Taynah Espinoza, gaúcha de Porto Alegre, se prepara para viver mais uma decisão de Champions League – a décima da carreira e a oitava in loco -, desta vez entre Paris St Germain e Inter de Milão, no dia 31 de maio, em Munique, na Alemanha.
A apresentadora da TNT Sports iniciou sua passagem pela emissora quando a empresa ainda se chamava Esporte Interativo e, desde então, está sempre por dentro do que rola no campeonato europeu, reportando no pré e pós-jogo das partidas e comandando mesa redonda direto do estádio. E mais uma vez, essa história não será diferente. A dúvida, desta vez, será escolher para qual time torcer.
“Tô sensibilizada com com os dois times. Tá todo mundo nesse drama. Ah, porque a Inter tem uma história maneira, né? E pô, tem uma tradição gigantesca. Mas me pega muito a história do Luiz Henrique e da Xana (filha falecida do treinador) e dele dizer que quer de novo fincar a bandeira do clube em que ele está no momento, assim como fez com o Barcelona na Alemanha. E naquela ocasião, a Xana estava junto com ele, em vida”, citou a jornalista.
Pelo lado do PSG, Taynah destaca a evolução da equipe. “Os caras estão com um time que é gostoso de assistir, com um time que é diferente dos outros, quando tinha muitas estrelas, agora é um time coletivo. E tão coletivo que eu acho que ninguém estava se estapeando para contratar os caras que estão lá. E, de repente, eles chegaram na final da Champions.”
“Sobre a final, estamos falando dos melhores times, das melhores equipes, dos melhores jogadores. Então, é a melhor coisa do futebol e e acho que nesse ano a gente até podia querer armar um debate, né? Acho que o Barcelona, quem sabe, tenha jogado o melhor futebol ao longo da temporada como um todo. Mas o que a Inter fez contra o Barcelona na semifinal, como você vai dizer que não mereciam estar na decisão? Não tem como!”, frisou.
Se Taynah está nervosa para viver mais um momento especial na carreira? Ela prefere dizer que está ansiosa. “Eu não sou uma pessoa nervosa, assim, nunca fui. Mas eu fico ansiosa. Ansiosa pensando no figurino, ansiosa para para ver qual é a nossa posição (no estádio). Já tivemos um estúdio panorâmico, já tivemos um estúdio mais aberto, outro mais próximo. Eu já fiz o pós-jogo na beira do campo. Então eu fico ansiosa para essas coisas assim, sabe? Mas é com aquele frio bom na barriga.”
No esporte desde sempre
Sobrinha de Waldir Espinoza (ex-jogador e treinador, campeão do mundo pelo Grêmio), filha de uma professora de Educação Física e de um analista de sistemas – que também se aventurava como treinador de uma equipe de futsal – e com um irmão que jogava no time em que o pai treinava (ao lado de Ronaldinho Gaúcho, é bom frisar), Taynah contou às Dibradoras que sempre praticou esportes e frequentou arquibancada de ginásios.
“Pelo fato do meu tio trabalhar em vários lugares, fez com que eu assistisse futebol para torcer por ele desde muito pequena e também torcer para vários times. Sempre tive o meu time do coração, mas também torci para vários times, porque onde o meu tio estava, eu queria torcer pro time em questão. É uma família com DNA esportivo, né? Não tinha como eu fugir.”
E ela realmente não fugiu! Foi aprendendo as funções táticas do jogo desde muito cedo com o pai e com o irmão, e decidiu prestar vestibular para Educação Física, mas não passou para entrar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. E foi nesse intervalo de tempo que seu pai sugeriu o jornalismo como opção para ela tentar. E aí, foi golaço!
Mas é claro que, na época em que Taynah entrou na faculdade, as possibilidades para as mulheres que desejavam trabalhar com o esporte – na TV e no rádio, por exemplo – não eram tão amplas como hoje. E, obviamente, as referências femininas também eram poucas. “O Rio Grande do Sul é um estado mais conservador. Então, no rádio, por exemplo, eu não ouvia voz feminina no esporte, nem como apresentadora, nem como repórter, nem como comentarista, nem como narradora. A grande referência que eu tinha era Glenda Kozlowski, que era uma das poucas mulheres que eu via e gostava muito do estilo dela.”
Sua primeira experiência na profissão foi como Assessora de Imprensa no Grêmio que, por volta de 2008, estava criando uma rádio e uma TV própria do clube. E foi nesse momento que seu chefe fez uma pergunta a ela. “Taynah, você ouve rádio? Sabe o que é fazer ‘goleira’?” Taynah respondeu que sabia o que era a função e foi escalada, no dia seguinte, para ficar atrás do gol passando informações e fazendo entrevistas para a rádio (via internet) do clube. Sua partida inicial foi com o time Sub-20 do Grêmio contra o Cruzeiro de Porto Alegre. “Esse Grêmio Sub-20 tinha o Douglas Costa jogando, tá?”, relembra Taynah.
O desempenho da garota foi tão bom que, assim que acabou o jogo, o narrador Haroldo Santos – que narrava as partidas do profissional – elogiou seu trabalho. “Ele disse; ‘nasce uma repórter’. E eu pensei: ‘caraca, acho que mandei bem!'”. Em menos de um mês, e aos 20 anos, ela passou a fazer jogos do elenco profissional e percebeu que ela era a única mulher a trabalhar com o futebol por ali.
“Era uma das únicas no campo, às vezes tinha uma repórter de TV, mas sempre tinha muito mais homem. E eu fazia jogo usando calça jeans e camiseta comprida, que escondia o meu bumbum. Era um pedido do meu chefe na época porque ele entendia que isso me protegeria. E eu também usava um boné. Só depois eu tive a dimensão disso que vivi, entendi tudo isso quando li uma matéria que, se não me engano, era da Milly Lacombe, e percebi que me masculinizava para estar naquele lugar, para não ser percebida.”
Com o passar do tempo, Taynah foi entendendo que a estrutura machista da sociedade – e no futebol ela também se faz presente – coloca as mulheres em posição inferior – em comparação com os homens – e de obediência, limitando nossos sonhos e a personalidade.
“A gente já ouviu muita piada machista nesse meio e ainda ouve, obviamente, mas já ouvimos muito mais. E tinha até alguns momentos em que você ria junto, porque eram outros tempos, a gente até poderia achar engraçado, mas também era uma forma de ser aceita naquele lugar. Ninguém podia achar que eu era a chata, a que incomoda, a que questiona”, relembrou. Mas hoje, Taynah assume outra postura com muito orgulho. “Hoje eu sou completamente essa pessoa: a chata, a que incomoda, a que questiona. A gente evoluiu, mas que eu acho que vamos viver assim, meio que a vida inteira.
‘É pra Manu que eu trabalho’
Segundo Taynah, ela não foi uma garota de ter muitos sonhos para realizar, mas cobrir uma final de Champions League fazia sim, parte dos seus objetivos. E ela alcançou com louvor! “Eu sou uma pessoa que não não sonha muito, mas a coisa que eu posso te dizer que eu realizei, de alguma forma, foi fazer uma final de Champions. E esse desejo estava no meu convite de formatura da faculdade, onde os alunos tinham que colocar o seu sonho de cobertura. Então, esse eu consegui.”
E quando perguntamos qual era o significado de ser de uma jornalista esportiva, Taynah citou que o trabalho é desafiador, mas tem suas recompensas, como por exemplo ter a possibilidade de ser inspiração para outras meninas e mulheres. “É, desafiador, mas muito satisfatório, assim, no mesmo nível. A satisfação que eu tenho é de conseguir fazer várias coisas grandes e pequenas também. E de achar que eu estou, quem sabe, abrindo caminho para outras é muito satisfatório. Eu queria trabalhar com uma coisa que eu gostava (futebol), não pensava pensava que tinham poucas (mulheres) ou que teriam mais depois. Mas hoje eu entendo que uma das minhas missões na comunicação e trabalhando com esporte, senão a principal delas, é abrir caminho para outras mulheres.”
Taynah relembrou que durante a pandemia de Covid-19, chegou a ter alguns questionamentos sobre a profissão por conta de muitos comentários raivosos e machistas que, não só ela, mas as mulheres em geral costumam receber pelas redes sociais. “Eu me questionei. Pensei assim: ‘cara, será que eu vou morar na Austrália, virar hyppie, e largar tudo aqui? Porque assim, não importa o que a gente faça, o que a gente estude, né? Sempre vai ter um cara para falar uma merda. E na hora que você tá com a cabeça ruim, isso te pega. E na pandemia, todo mundo estava com a cabeça ruim”.
Mas aí, ela recebeu a mensagem da mãe da Manu, uma garotinha que deseja fazer jornalismo esportivo porque se inspira em seu trabalho, e tudo ficou mais leve. “Foi ali que eu entendi: cara, é para Manu e para tantas outras Manus que eu trabalho, não é para esse bando de babaca. Esses caras que se danem! Eu trabalho para abrir caminhos para elas!”
A Manu – fã da Taynah – vai em diversos jogos do Corinthians e também torce para o Liverpool – time pelo qual a jornalista também simpatiza. “Ela adora o Arnold, o Van Dijk e tal, então ela posta várias coisas. E aí ela ela comenta umas coisinhas minhas, eu comento umas coisas dela. Eu sempre digo que tenho uma sensação de estar em uma mata que algumas mulheres abriram um bom caminho, e nós estamos andando nesse caminho, mas a gente tem que continuar cavando, abrindo para que o outras passem e que se abra um caminho mais largo, né? Para que várias passem junto e a gente vai abrindo isso cada vez mais. Então, ele é desafiador porque você tem que lidar com muitas questões internas e externas.”
Desafiador, mas satisfatório. E Taynah sabe que, por conta dela e de tantas outras mulheres, a nova geração pode, quem sabe, fazer algo que ela não conseguiu enquanto estudava para ser jornalista: sonhar.
“Vejo que hoje em dia tem mulheres que pensam: ‘ah, eu quero fazer isso que essa mulher faz’. Elas entenderam que é possível, que é viável. E isso é gigante. Não estava na minha cabeça quando eu comecei, mas ver isso hoje, para mim, é muito satisfatório.”
A Manu e tantas outras garotas e mulheres agradecem!