Com mais de 500 mil ingressos vendidos, a UEFA Euro Feminina 2022 será a maior da história. A entidade anunciou na última sexta-feira (1º) que a competição terá quebra de recorde em comparação com as edições anteriores. A cifra representa vendas para compradores de 99 países diferentes, sendo a maior parte (cerca de 20%) para torcedores que vivem na própria Inglaterra.
Há meses, as nove cidades-sede receberam eventos itinerantes e atrações para incentivar a presença de torcedores nos estádios. Além disso, durante o torneio, os locais terão festivais com música, atrações para crianças, jogos e personalidades da história do futebol feminino. Em Londres, o festival vai ocupar a Trafalgar Square, um dos principais pontos turísticos da capital por cerca de uma semana.
Para comemorar o início do torneio, vários pontos turísticos de Londres foram iluminados com imagens das jogadoras da seleção pela Nike, com frases como “você nunca viu um ícone assim”, “você nunca viu poder assim”, “você nunca viu defesa assim” e “você nunca viu velocidade assim”. Nas imagens, Leah Williamson, Lucy Bronze, Demi Stokes e Lauren Hemp.
You’ve never seen an icon like this.
You’ve never seen power like this.
You’ve never seen defence like this.
You’ve never seen speed like this.#Lionesses | @NikeLondon pic.twitter.com/pv2pDW1XDl
— Lionesses (@Lionesses) July 4, 2022
A expectativa é de uma audiência de 250 milhões de pessoas pelo mundo. A UEFA acredita em um legado de mais 120 mil meninas e mulheres passando a praticar futebol regularmente nas cidades-sede. Além disso, a entidade aposta que 300 mulheres se qualifiquem pela FA para se tornarem treinadoras, e 350 para se tornarem árbitras.
Disputada desde 1984, a Euro feminina viu a Inglaterra chegar duas vezes à final: a primeira em 1984 e a segunda em 2009. A Alemanha, maior campeã da competição, tem oito títulos, seguida pela Noruega (2), Suécia (1) e Holanda (1). Esta última foi a sede e campeã da edição de 2017.
⚽ “Women’s EURO 2022 is a huge moment for us – the biggest ever – but it also gives us the platform to kick on and really take the game to another level.”
UEFA chief of women’s football, and 2013 winner, Nadine Kessler assesses the importance of #WEURO2022: ⤵️
— UEFA (@UEFA) July 4, 2022
A UEFA, entidade máxima do futebol europeu, tem visto um crescimento exponencial de interesse no futebol feminino desde a Copa do Mundo de 2019. Com ações voltadas especificamente para a modalidade, 42 das 55 federações afiliadas têm estratégias próprias para o futebol feminino em seus países. Nadine Kessler, atual chefe de futebol feminino da entidade e ex-campeã da Euro com a seleção alemã, afirmou em entrevista ao site da entidade que sente que a competição de 2022 vai refletir o grande ano do futebol feminino.
“A nossa estratégia vê o futebol feminino da base para cima. Estávamos determinados a transformar palavras em ações, e a primeira prioridade é aumentar a participação – todo o resto se desenvolve a partir disso”, explica. “A Euro Feminina é um grande momento para nós, o maior de todos, mas também nos dá uma plataforma para continuar e levar a modalidade a um novo nível.”
Públicos
Os ingressos para jogos da seleção inglesa, abertura (em Old Trafford, com capacidade para 74 mil pessoas) e final (Wembley, 89 mil pessoas) já estão esgotados, além de entradas para jogos de outras seleções na primeira fase. O primeiro e o último jogos devem quebrar recorde de público de jogos da história da competição – o maior até o momento foi a final de 2013, entre Alemanha e Noruega, com 41.301 pessoas na Friends Arena, em Estocolmo.
Pode parecer que a Inglaterra investiu bastante na organização do evento, mas nem sempre foi assim. As principais críticas à Football Association, a confederação de futebol do país, são com relação à escolha dos estádios. Enquanto a abertura será em Old Trafford, casa do Manchester United, e a final será no estádio de Wembley, principal cancha do país, as outras escolhas são consideradas pouco ambiciosas.
Entre os estádios, estão locais conhecidos dos fãs da Premier League, como os estádios de Brighton & Hove Albion, Southampton FC e Sheffield United, todos com capacidade para mais de 30 mil fãs. O estádio de Milton Keynes é outro que alcança a marca, apesar de menos conhecido. No entanto, alguns jogos serão disputados em arenas bem menores: Brentford, em Londres (com capacidade para 17 mil pessoas), o estádio das categorias de base e do time feminino do Manchester City (4,7 mil pessoas), Rotherham (12 mil pessoas) e Wigan & Leigh (8 mil pessoas).
Tendo escolhido as sedes em 2018, a Inglaterra iniciou as preparações para a Euro antes do boom do futebol feminino após a Copa do Mundo de 2019, na França, considerada um divisor de águas para a modalidade. Ainda assim, o crescimento de público e audiência não era totalmente inesperado. Já se esperava que a Copa do Mundo fosse uma catapulta para a modalidade na Europa, e a Inglaterra era um dos carros-chefe da mudança, com incentivos públicos à participação de meninas no esporte e aumento de investimentos dentro da FA desde os Jogos Olímpicos de 2012.
Além dos estádios menores não oferecerem a capacidade de público que jogos como um Alemanha x Espanha (Brentford) merecem, eles também não oferecem a estrutura adequada para que a mídia internacional possa acompanhar esses jogos. Nas redes sociais, jornalistas reclamaram bastante por terem pedidos de credenciamento negados para jogos importantes porque a sede tinha pouco espaço para a mídia.
Cidades-sede
Outro motivo de queixa para boa parte do público é a distância entre as sedes. Com jogos no norte e no sul do país, o público de outras regiões da Inglaterra precisa viajar de trem ou ônibus para assistir aos jogos. Os valores são altos e, como algumas partidas acabam às 22h, visitantes podem ser obrigados a passar a noite na cidade por não terem um trem para voltar.
Mesmo a Inglaterra sendo um país relativamente pequeno, com tamanho equivalente ao do estado de São Paulo, a locomoção entre o norte e o sul do país pode durar horas de trem e custar valores altos. Por exemplo, saindo de Oxford – onde eu moro – para Manchester, onde será a abertura, o trem custou cerca de 90 libras ida e volta; o valor passa dos R$ 570 reais.
As cidades também não são necessariamente as mais turísticas do Reino Unido. O que, por um lado, pode incentivar a visitação em locais como Milton Keynes, Wigan e Rotherham, que não são parte dos roteiros mais comuns pelo país. Isso também se reflete na ocupação de hotéis pelas cidades. Em Rotherham, cidade que receberá os jogos da França na primeira fase, quando se busca por hotéis próximos ao centro da cidade, só aparecem quatro quartos disponíveis. O custo de uma hospedagem para ver os três jogos da primeira fase passa dos 6 mil reais.
Grupo A: Inglaterra, Áustria, Noruega, Irlanda do Norte
As anfitriãs chegam à competição com o favoritismo do grupo e a pressão por um bom resultado. A Áustria, por sua vez, tenta repetir um bom resultado na Euro de 2017, quando chegou à semifinal. A Noruega conta com o retorno de Ada Hegerberg, o que promete uma boa briga pela liderança contra a Inglaterra. Já a Irlanda do Norte, estreante em grandes torneios no futebol feminino, tem um time composto por várias jogadoras amadoras e que têm empregos além do futebol, e a classificação já foi um grande sucesso.
Grupo B: Espanha, Finlândia, Alemanha, Dinamarca
O grupo B é o grupo da morte este ano. A Espanha, palco de grandes públicos e performances com o Barcelona, é cotada como uma das favoritas ao título. A Finlândia chega ao torneio em busca de uma classificação, mas tem grandes adversárias pela frente. Já as alemãs são as maiores campeãs do torneio e apostam na experiência misturada com jovens talentos para voltar ao topo. Por fim, as dinamarquesas, vice-campeãs em 2017, não podem ser desconsideradas da briga pela classificação.
Grupo C: Portugal, Suíça, Holanda, Suécia
Portugal assumiu a vaga da Rússia, desclassificada pela invasão à Ucrânia. Em 2017, caiu na fase de grupos, mas pode ser uma pedra no sapato das rivais. A Suíça, por sua vez, tem em Lia Wälti a esperança de um bom desempenho. Já as holandesas, atuais campeãs do torneio, devem brigar pela liderança do grupo com a Suécia, vice-campeã olímpica.
Grupo D: Bélgica, Islândia, França, Itália
A Bélgica, que estreou na Euro em 2017, chega à Inglaterra em busca de uma classificação após ser eliminada ainda na fase de grupos no último torneio. A Islândia, por sua vez, aposta na força da torcida – apesar de se queixar de ter dois jogos no menor estádio no torneio. A França tenta se recuperar de um ano repleto de polêmicas e da ausência de Amandine Henry por escolha da treinadora Corinne Diacre para tentar lutar pelo título. Por fim, a Itália pretende repetir o bom desempenho da Copa do Mundo de 2019, em que chegou às quartas de final, no torneio continental.
A partida de abertura da Euro será entre Inglaterra e Áustria, a partir das 16h desta quarta-feira (6), pelo Grupo A. A partida será transmitida na ESPN 4 e no Star+ com narração de Luciana Mariano e comentários de Mariana Spinelli e Renata Ruel. Todos os jogos da competição serão transmitidos pelo Grupo Disney e divididos entre o streaming e os canais de TV.