Copa América e Euro na TV: futebol feminino terá visibilidade histórica em julho

O mês de julho será do jeito que os amantes de futebol feminino gostam: repleto de transmissões do futebol das mulheres – brasileiras e estrangeiras – na grade de programação das TVs aberta, por assinatura e streaming.

O SBT e o Sportv farão a cobertura da Copa América, que será disputada na Colômbia entre os dias 08 e 30 de julho. Já a ESPN e o Star+ transmitirão a Eurocopa Feminina, que começa nesta quarta-feira (06) com Inglaterra x Áustria em campo, às 16h. Todos os jogos da competição serão transmitidos pelo Grupo Disney e divididos entre o streaming e os canais de TV.

E o que despertou o interesse dessas emissoras para apostarem no futebol feminino? Por muito tempo, o preconceito e a falta de interesse de grande parte da mídia fez com que as mulheres do futebol passassem anos atuando de maneira invisível, com pouca torcida e sem um registro sequer nos principais veículos do país. A Copa do Mundo Feminina disputada na França, em 2019, foi um grande divisor de águas para o momento que vivemos hoje.

Explicando com dados: na Olimpíada do Rio – que bateu todos os recordes de audiência na TV brasileira – a quarta maior audiência foi a do futebol feminino (nas quartas-de-final contra a Austrália). A semifinal contra a Suécia também esteve na lista dos 10 eventos mais assistidos pelos brasileiros nos Jogos. Mas aí vão dizer: tudo bem, era Olimpíada, todo mundo assiste a qualquer coisa na Olimpíada.

Após gol, Marta pede equidade de gênero no Mundial da França, em 2019 (Foto: Reuters)

Em 2019, o Mundial da França entregou altos índices de audiência, provando que se houver transmissão, haverá interesse do público. Na última Copa, o duelo Brasil x França das oitavas de final registrou mais de 35 milhões de pessoas assistindo à partida (somando a transmissão de Globo, Band e SporTV). 

Sem falar que até mesmo a final entre Estados Unidos e Holanda (ou seja, sem Brasil em campo), teve mais de 19 milhões de brasileiros assistindo, uma audiência maior do que a registrada nos dois países que disputavam o título. No mundo todo, mais de 1 bilhão de pessoas acompanharam o Mundial na França pela TV.

E é com base nesses números que a ESPN decidiu investir na competição europeia. “A expectativa de audiência é ótima em razão das boas respostas que a modalidade como um todo tem dado. Não só na ESPN. Vide os números e recordes alcançados desde a última Copa do Mundo, em 2019”, declarou Ivana Negrão, comentarista dos canais Espn / Star+ da ESPN Brasil ao Dibradoras.

Joana Thimoteo, Diretora de Eventos do Esporte da Globo, também declarou ao site que a emissora percebeu o potencial da modalidade após os bons índices de audiência. “A identificação do brasileiro com o  futebol feminino cresce a cada competição. Percebemos isso a cada edição dos Jogos Olímpicos e na Copa do Mundo da França, em 2019, por exemplo, quando transmitimos na TV Globo as partidas da seleção brasileira com recordes mundiais de audiência. Isso casa também com o momento do Esporte da Globo de dar mais espaço às mulheres na cobertura, de conversar com um público cada vez diverso e furar a bolha do futebol masculino.”

Copa América no SBT e Sportv
Título do Brasil conquistado na última edição, em 2018 (Foto: CLAUDIO REYES/GettyImages)

Podemos afirmar que a 9ª edição da Copa América Feminina – que existe desde 1991 – será a mais vista de todos os tempos. O feito será inédito, mas também não é algo difícil de alcançar, afinal, nenhuma das edições anteriores contou com cobertura dos jogos ao longo dos anos.

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Quatro anos atrás, o cenário foi bem diferente. Pouca gente soube que havia uma Copa América sendo disputada pelas mulheres e que ela valia vaga para Mundial e Olimpíada. Quase ninguém conseguiu acompanhar os jogos, aliás: não houve transmissão de nenhum deles em nenhum canal de televisão.

Os torcedores puderam ver alguma coisa apenas pelas redes sociais e pela CBFTV. De resto, nenhuma manchete de jornal, nenhum minuto divulgado pelos telejornais esportivos, nada. Não se falou sobre o feito da seleção feminina em competição disputada no Chile.

Em 2022, o cenário é bem diferente. A Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) vendeu para o Grupo Globo os direitos de transmissão e a emissora irá transmitir as partidas pela TV paga – oito jogos serão exibidos pelo Sportv (quatro do Brasil na fase de grupos, as duas semifinais, a disputa pelo terceiro lugar e a final). Já o SBT comprou o evento no ano passado, como parte da negociação para ter a Copa América masculina de 2021, e fará a transmissão dos jogos do Brasil.

Esta será a 1ª vez na história que a emissora paulista fará uma transmissão de futebol feminino e Juliana Mie Fujihira, gerente de produtos do SBT, declarou ao Dibradoras que a emissora deseja fazer parte do movimento de ascensão do futebol feminino no cenário nacional e proporcionar visibilidade tanto para as atletas, mostrar a diversidade do futebol e atender as expectativas dos espectadores. “Sabemos o quanto os brasileiros são apaixonados por futebol e a modalidade feminina é uma potência. A categoria vem atraindo cada vez mais interesse da audiência e das marcas, e como uma emissora conectada com os assuntos de interesse dos brasileiros fazemos questão de trazer esse produto para nossa programação”, completou.

Ainda segundo a executiva, a audiência feminina da emissora se interessa pelo produto. “O SBT conta hoje com uma forte audiência feminina. 67% de espectadoras no SBT apresentam adequação ao tema futebol. Acreditamos que a Copa América, vai despertar a audiência”, prevê.

Pelo Grupo Globo, Joanna reiterou que a emissora tem apostado na modalidade há algum tempo e que este deverá ser o caminho para o futuro. “Além de todas as competições nacionais, como o Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil, a Supercopa e as disputas das categorias de base, a Globo também adquiriu o direito de transmitir os amistosos da nossa seleção com exclusividade até o fim do ano que vem. Ter a Copa América neste portfólio reforça o nosso papel como a empresa de comunicação que é a parceira mais forte do futebol feminino neste momento no país. Queremos fomentar cada vez mais o interesse do público na modalidade. Ano que vem temos Copa do Mundo Feminina e queremos fazer ainda mais história.”

Eurocopa promete ser a maior de todos os tempos
Taça da Euro Feminina (Foto: Richard Juilliart – UEFA/UEFA via Getty Images)

A competição de seleções da Europa começa nesta quarta-feira (06) e tem tudo para entrar pra história. O evento vai acontecer na Inglaterra e, com mais de 500 mil ingressos vendidos, a expectativa é de uma audiência de 250 milhões de pessoas pelo mundo.

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Para transmitir a competição, o grupo Disney ganhou a “briga” com outras emissoras e, com ajuda do streaming, exibirá as partidas da Euro. “A equidade de gênero é uma meta da Disney como companhia e em todos os sentidos. Avançamos mais um passo nesse sentido e isso abrange todos os espaços possíveis dentro da empresa. O reflexo no vídeo é resultado de um esforço interno para garantir que cada vez mais tenhamos oportunidade para todos. É uma vitória para nós mulheres e para quem acredita e defende que o esporte é para quem o ama, independentemente de gênero, raça, cor”, declarou Ivana.

“O aumento do interesse (do público) acontece em razão da oferta maior de produtos. É um movimento natural, que comprova o que defendemos: público e interesse por futebol feminino há sim. Só precisamos ter mais times e competições organizadas, além de mais campeonatos transmitidos para dar possibilidade para que a modalidade se desenvolva, bem como mais pessoas possam consumir tudo isso”, concluiu a comentarista dos canais Espn / Star+ da ESPN Brasil

Mulheres na cobertura do futebol feminino

Quem também ganhou notoriedade no cenário foram as mulheres jornalistas que, há anos, ficaram restritas dentro da cobertura esportiva, ocupando cargos de reportagem e apresentação na maioria das vezes e pouco se destacavam em cargos opinativos.

Natália Lara e Fernanda Colombo
Natália Lara e Fernanda Colombo foram anunciadas pela Globo em maio de 2021 (Reprodução: Instagram)

O Grupo Globo vêm fazendo esse movimento de inclusão há algum tempo e, de acordo com Joana Thimoteo, a emissora pretende ampliar ainda mais as vozes femininas nas transmissões. “A Copa do Mundo Feminina de 2019 marcou a estreia de uma comentarista mulher nas nossas transmissões, a Ana Thaís Matos. Hoje temos duas narradoras (Renata Silveira e Natália Lara), três comentaristas fixas – a própria Ana Thaís, Renata Mendonça e Fabíola Andrade – e duas  comentaristas de arbitragem, a Fernanda Colombo e a Janeth Arcanjo. Fechamos a participação da Formiga nos jogos da Seleção feminina e na Copa América. Isso sem contar as repórteres. Mulheres que estão ocupando este espaço, diga-se de passagem, pela qualidade de seus trabalhos. Hoje essa equipe participa das transmissões masculinas e femininas da Globo, seja nos canais fechados ou na TV aberta. Esse ano teremos garantido Renata Silveira no time de narradores da Copa do Mundo do Catar na TV aberta. E isso é só o começo”, afirmou a diretora.

Para dar o pontapé inicial na cobertura do futebol feminino, o SBT também aposta nas mulheres, algumas delas já fixas do canal, como a apresentadora Domitila Becker e a analista de arbitragem Nadine Basttos, que já participam das transmissões dos jogos da Champions League e Conmebol Libertadores, além de terem quadros exclusivos no site do SBT Sports, falando sobre os campeonatos.


“Para a Copa América, nosso elenco contará com o reforço da Erika Cristiano, jogadora do Corinthians e da Seleção Brasileira (que está lesionada e não participará do torneio) como comentarista das partidas. A equipe de transmissão do SBT conta com o elenco esportivo da casa : Téo Jose e Alano (narradores), Mauro Beting e Erika Cristiano (comentaristas), Nadine (arbitragem) e Domitila, apresentando o intervalo do jogo e a repórter in loco Fernanda Arantes”, detalhou Juliana.

Falando sobre o retorno financeiro que o futebol de mulheres pode trazer às emissoras, Eduardo Becker, Diretor de Produtos Publicitários em Canais da Globo, afirma que a emissora têm notado um crescente interesse do mercado publicitário nas transmissões das partidas femininas. “Percebemos que os anunciantes também têm se identificado cada vez mais com a modalidade. Hoje, algumas das marcas parceiras da Globo são Betsson, Bradesco, Mastercard e Sportsbet.io, que apoiam as transmissões de competições como Campeonato Brasileiro Feminino e da Copa América Feminina, por exemplo.”

Para este primeiro passo de divulgação do futebol feminino, a Copa América no SBT contará com o patrocínio de Nívea, Banco do Brasil e participação de SEBRAE como anunciantes do torneio. Outras cotas ainda estão sendo negociadas.

Pelo Grupo Disney, as mulheres também comandarão as transmissões. A equipe de abertura da competição para o jogo entre Inglaterra x Áustria será composta por Luciana Mariano na narração com Mariana Spinelli nos comentários e Renata Ruel como comentarista de arbitragem.

Para o jogo de quinta-feira (07), entre Noruega x Irlanda do Norte, a equipe muda. Elaine Trevisan narra enquanto Mari Pereira comenta e Carlos Simon analisa a arbitragem.

2023 é ano de Copa do Mundo
Megan Rapinoe após marcar um gol contra a França na Copa do Mundo de 2019. (Foto: US Soccer)

Na próxima temporada, o futebol feminino seguirá em pauta, afinal é ano de Copa do Mundo. A competição será disputada pela 1ª vez em dois países – Austrália e Nova Zelândia – com início no mês de julho. Se há quatro anos o futebol das mulheres quebrou todos os recordes de audiência ao redor do mundo, em 2023 o impacto promete ser maior.

Já pensando nisso, o Grupo Globo se mobilizou e, no ano que vem, o Campeonato Brasileiro Feminino passa a ser exclusivo da emissora. “Além do Sportv, exibiremos a competição também na TV aberta, assim como já fazemos com a Supercopa e os amistosos da seleção feminina”, disse Joana.

E, pensando no Mundial de seleções, o grupo carioca já assegurou o direito de transmitir o evento no ano que vem, pela quarta vez consecutiva (o Sportv exibiu os jogos do Brasil na Copa em 2011 e 2015 sozinho e em 2019 junto com a TV Globo e o portal do ge, quando todos os 52 jogos foram transmitidos).

“Na última edição a cobertura contou com quatro equipes na França. De lá pra cá algumas mudanças se tornaram necessárias, especialmente por conta da pandemia, mas nosso desejo é de manter o tamanho da cobertura, com uma participação ainda maior de mulheres em diferentes posições, seja narrando, comentando, reportando, produzindo e liderando”, adiantou a Diretora de Eventos do Esporte da Globo.

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