No que o Brasil precisa evoluir para buscar a vaga no mata-mata?

Até os 90 minutos de jogo a seleção brasileira superava a japonesa por 1 a 0 na partida considerada chave da chave de grupos para garantir a classificação para as quartas de final. Um placar magro, tão importante quanto frágil, e que precisava ser mantido. O Brasil já tinha contado com defesas da goleira Lorena, inclusive de um pênalti, e desperdiçado chances para matar o jogo. A pressão japonesa nos minutos finais era uma realidade.

Em cinco minutos, a vitória virou revés. Os dois gols sofridos pelo Brasil, que decretaram a vitória do Japão, foram dolorosos e acenderam um alerta: a seleção, mesmo renovada no elenco com 14 estreantes em Jogos Olímpicos e na comissão técnica, com a chegada do treinador Arthur Elias, precisa evoluir no aspecto mental coletivo para conquistar ou manter resultados importantes, especialmente contra a atual campeã do mundo, a Espanha, próxima adversária.

“Depois do gol, realmente a seleção jogou de uma forma não entendendo como poderíamos segurar melhor em relação ao resultado, que era bem administrável”, disse o técnico Arthur Elias após a partida. “Se elas não ficassem chateadas por terem levado a virada, por terem perdido um jogo administrável, aí sim eu teria ficado decepcionado. Tem que doer mesmo. Mas entender o cenário. Elas sabem que vai ter que melhorar daqui para frente”, completou.

Mas como chegar a essa melhora para segurar um resultado administrável ou entender os momentos do jogo para conseguir as melhores jogadas e melhores tomadas de decisão? Segundo Katia Rubio, professora da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE-USP) e coordenadora do Grupo de Estudos Olímpicos, a concentração coletiva envolve muitos fatores, entre eles a liderança dentro e fora de campo.

“O conceito de concentração é atenção focada numa coisa específica. Imagine 11 mulheres num campo aberto com atenção no mesmo foco. É praticamente impossível, e por isso há necessidade de liderança dentro da equipe. Tanto a interna, que pode ser a capitã como alguém que pode enxergar esses elementos e chamar para si a responsabilidade. E a liderança externa, que o técnico representa ou alguém do banco para colocar esse foco da atenção no lugar exato. Na teoria isso é maravilhoso, mas há muitos elementos na prática que intervêm nesse processo”.

Marta e Arthur Elias (centro) são referências na seleção feminina (Foto: Rafael Ribeiro/ CBF)

Uma dessas referências é Marta, que vive sua sexta Olimpíada e que não apenas atuou como titular nos dois primeiros jogos, mas como capitã e principal articuladora da equipe, orientando e cobrando as atletas. A própria noção da equipe de que esta será a última edição da camisa 10 em Jogos e a cobrança por dar a ela uma despedida do tamanho de sua grandeza para o futebol feminino pode funcionar como pressão a mais numa competição que já mexe com o psicológico dos atletas.

“Em Jogos Olímpicos o atleta funciona numa vibe diferente de outras competições, porque nos Jogos recai um imaginário de excelência que em outros campeonatos não existe. E você tem, no esporte, uma possibilidade de um placar virar enquanto o jogo não acaba. Então a gente tem os segundos que separam uma ação uma vitória. Ou, então, um milímetro na postura de um pé ou de uma mão que acontece tantas vezes na ginástica. As posições do ranking estão sendo decididas por métricas muito justas”, comparou a professora.

O Brasil pode até perder para a Espanha, e, ainda assim, conseguir a classificação como um dos melhores terceiros colocados da fase de grupos. Mas evoluir a parte mental da equipe é algo que já vem sendo apontado como um fator para ser fortalecido na seleção brasileira. Afinal de contas, não foi só contra o Japão que a concentração ficou abaixo: na Copa do Mundo de 2023, quando a seleção brasileira não conseguiu segurar um empate com a França e sofreu gol de sua principal jogadora, Wendie Renard, nos minutos finais; ou no Mundial de 2019, quando cedeu a virada para as australianas após abrir 2×0 no primeiro tempo. Para avançar esportivamente, será necessário dar um passo além e realmente confiar que a concentração coletiva e o entrosamento entre atletas e comissão técnica pode fazer a diferença.

“Eu acredito que a nossa seleção e a nossas jogadoras não são piores que ninguém. A gente vai competir contra qualquer seleção, inclusive no próximo jogo. Mas entender os momentos do jogo é muito importante para a gente chegar no nosso objetivo, que é ser uma seleção vencedora. Então, que bom que passamos isso na fase de grupos e não no mata-mata”, finalizou Arthur. Que assim seja!

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