Pia Sundhage já passou por diversas fases no comando da seleção brasileira feminina desde que assumiu a equipe, em julho de 2019. Ganhou título (Copa América), amargou eliminação (Jogos Olímpicos de Tóquio), perdeu durante o ciclo atletas/referências importantes (Marta lesionada), descobriu novos talentos para o seu time (Ary Borges e Duda Sampaio) e foi até indicada ao Fifa The Best como melhor treinadora (temporada 2022).
O que a sueca experimentará pela primeira vez é dirigir o time brasileiro em uma Copa do Mundo, na edição que será disputada na Austrália e Nova Zelândia, entre 20 de julho e 20 de agosto de 2023. Ter alguém no comando durante um ciclo inteiro é algo que não acontece há muito tempo com a seleção feminina.
“A expectativa é muito alta para a Copa do Mundo, é um ano importante, temos grandes jogos pela frente, grandes adversários. É importante falar desse ciclo que começou principalmente após os Jogos Olímpicos de Tóquio. Teve uma Copa América no meio do caminho, tivemos grandes adversários, diferentes tipos de estratégias de jogos, países diferentes, foi muito bom esse ciclo todo com a Pia conseguindo testar jogadoras, mantendo uma espinha dorsal há um tempo. Você vê a evolução de grandes atletas. Tem uma expectativa muito alta de fazer esse trabalho com todo mundo junto”, avalia Ana Lorena Marche, supervisora de seleções feminina da CBF.
Como chega o Brasil na Austrália/Nova Zelândia?
Todo e qualquer debate avaliando o período de Pia na equipe não pode se abster da pandemia de Covid-19. Aquele período não atrasou apenas a preparação da seleção principal, que ficou isolada de amistosos e treinamentos, mas também a de base, que tem fornecido à treinadora peças interessantes.
Dito isso, o Brasil chega às sedes da Copa do Mundo 2023 com pontos interessantes de serem avaliados. Até o momento, o retrospecto da seleção com Pia no comando é de 30 vitórias, 11 empates e 7 derrotas em 48 jogos, com 115 gols marcados e 34 sofridos.
A defesa é um dos pontos principais desse time que, em campo, passa por oscilações, é vulnerável, mas que tem evoluído. A goleira Lorena foi o destaque de um grupo que jogou abaixo do esperado na última Copa América (principalmente por conta dos adversários de menor qualidade), quando venceu de maneira invicta. A atleta do Grêmio não sofreu nenhum gol no torneio e mostrou segurança no posto.
Ao seu lado, Antônia, Tainara, Rafaelle e Tamires completam a defesa ideal. Porém, a lateral-direita passou recentemente por uma cirurgia no joelho e é dúvida para o Mundial. Bruninha (20), Tarciane (19), Lauren (20), Kathellen (26) e Fê Palermo (26) são as alternativas usadas por Pia para o setor.
No período de transição, Pia levou Formiga (hoje aposentada da seleção) para a sua sétima Olímpiada, deixou Cristiane de fora e inseriu caras novas na equipe para mesclar com as experientes Tamires, Bia Zaneratto, Debinha, entre outras. No meio, ficou sem Luana (por conta de lesão), peça-chave no time, já em Tóquio, e deu novas oportunidades a Andressa Alves e Ludmila.
Ter Ary Borges atuando em alto nível elevou as esperanças sobre um meio de campo carente, setor que perdeu Angelina por lesão e onde a seleção ainda sente falta daquela meia articuladora e criativa. Por ali, Duda Sampaio (21) também foi uma grata surpresa e Yaya (20), que subiu das categorias de base para a seleção principal em outubro de 2022, pode ser melhor preparada.
Para o Mundial, a expectativa é que Marta retorne ao time (aos 37 anos). E aí veremos o encaixe da camisa 10 com um bom ataque, que tem como opções Adriana, Geyse, Kerolin, Bia Zaneratto e, principalmente, Debinha, artilheira da era Pia com 28 gols em 20 convocações e indicada ao Fifa The Best.
Retrospecto Era Pia
Sobre desempenho, ainda há margem para evolução. As oscilações passam por intensidade física, emocional, compactação, pressão no campo adversário e até mesmo dificuldade de manter a concentração por 90 minutos.
Do Top 10 do Ranking da Fifa, o Canadá (6º colocado) foi a equipe que o Brasil (9º) mais enfrentou sob o comando da Pia. Nos sete jogos disputados entre eles, as brasileiras venceram três, perderam um e empataram outros três (sendo que um deles resultou na eliminação, nos pênaltis, da seleção brasileira nas quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio). Contra o líder do Ranking, os Estados Unidos, o Brasil computou uma derrota, por 2×0, em 2021.
No Torneio da França de 2022, a seleção brasileira empatou com a Holanda (8ª), em 1×1, e perdeu para as donas da casa (5ª), por 2×1. No mesmo ano, empatou com a Espanha (7ª), em 1×1, e perdeu para a Suécia (3ª), por 3×1.
Ainda tiveram as vitórias contra Noruega (13ª), por 4×1, e Itália (17ª), por 1×0. Na Copa América do ano passado, o placar mais magro foi justamente na final, contra a Colômbia, por 1×0.
Confrontos importantes antes da Copa
Vamos juntas, @PiaSundhage!
A técnica da #SeleçãoFeminina falou sobre a indicação ao prêmio de melhor treinadora pela @FIFAcom e da nossa artilheira, @Debinha7, que foi indicada como melhor jogadora! Confira! pic.twitter.com/2IGuT8AiRT
— Seleção Feminina de Futebol (@SelecaoFeminina) January 12, 2023
O primeiro compromisso do Brasil em 2023 é a SheBelives Cup. No torneio disputado nos Estados Unidos, entre 16 e 22 de fevereiro, a equipe de Pia Sundhage enfrentará, além das donas da casa, o Canadá e o Japão.
“Tem uma grande expectativa, agora, para os próximos jogos. Conseguimos grandes adversários para esta fase final de preparação (para a Copa do Mundo), especialmente a She Believes. Queríamos jogar contra um time da CONCACAF e vamos jogar contra dois (Estados Unidos, atual campeão da CONCACAF, e Canadá). Na She Believes, também vamos enfrentar um time asiático, que não tínhamos conseguido ainda: o Japão, que já foi campeão Mundial, é uma grande escola do futebol feminino e foi vice-campeão do Mundial Sub-20″, comemorou Ana Lorena Marche.
A supervisora de seleções feminina da CBF ainda exaltou a Finalíssima, que será disputada pela primeira vez na categoria feminina, em abril. Atual campeã da Copa América, a seleção brasileira jogará contra a Inglaterra, campeã da Eurocopa, em Londres.
“Contra o atual campeão europeu, não tem nem o que falar, o grande time a ser batido, a Inglaterra, com Wembley lotado, temos grandes expectativas para este jogo. São grandíssimos adversários para ver que nível realmente estamos e para chegar realmente no melhor possível na Copa do Mundo”, completou Ana Lorena.
Na Copa do Mundo deste ano, o Brasil está no Grupo F, ao lado de França, Jamaica e do vencedor do playoff entre Taipei, Paraguai, Papua Nova Guiné e Panamá, que será decidido em fevereiro. A seleção brasileira estreia em 24 de julho, no Hindmarsh Stadium, em Adelaide, na Austrália, contra um desses times que decidem o playoff, às 8h (horário de Brasília).