Por que esse Liverpool merece ganhar a Champions League

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Assim como aconteceu nos últimos dois anos, o Real Madrid chegou de novo à final da Champions League – e assim como foi em 2016 e 2017, chegou com toda pinta de favorito. Racionalmente, é difícil apostar em qualquer outro destino para a Orelhuda que não a capital espanhola pela 13ª vez.

Só que futebol, ainda bem, não se resume à racionalidade. Ele é um misto de razão e emoção e ganha quem consegue equilibrar isso melhor – principalmente em um campeonato que termina com jogo único em campo neutro. E é por isso que, nesta Champions, eu acredito que vai dar Liverpool.

É claro que essa conclusão não se baseia pura e simplesmente na análise tática e técnica dos dois times.  Comparando jogador por jogador entre Liverpool e Real Madrid, é claro que o time espanhol sai na frente – até mesmo pelo tamanho do investimento que faz para manter sua equipe. Mas o objetivo aqui é sair do óbvio para mostrar como o Liverpool chegou nessa final (que, para muitos, era um pouco improvável no início da temporada) e, mais do que isso, como ele pode vencer o poderoso atual bicampeão da Champions.

Ao contrário do que talvez possa parecer, a força desse Liverpool não está (só) na excelente fase de Salah, nem na habilidade de Firmino ou na precisão de Mané. A força desse time tem um nome: Jürgen Klopp.

Foto: AFP

O treinador que levou o “modesto” Borússia Dortmund à final da Champions League em 2012-2013 batendo justamente o Real Madrid nas semifinais mesmo com um investimento bem aquém dos outros grandes da Europa é um dos técnicos “mais completos do mundo”, como bem o definiu um amigo jornalista esportivo e torcedor fanático do Liverpool, Mamede Filho.

Isso porque ele consegue unir razão e emoção para tirar o melhor de um time. É a tática e o coração combinados em uma receita (quase) perfeita. Quase porque nem sempre dá certo – e perfeita porque, quando dá, consegue resultados históricos que pareciam pouco prováveis.

“Ele mudou a mente de todos nós, a maneira como pensamos. Mesmo quando nós às vezes não jogamos bem, ele sempre encontra algo bom e não fica só no negativismo”, afirmou o zagueiro Dejan Lovren.

“Klopp merece isso. Não é por acaso que ele já chegou na final antes com o Borussia. Ele devolveu o orgulho a esse clube, todo mundo sente isso”, completou.

É claro que a emoção, sozinha, não ganha jogo. Mas se ela estiver aliada ao esquema tático certo, pode até fazer realidade aqueles feitos que pareciam milagres – vide o que fez a Roma eliminando o Barcelona após ter tomado 4 a 1 no jogo de ida, e o próprio Borussia de Klopp eliminando o Real por 4 a 3 no agregado das semis em 2013 (sendo o primeiro jogo uma goleada por 4 a 1).

Caminho do Liverpool

O Liverpool sofreu com algumas lesões ao longo dessa Champions e viu seu jogador mais habilidoso (Philipe Coutinho) deixar o clube para ir para o Barcelona. E ainda assim, o time não se abalou e chegou a essa decisão após atuações memoráveis contra o Manchester City (do tão elogiado Pep Guardiola) e contra a Roma na primeira partida no Anfield.

O próprio Klopp não achava que tamanho feito seria possível quando estava começando a temporada.

Foto: Reuters

“Nós não estávamos sequer classificados para a Champions, tivemos que jogar a eliminatória, e não sei qual outro clube chegou à final tendo disputado a eliminatória. Os jogadores realmente se superaram. Eles viram essa competição como uma oportunidade”, afirmou o técnico.

Agora, às vésperas da decisão, ele resume o que seu time precisa para derrubar o Real Madrid: vontade.

“Nós não estamos há tanto tempo jogando juntos como o Real, eles jogaram as últimas finais praticamente com o mesmo grupo, então estão muito fortes. Isso é fato, mas ainda é futebol e se temos uma chance, então vamos tentar. Vamos chegar lá e tentar uma performance que as pessoas podem pensar não ser possível para nós, mas é possível. Estamos cheios de vontade e trabalhando pelos nossos sonhos”, pontuou Klopp.

A construção desse Liverpool pelo treinador não começou ontem. Ele chegou há 3 anos com o objetivo de recolocar o Liverpool entre os grandes campeões da Europa. Foi modelando essa equipe e criando a carcaça que um time precisa para ser campeão: mais do que habilidade, vontade. Mais do que jogar bem, precisa também acreditar muito. E é isso que esse Liverpool tem demonstrado dentro de campo.

Contra a Roma em casa, aquele time deixou muito claro que não estava ali por acaso. Foram mais 20 minutos sufocando os adversários italianos – e houve um momento em que a impressão que dava era que só tinha um time em campo: o Liverpool.

Pontos fracos

Mas é claro que nem tudo são flores na equipe de Klopp, e o segundo jogo da semifinal também evidenciou isso. A fragilidade de uma defesa que, de repente, pode por tudo a perder.

“O Liverpool está sendo construído à imagem do que o Klopp entende como o futebol deve ser jogado. Ele acredita num estilo de moderno, mas ao mesmo tempo romântico. Um estilo de jogo veloz, que priorize o ataque, que faça muitos gols mesmo que pra isso sofra alguns pelo caminho”, observou o jornalista Mamede Filho.

“O ponto forte do Liverpool de Klopp será sempre o ataque e o ponto fraco será sempre a defesa, porque é assim que ele acredita que o futebol deva ser jogado.”

E é exatamente por isso que, numa final com ida e volta, dificilmente esse Liverpool teria chance de bater o Real Madrid. Mas como o jogo é único, o desafio – apesar de difícil – se torna mais possível.

O Real é um time completo, com uma defesa sólida, um meio-campo versátil e surpreendente e um ataque fulminante. Uma equipe que, por estar formada já há algum tempo, erra pouco e, além de contar com a genialidade de Cristiano Ronaldo na frente, tem contado também com a multi-funcionalidade de Marcelo, que vive seu auge no futebol e é muito mais do que “apenas” um lateral esquerdo (o melhor do mundo na posição, diga-se).

Por tudo isso, a missão do time de Klopp no sábado pode ser chamada “quase impossível”. Mas ele tem o elemento certo para conseguir sucesso nela. Contra a perfeição do Real Madrid, Klopp já tem sua estratégia montada – e talvez seu melhor esquema tático não esteja distribuído no campo, mas sim no coração dos jogadores.

No aspecto do “me-re-ci-men-to”, como gosta de repetir Tite, talvez esse Liverpool de Klopp já largue na frente pela conquista da Champions League. (Afinal o Real já ganhou as últimas duas, já dá para deixar pros próximos, rs).

*Renata Mendonça está em Kiev para a final da Champions League a convite da Lays.

 

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