Tóquio 2020: 2 anos após parto difícil, ela virou maior medalhista olímpica da história

Aos 35 anos, a corredora americana Allyson Felix olha para essa foto ao lado da filha, a pequena Camryn, de dois anos de idade, e vê sua maior conquista no esporte e na vida. Não houve vitória maior em sua carreira do que a que teve ao conseguir dar luz à primeira filha após um parto difícil que, inclusive, quase a afastou de vez das pistas.

Na gravidez, Allyson Felix passou por complicações, viu sua vida e a de sua filha ficarem em risco. Ela descobriu que tinha pré-eclâmpsia grave (diagnóstico de hipertensão arterial e que pode gerar convulsões em mulheres; esse quadro é perigoso tanto para a mãe, quanto para o bebê). A americana teve um parto difícl e, assim que Camryn nasceu, prematura, a bebê foi direto para a UTI neonatal, onde precisou ficar por algumas semanas.

Felix teve dificuldades de se recuperar da cirurgia e do trauma, ficou algum tempo sem andar e ganhou bastante peso. Parecia improvável que ela seria capaz de voltar a correr, ainda mais em alto nível, para conquistar medalhas em Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos.

Foto: Reprodução Instagram

Mas quem duvidou, ficou com a cara no chão. Apenas 10 meses após o parto de Camryn, Allyson Felix estava competindo e batendo o recorde de Usain Bolt ao conquistar sua 12ª medalha de ouro em Mundiais – o fenômeno jamaicano tem 11.

E dois anos depois do nascimento da filha, a americana mostrou sua força desta vez nos Jogos Olímpicos de Tóquio, tornando-se simplesmente a maior medalhista olímpica da história entre as mulheres, com 11 pódios conquistados. Ela perde apenas para Paavo Nurmi, um corredor de longa distância da Finlândia, que tem 12 medalhas conquistadas entre 1920 e 1928.

Em Tóquio, com 35 anos de idade, Allyson Felix conquistou o bronze nos 400m, e o ouro no revezamento 4x100m. Essas medalhas se somaram aos seis ouros e três pratas que ela já tinha desde 2004, quando estreou em Jogos Olímpicos aos 18 anos.

Ela também se tornou a maior medalhista olímpica da história do Atletismo dos Estados Unidos, entre homens e mulheres, superando a marca de Carl Lewis, que conquistou nove ouros e uma prata em edições olímpicas entre 1984 e 1996.

‘Minha mãe é mais rápida que sua mãe’

A foto da pequena Camryn com sua mãe viralizou. Na camiseta dela, lia-se “minha mãe é mais rápida do que a sua mãe”. Aos dois anos de idade, talvez a menina ainda não consiga ter a dimensão dos feitos de Allyson Felix, uma das maiores corredoras da história, que estende sua importância também para fora das pistas.

Foto: Divulgação

Quando Felix engravidou, ela recebeu um corte de seu patrocínio junto à Nike. Em uma carta escrita ao jornal The New York Times, a corredora denunciou a empresa por ter oferecido um corte de 70% no seu contrato e por penalizar atletas simplesmente pelo fato de serem mães. Outras colegas endossaram o discurso de Felix no texto. Demorou alguns meses, mas a voz dela foi ouvida. A atleta recebeu uma resposta do vice-presidente de marketing global da marca reconhecendo o erro e mudando a prática com todas as atletas que engravidassem e tivessem contrato com a marca. Foi a atitude corajosa dela que fez com que a mudança acontecesse para todas que viessem depois.

E Allyson Felix seguiu provando que a gravidez não seria um ponto final na sua carreira, muito pelo contrário. Ela se reinventou, voltou mais forte, seguiu colecionando medalhas e mostrando que atletas-mães também podem ser campeãs.

Seria mesmo o fim?

Depois de ter batido o recorde de Bolt no Mundial do Qatar em 2019 (conquistando o ouro no revezamento 4x100m misto) apenas dez meses após o nascimento da filha, Felix desabafou: “É tão especial, ter a minha filha assistindo significa tudo para para mim. Tem sido um ano de louco. Tudo o que passei ao longo deste ano… É muito maior do que eu.”

Nos Jogos Olímpicos de Tóquio não foi diferente. Allyson Felix saiu da competição com duas medalhas conquistadas aos 35 anos e, desta vez, com a filha podendo vê-la nas pistas (mesmo que de longe), sabe que está deixando um legado para além das medalhas.

“Toda mãe tem um legado em formação – o meu é minha filha Camry. Como uma atleta olímpica, uma ativista e uma mãe, meu legado é maior do que medalhas – é mudar o mundo para a minha filha e para todas as filhas desse mundo”, escreveu ela em um post no Instagram na volta para casa quando reencontrou sua filha.

 

 

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Depois de ter conquistado sua 11ª medalha olímpica, Felix quis aproveitar o momento para entender o significado do seu feito. “Eu fechei meus olhos por alguns segundos e respirei fundo por uma última vez. Sinto que não tenho nenhum arrependimento. Eu dei tudo para o esporte e não tem nada nesse palco olímpico que eu ainda tenha que fazer”.

Ao que parece, ela se retira das pistas olímpicas em Tóquio para não voltar em Paris-2024. Mas em se tratando de Allyson Felix, é impossível prever que esse seja mesmo o fim. Alguém duvida?

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