamento delicado entre as atletas e o técnico, Jorge Vilda, tornou-se um “não assunto” presente: até as comemorações eram separadas.
Técnico de um lado, jogadoras de outro. A comemoração do título da Espanha na Copa do Mundo pic.twitter.com/4mN2bOK2s4
— Renata Mendonça (@renata_mendonca) August 20, 2023
Após a conquista do título, no entanto, a maior preocupação das atletas foi de “comemorar”. Aitana Bonmatí, eleita melhor jogadora da Copa do Mundo, não quis falar sobre o relacionamento com o técnico e com a comissão. “Acabamos de ser campeãs mundiais” foi uma frase repetida por quase todas as atletas. No entanto, a atual melhor jogadora do mundo, Alexia Putellas, falou que havia, sim, problemas antes do Mundial, em especial com relação à estrutura oferecida a elas. “A gente viajava de ônibus enquanto outras seleções viajavam de avião”. Ela pontuou que as reivindicações foram ouvidas pela federação após a carta em protesto que as jogadoras assinaram em 2022 e muitas coisas mudaram. Ainda assim, Putellas não falou especificamente sobre Jorge Vilda.
Do lado da treinadora da Inglaterra, Sarina Weingman, a frustração de bater na trave na segunda edição seguida: em 2019, enquanto treinadora da Holanda, ela ficou com o vice-campeonato ao perder para os Estados Unidos. Ainda assim, foi aplaudida em campo ao receber a medalha de prata, desta vez, com a Inglaterra. Mesmo sem conquistar a Copa do Mundo com as equipes que treinou, Sarina foi responsável por duas Euros, uma em 2017 com a Holanda e outra em 2022 com as inglesas.