(Foto: CBF)
Nesta segunda-feira (6) a técnica Pia Sundhage convocou as 23 atletas (além de uma reserva) que irão representar o Brasil na Copa América Feminina. A competição, que garante os três primeiros colocados da Copa do Mundo de 2023 e dá vaga direta aos Jogos Olímpicos de 2024 ao primeiro colocado, vai ser disputada na Colômbia entre os dias 8 a 30 de julho.
CONVOCADAS DA @SelecaoFeminina PARA A COPA AMÉRICA E PARA OS JOGOS PREPARATÓRIOS DE JUNHO! ⚽ pic.twitter.com/57zL0vORXH
— Dibradoras (@dibradoras) June 6, 2022
A busca pelo oitavo título terá um marco importante. Será a primeira competição oficial da seleção feminina sem nenhum dos seus três grandes pilares nas últimas décadas: Marta, Cristiane e Formiga. Cris já não havia sido convocada para os Jogos Olímpicos de Tóquio, e Formiga se aposentou da seleção no fim do ano passado.
O que não estava nos planos era a ausência de Marta. A camisa 10 virou um desfalque importante por conta de uma lesão que sofreu no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo joelho em abril. Presente em três (2003, 2010 e 2018) das cinco edições do torneio continental desde que passou a vestir a camisa da seleção, Marta era o elo entre a geração que teve as principais conquistas pelo Brasil, e o time de novatas que está sendo formado.
“Todos sabem a importância que a Marta tem dentro da seleção, a liderança que ela tem. Com certeza vai fazer falta, como já está fazendo. Ela impõe muito respeito, é referência paras as meninas que estão lá dentro também, é uma líder. Acredito que muitas que estão acostumadas a jogar com ela devam ter sentido essa falta. Perdemos a nossa maior referência no futebol feminino. Espero que ela se recupere muito bem e possa voltar a liderar esse grupo até nesta renovação, no meio de muitas jovens”, comentou Formiga às Dibradoras.
Além disso, pela primeira vez desde a Copa de 1995, o Brasil não terá em uma competição oficial nehuma representante do chamado “trio de ferro” – Marta, Formiga e Cristiane – pilares do time nacional nas últimas décadas. Foram cinco Copas do Mundo com as três juntas (2003, 2007, ano do vice Mundial, 2011, 2015 e 2019) e quatro Olímpiadas (2004, 2008, 2012 e 2016; e duas medalhas de prata conquistadas). Formiga esteve na seleção desde 1995 e se aposentou no ano passado. Marta e Cristiane começaram a aparecer na equipe principal em 2003.
Enquanto desbravavam a modalidade e representavam o país nos principais torneios, o trio quebrou recordes atrás de recordes. Nas Copas, Marta se tornou a maior artilheira da história dos Mundiais com 17 gols (Cris tem 11) e Formiga, aos 41 anos, a recordista em participações em Copas do Mundo (7 no total); em Olimpíadas, Cristiane é a maior goleadora, com 14 gols (a Rainha tem 12). Oficialmente, apenas Formiga – hoje atleta do São Paulo – se despediu da Amarelinha, em novembro de 2021.
“Depois de tantos anos juntas, defendendo a camisa da seleção brasileira em campeonatos tão importantes, é meio estranho não ver o trio, mas a gente sabe que chega uma hora que uma vai sair, a outra também, não vamos ficar para sempre. Não vou dizer que fico satisfeita porque ainda não atingimos realmente o auge da modalidade por aqui, mas o que eu pude fazer, eu fiz, o que eu pude entregar, eu entreguei, então acredito que a Cristiane ainda tem a possibilidade de retornar à seleção, a Marta também vai dar continuidade, mas sem dúvida todos perguntam: ‘Cadê aquele trio?’”, disse Formiga.
Não é só dos números que nos despedimos. É também da história, dos momentos, da construção. Tivemos Marta, Formiga e Cristiane à frente de um projeto que praticamente nunca existiu, já que nunca recebeu o devido apoio e suporte. A modalidade no Brasil começou a ser vista com o devido respeito recentemente, com a CBF fortalecendo o Campeonato Brasileiro Feminino, trazendo profissionais capacitadas e que entendem do assunto tanto para ocupar cargos internos na entidade e também nas comissões técnicas.
“O nosso desejo, o nosso intuito era de doar toda nossa energia, tudo de si para melhorar a estrutura do futebol feminino, não só dentro da seleção brasileira, mas fora também. E vou estar aqui, de longe, torcendo bastante pela evolução, pelo crescimento da modalidade, assim tenho certeza de que o trio vai ser bem representado pelas meninas que chegam agora”, disse Formiga.
A tão esperada renovação
Na lista recém divulgada de Pia Sundhage, das 24 convocadas, onze nunca disputaram uma competição oficial pela seleção adulta. Aliás, apenas seis jogadoras já tiveram a chance de jogar uma Copa América: as goleiras Lelê e Luciana, a zagueira Rafaelle, a lateral Tamires e as atacantes Debinha e Bia Zaneratto. Há bons nomes para o meio de campo até então ocupado por Marta, mas a presença da camisa 10 vai além da bola, como já ressaltou Formiga e como comentou a treinadora do Brasil na coletiva de convocação.
“Quando uma jogadora como Marta não é convocada, outra pessoa vai ter que ficar nesse lugar, nossa função é saber olhar para elas e ver quem vai querer assumir essa posição. Temos muitas personalidades nesse time. Rafaelle, por exemplo, já está nesse time há algum tempo, Tainara também pode ser líder em diferentes formas, não só conversando, mas com exemplos, liderar através da ajuda às outras pessoas. A Antonia se comunica com os olhos, ela é séria e isso é uma excelente qualidade. Temos que ter paciência, vai ser uma estrada um pouco atabalhoada talvez, e vencer algo não é uma corrida de 100m rasos, é uma maratona. Temos paciência para isso, vamos dar o próximo passo adiante sim”, disse Pia.
O momento é importante e talvez tenha chegado mais tarde do que deveria. A passagem do bastão seria inevitável, mas pelo descaso que a CBF sempre teve com o futebol feminino, ainda não havia sido feito um trabalho efetivo de renovação que integrasse os jovens talentos que iam surgindo com as gerações anteriores. Agora, novos nomes estão ganhando oportunidades desde o fim dos Jogos Olímpicos e um novo ciclo começou. A treinadora sueca pede paciência para que as jogadoras mais novas possam errar e acertar e diz que acredita muito nos frutos que poderão ser colhidos com isso no futuro.
“Como comissão técnica, temos que ser corajosas. Corajosas para trazer essas jogadoras e ter paciência com elas. Sabemos que elas serão bem-sucedidas cedo ou tarde, então vamos dar tempo a elas”, afirmou a auxiliar de Pia, Lilie Persson.
Além da Copa América na Colômbia, as 24 convocadas disputaram amistosos contra a Dinamarca (15ª colocada no Ranking da FIFA) no dia 24 de junho, às 14h, no Estádio Parken, em Copenhague (DIN) e no dia 28 contra a Suécia (2ª colocada do Ranking da FIFA), às 13h30, na Friends Arena, em Estocolmo (SUE). Sem o trio, é momento de apoiarmos as que estarão em campo. Pela classificação, pelo título e pela história lindamente escrita até aqui.
“É bom que esteja acontecendo a renovação, que as meninas estão tendo oportunidades de jogar, que elas possam entender o processo, que não podemos parar de maneira alguma, independentemente se vai ter o trio ou não, mas que elas tenham consciência de que o trabalho é duro, é árduo, mas jamais fraquejamos. Que elas possam dar continuidade ao trabalho desse trio e tantos outros. Espero que a nossa torcida, o povo brasileiro, continue torcendo bastante, independentemente se está o trio ou não”, finalizou Formiga.