Nova Zelândia anuncia igualdade salarial no futebol para seleções

Foto: Divulgação New Zealand Football

Nesta terça-feira, a Nova Zelândia fez um anúncio histórico. A confederação de futebol do país determinou que a partir de agora as seleções masculina e feminina receberão o mesmo pagamento por direitos de imagem e premiação.

“O anúncio de hoje significa que, como uma organização, nós estamos comprometidos com a igualdade entre homens e mulheres no futebol e com a evolução em todas as áreas do nosso esporte”, afirmou Andy Martin, presidente da confederação.

O dirigente ressaltou que as duas seleções serão tratadas de maneira igualitária e receberão as mesmas condições salariais. A equipe feminina da Nova Zelândia tem melhorado ano a ano sua performance e está hoje em 20º lugar no ranking da Fifa, enquanto a masculina figura em 133º.

A atacante da seleção neozelandesa, Sarah Gregorius, afirmou que esse é um reconhecimento importante à conquista das mulheres na modalidade.

“Não importa quem você seja, nem o gênero, quando você veste a camisa da Nova Zelândia, você deveria receber o mesmo tratamento e respeito”

São poucos os países que adotam a mesma regra para equipes masculinas e femininas – tanto no futebol, quanto em qualquer outro esporte. A Noruega anunciou essa mudança recentemente e a Islândia também tem a mesma prática.

 

Mudanças no futebol feminino ao redor do mundo

Nos últimos anos, o futebol feminino tem vivido transformações em todo o mundo. Por influência da Fifa, de confederações e federações locais e também por uma “pressão social” pedindo igualdade de gênero também no esporte, clubes e seleções têm conseguido um desenvolvimento de “50 anos em cinco”, no melhor clichê político brasileiro de Juscelino Kubitschek.

Na Inglaterra, a transformação aconteceu principalmente depois de um jogo da seleção inglesa na contra a seleção brasileira em 2012, cujo público de 70 mil pessoas em Wembley (e a audiência de mais de 4 milhões de pessoas na TV aberta) fez abrir os olhos da Federação para o potencial desperdiçado no futebol feminino. O resultado do trabalho que vem sendo desenvolvido no país se refletiu no sucesso da final da última FA Cup, que aconteceu no sábado no mesmo estádio de Wembley: mais de 45 mil pessoas estiveram lá para ver o Chelsea Ladies vencer o Arsenal Women e ficar com o caneco.

Foto: Divulgação

No México, os resultados parecem estar aparecendo de forma ainda mais rápida. Em dezembro de 2016, foi criada no país a liga de futebol feminino chamada Liga MX Femenil para reorganizar um campeonato nacional para a modalidade. A primeira edição aconteceu em 2017 com o torneio Apertura e teve 28.955 pessoas presenciando o primeiro jogo da final entre Pachuca e Guadalajara e 32.466 vendo o segundo jogo no estádio Chivas em novembro.

Já no último final de semana, esse recorde de público subiu ainda mais. O torneio Clausura, a segunda edição do Campeonato Mexicano de futebol feminino, chegou ao fim na última sexta-feira com mais de 50 mil pessoas enchendo o estádio do Monterrey em Guadalupe para ver o time da casa disputar contra o Tigres o título nacional.

 

Foi um novo número impressionante para uma competição que começou há tão pouco tempo e parece já ter caído nas graças do público mexicano. No jogo de ida, foram 38 mil pessoas no estádio do Tigres para ver o empate em 2 a 2. Depois, a partida decisiva quebrou o recorde do recorde, com 51.211 pessoas nas arquibancadas presenciando o título do Tigres nos pênaltis.

Tanto o jogo da final da FA Cup, quanto o da final do Mexicano tiveram transmissões de TV. Na Inglaterra, a BBC One mostrou a partida, enquanto no México a Fox Sports transmitiu a decisão com direito a comentários femininos no microfone.

Foto: Divulgação

Enquanto isso, no Brasil, não vemos a mesma evolução. O Campeonato Brasileiro de futebol feminino perdeu seu único patrocinados (a Caixa Econômica) e não está sendo transmitido em nenhum canal de TV – no ano passado, a TV Brasil e o SporTV mostraram alguns jogos.

O público tem, sim, mostrado interesse – quando o horário e a divulgação ajudam. No ano passado, por exemplo, o Iranduba, de Manaus, acumulou recordes na Arena da Amazônia – foram mais de 17 mil pessoas nas arquibancadas na partida contra o Flamengo e mais de 25 mil na semifinal contra o Santos.

O time da Vila Belmiro, por sua vez, também teve estádio lotado em 2017 para ver o futebol feminino. Mais de 16 mil pessoas (lotação máxima) estiveram nas arquibancadas para ver as Sereias da Vila vencerem o Corinthians na final do Brasileiro.

No entanto, os jogos de 2018 ainda não tiveram público superior a 5 mil pessoas – o maior deles foi próximo disso na estreia do time feminino do Corinthians na Arena em Itaquera. Os horários dos jogos não colaboram para mudar esse cenário: fica difícil ter arquibancada cheia em uma partida às 15h de uma quarta-feira, como acontece com a maioria dos jogos no Brasileiro Feminino.

Mais do que isso, fica difícil ver arquibancada cheia quando as pessoas sequer sabem que está acontecendo um Campeonato Brasileiro de futebol feminino. Não há notícias, coberturas, nem nada por aí sobre o torneio. Corintianos, flamenguistas, santistas, muitas vezes sequer sabem que seus times têm equipes femininas disputando título no torneio nacional.

Planejamento

Tudo isso que acontece no México e na Inglaterra não tem vindo à toa. Há um planejamento, um investimento e, acima de tudo, uma vontade para fazer acontecer que está transformando a realidade do futebol feminino.

Vila Belmiro lotada para a final do Brasileiro feminino em 2017 (Foto: Rádio Coringão)

Na Inglaterra, por exemplo, há um plano lançado em 2017 para dobrar o número de meninas e mulheres jogando futebol – e também o público do futebol feminino – até 2020. Ele foi lançado pela FA (Federação Inglesa) e inclui ações como “construir um sistema sustentável de alto nível de desempenho para o futebol feminino; aumentar a diversidade de mulheres ocupando o posto de treinadoras,ábitras e dirigentes; desenvolver oportunidades e infraestrutura para as meninas no futebol; melhorar as possibilidades comerciais para o futebol feminino”.

Ter um plano é o primeiro passo para desenvolver uma modalidade que ainda sofre tanto com o preconceito e com os retrocessos de uma proibição que tirou as mulheres dos gramados por 40 anos (o futebol feminino foi proibido por lei no Brasil de 1941 a 1979). E, na Inglaterra, quem está por trás de tudo isso na FA é uma mulher: Sue Campbell, que é graduada em Educação Física, acumula uma série de especializações na área e ocupou o posto de “Chefe do Conselho de Esportes” no Reino Unido em 2003 – hoje, ela é chefe de futebol feminino da federação.

O desenvolvimento é nítido. A própria seleção inglesa reflete as consequências e chegou a ser semifinalista na Copa do Mundo de 2015 – hoje, já é vice-líder do ranking de seleções da Fifa, atrás apenas dos Estados Unidos e à frente da campeã olímpica Alemanha.

Enquanto isso, o Brasil figura em oitavo do ranking, caiu nas oitavas de final na Copa de 2015 e perdeu o terceiro lugar na Olimpíada de 2016 em casa para o Canadá. No cenário nacional, o Brasileiro aumentou seu calendário, mas em compensação perdeu-se uma competição – a Copa do Brasil deixou de ser realizada em 2017.

As desculpas são sempre as mesmas: futebol feminino é chato, ninguém quer ver futebol feminino. Interessante, porque enquanto aqui nós pensamos assim, no México o torneio feminino bate recorde com 51 mil espectadores, na Inglaterra a FA Cup delas teve 45 mil em Wembley e uma técnica grávida de 8 meses celebrando o título.

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