Há oito anos vestindo a camisa da seleção brasileira, Tamires é um dos pilares dessa equipe da técnica Pia Sundhage. A jogadora do Corinthians está na sua segunda Olimpíadas, e nesta quinta-feira (22) conversou com os jornalistas em coletiva de imprensa.
A seleção brasileira estreou na Tóquio 2020 com vitória após golear a China por 5 a 0 (Marta duas vezes, Debinha, Andressa Alves e Bia Zaneratto). Tamires aprovou o desempenho do time neste primeiro jogo e elogiou o trabalho da comissão técnica.
“Estreia sempre bate apreensão de como vai ser. No primeiro momento ficamos um pouco nervosas, mas olhamos no olho uma das outras, sabíamos o que precisávamos fazer, o que a Pia queria que fizéssemos. Fomos bem preparadas pela comissão técnica, sabíamos da forma como a China jogava, com duas ponteiras que cortavam por dentro, então estávamos preparadas pra isso e nos comportamos muito bem”, disse a jogadora.
Ainda sobre a partida, a atleta destacou a parte ofensiva brasileira. “O ponto positivo foi que conseguimos ajustar bastante o meio de campo pra girar essa bola, tivemos saída de bola no chão, não alçamos muitas bolas. Fomos eficientes em seguir o que a Pia sempre pede das atacantes. Então a Bia e a Debinha se movimentando bastante, Duda e Marta fazendo trabalho entrelinhas, tendo espaço pra girar. Foi demonstrado dentro de campo o que treinamos”, completou a lateral.
Pelo placar elástico, pode não parecer que o Brasil chegou a tomar “sufoco” das chinesas. Porém, na volta do segundo tempo a seleção cometeu alguns erros que proporcionaram chegadas perigosas ao gol de Bárbara.
“A gente já tinha conversado antes em uma das nossas reuniões que durante o jogo, se fizemos dois gols levando vestiário o resultado positivo, como iríamos lidar, e foi o que aconteceu. A Pia nos falou no intervalo: ‘Está 2 a 0, mas é um resultado perigoso’, ela já tinha nos preparado mentalmente, e falamos: ‘Vamos em busca do nosso terceiro gol’. Na volta sofremos um pouco, alguns perigos, bola na trave, mas soubemos reorganizar a equipe e tivemos muita eficiência pra achar o terceiro, o quarto e o quinto gol jogando da forma que a Pia queria. Agora é melhorar a nossa compactação”, explicou Tamires.
O próximo adversário do Brasil nos Jogos Olímpicos é a Holanda e essa partida é vista como o grande teste para a seleção brasileira nesta primeira fase. Para Tamires, é bem por aí. “A gente conhece um pouco mais o estilo europeu de se jogar, de mais velocidade, que explora as beiradas. Espero que possa ser um bom desafio pra gente que vem trabalhando bastante a linha defensiva, compactação, vem usando bastante nosso meio de campo pra fazer essa ligação com o ataque. Nosso trabalho vem evoluindo conforme o tempo”, afirmou a lateral.
A Holanda também estreou com goleada: 10 a 3 na Zâmbia. Para muitos, foi uma surpresa as holandesas tomarem três gols da equipe mais fraca do grupo, mas para Tamires, o mérito foi das adversárias. “No nosso último amistoso contra elas (0 a 0) vimos que elas realmente não têm uma linha defensiva tão rápida quanto a de frente. Temos que tentar usar desse ponto forte do Brasil, da velocidade que a gente tem, tanto nas beiradas quanto com as duas atacantes. E não acho que foi relaxamento das holandesas, acho que foi mérito da Zâmbia”, pontuou a atleta.
Os caminhos até Tóquio não foram como o planejado desde a chegada de Pia, em 2019. A pandemia da Covid-19 atrapalhou a preparação do Brasil, e antes de embarcar para o Japão, a seleção ficou concentrada em Portland, nos Estados Unidos. Para Tamires, esse tempo foi crucial para a interação das atletas e da comissão.
“A preparação foi muto intensa, tivemos quase três semanas em Portland, todos os dias trabalhamos bem forte, treinos específicos para a defesa, o meio, o ataque. Sabemos hoje muito bem como cada uma joga para explorar nossas qualidades. Temos a Ludmila muito rápida, então quando ela entra todas nós vamos explorar a forma de jogar dela, a Bia (Zaneratto) fazendo pivô, Debinha muito rápida, então juntas temos sido muito fortes. A seleção é muito unida nesse sentido, a atitude da Marta de ter deixado a Andressa (Alves) bater o pênalti demonstra como estamos juntas por um só objetivo. Tudo isso ajuda muito o processo”, afirmou Tamires.
Em seguida, a lateral comentou sobre o pouco tempo de descanso entre uma partida e outra e ressaltou a importância do trabalho psicológico na seleção. “Aqui parece que estamos em Manaus por conta do calor (risos). A gente sua muito, é abafado, transpira demais, mas estamos sabendo lidar, fomos bem preparadas pra esse momento. Espero que possamos manter essa consistência física, teremos jogos difíceis, pouco tempo de descanso, jogos supercompetitivos que desgasta e demanda energia. Estamos com a cabeça muito boa, é muito importante esse trabalho mental, alinhado ao corpo podemos enfrentar qualquer caminho que vem pela frente”, disse a atleta.
Brasil e Holanda se enfrentam neste sábado (24), às 8h horário de Brasília. Não vai ser preciso novamente madrugar para acompanhar este jogo, mas se fosse, Tamires acredita que a torcida brasileira não iria decepcionar. “O que a gente vem conquistando tem que ser muito valorizado. Fico feliz de fazer parte desse momento que o futebol feminino está vivendo. Ver tantos torcedores acordando às 5 da manhã, mandando mensagens, isso motiva a gente, é muito legal ver que o fuso é mínimo pros torcedores que torcem por nós. Faz valer o que vem acontecendo na nossa modalidade, sendo inspiração pra tantas meninas que hoje têm oportunidades de jogar bola, é um trabalho que vem sendo feito há muitos anos por muitas atletas”, explicou a camisa 6.
Por fim, a única mamãe do grupo revelou o pedido do filho Bernardo nesta sua viagem a Tóquio. “O Bê pediu coisas de videogame, ela é louco pelo jogo Fortnit, quer que eu leve um videogame. E ele não me pediu dança, mas se eu fizer gol, vou dançar”, brincou Tamires.