Disputando sua segunda Olimpíada aos 27 anos e subindo ao pódio pela primeira vez, a ponteira Gabi conquistou a medalha de prata com o time brasileiro após derrota para os Estados Unidos na final do vôlei em Tóquio, por 3×0.
“Convocada” pelo técnico Zé Roberto como uma das principais atletas para comandar uma renovação na equipe, a jogadora revelou que seu desejo em atuar na modalidade despertou quando ela assistiu pela TV a conquista da primeira medalha de ouro das mulheres em Pequim-2008.
“Quando olhei para a medalha, foi muito louco. Eu sempre fui apaixonada por esportes em geral, pratiquei muitas modalidades. Comecei a jogar vôlei e criei essa paixão pelo esporte assistindo a Olimpíada de 2008, vendo tudo que as meninas passaram no ciclo, de muita dúvida, de serem chamadas de ‘amarelonas’, e elas viraram a chave e conquistaram o ouro”, declarou Gabi na zona mista, após a premiação.
As eliminações constantes diante de Cuba e a derrota dolorosa na semifinal em Atenas-2004 diante da Rússia, quando estavam prestes a disputar uma final olímpica, fizeram com que muitos (público e imprensa) taxassem a seleção feminina de vôlei como “perdedora e amarelona”.
A redenção veio em Pequim-2008 e Londres-2012, quando as jogadoras conquistaram o ouro sob a batuta de Zé Roberto – derrotando a seleção americana por duas vezes na campanha, incluindo na final.
Na hora da premiação, foi inevitável para Gabi não se lembrar dessas conquistas que, de certa forma, marcaram o início de sua carreira no vôlei.
“Me veio uma emoção muito grande lá no pódio, porque era um sonho de criança fazer uma final olímpica, trazer uma medalha pro Brasil e poder representar todos os brasileiros”, conclui.
De desacreditadas a finalistas
A derrota para os Estados Unidos por 3×0 deixou claro que as americanas conseguiram impor seu jogo com facilidade para cima do Brasil. Em um dia em que tudo funcionou para a equipe adversária – defesa, bloqueio e ataques – Gabi confirmou que o time não conseguiu desempenhar seu melhor voleibol em quadra.
“O mais difícil pra gente foi não ter conseguido colocar em prática o jogo que a gente vinha apresentando na competição. Taticamente, o nosso jogo não fluiu e foi mérito das americanas.”
“A gente tentou buscar e não conseguiu. Ao mesmo tempo, depois que passa essa tristeza, só vem orgulho e felicidade. Não éramos favoritas e mostramos que tínhamos capacidade. Não largamos a mão uma da outra em momento algum. Individualmente não somos a melhor equipe, mas se jogarmos com essa entrega temos boas chances em Paris-2024”, analisou.
Uma mais do que especial!
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— Time Brasil (@timebrasil) August 8, 2021
Para disputar essa Olimpíada, a seleção sofreu com baixas importantes, como as dispensas das centrais Fabi e Thaísa, a suspensão de Tandara por doping antes da semifinal e algumas lesões enfrentadas por jogadoras importantes, como Fernanda Garay.
Além disso, uma renovação começou a ser feita. Muitas delas disputaram os Jogos Olímpicos pela primeira vez, como as levantadoras Macris e Roberta, a central Carol e a ponteira Ana Cristina.
Mesmo diante das baixas, Gabi valorizou a entrega e a união do grupo. “Muita gente não acreditava que a gente tinha a capacidade de fazer essa final olímpica. A experiência foi muito positiva, nos unimos, deixamos os problemas de lado e acreditamos umas nas outras. E essa vai ser a força do Brasil. Temos que levar essa experiência para o próximo ciclo pra quem fica (no time) entender que o detalhe e a entrega no dia a dia faz a diferença”, reforçou.
Figurando no topo do voleibol há mais de uma década, exige-se muito do time feminino. E Gabi falou sobre essa constante cobrança.
“A gente realmente sofre. Uma coisa que ressaltamos muito é que deveríamos valorizar essa prata e o pódio também. Estamos há muito tempo disputando finais e hoje, o nível do voleibol feminino é muito grande, são 5, 6 equipes brigando por ouro num nível muito grande”, afirmou.
“A gente abre mão de muita coisa e toma pancada. Se ficamos fora de um pódio, ouvimos ‘ah, as meninas não têm capacidade’. O que a gente escutou nesse ciclo foi que não faríamos essa final, que talvez brigaríamos por um bronze, isso serviu de motivação pra gente, usamos isso como força do tipo ‘nós podemos’. Quanto mais criticavam, mais a gente se uniu. E o resultado dessa prata vem muito disso”, reiterou a ponteira.
Independente do degrau do pódio, Gabi saiu do jogo com o semblante tranquilo e feliz. A garotinha mineira que vibrou assistindo a conquista das mulheres em 2008, derrubando um estigma negativo, comemorou sua conquista dentro de quadra – ao lado de suas companheiras – projetando um futuro dourado pela frente.
“Quando peguei nessa medalha eu pensei: não tem nada de frustração. A gente entregou tudo que podia e recebemos uma prata que vale um ouro, sem dúvidas nenhuma. Essa medalha traz muita esperança. Eu acreditei nos meus sonhos, ainda quero ainda ser campeã olímpica e vou correr atrás desse sonho”, finalizou.