Quem é Arthur Elias, novo técnico da seleção feminina até 2027

(Foto: Thais Magalhães/CBF)

Arthur Elias é o novo técnico da seleção brasileira feminina. Após a demissão de Pia Sundhage, o então comandante do Corinthians foi confirmado no cargo para substituir a sueca na tarde desta sexta-feira (01) na sede da CBF, no Rio de Janeiro.

Depois de oito anos de muitas conquistas na equipe que virou a maior referência do futebol feminino na América Latina, Arthur se tornou o nome mais forte com justiça para assumir o Brasil no desafio que começa já em menos de um ano, com os Jogos Olímpicos de Paris, no meio do ano que vem.

Com uma trajetória construída há mais de uma década no futebol feminino, Arthur fez por merecer essa oportunidade e apresentamos aqui quem é o novo técnico da seleção feminina de futebol com o resumo da sua carreira até aqui.

Início 

Quem vê Arthur Elias na beira do campo sabe que o treinador é pura energia. Quinto filho de um total de seis (cinco homens e uma mulher), o comandante carrega consigo princípios herdados da família. “Sempre vivi minha vida com intensidade”.

Ter este suporte em casa foi fundamental quando o treinador decidiu pelo futebol. “Eles sempre me apoiaram, desde que joguei nas categorias de base, e o que eu aprendi com eles é que a partir do momento que a gente escolhe o que quer e gosta, fazer com intensidade, entrega e disciplina é importante. Liderar pessoas sempre fez parte da minha vida, desde pequeno, adolescente, é uma característica que carrego”, completou, em uma entrevista realizada pelo site em 2020.

Arthur se relaciona com o futebol desde moleque, quando jogou em categorias de base e ainda carregava o sonho de ser um atleta. “Parei já pensando em ser treinador”, completou.

Foto: Gabi Montesano

Aos 20 anos, o primeiro “grande desafio”, foi o futebol feminino. “Eu tinha feito categorias de base masculina e isso foi importante para treinar a USP. Eu só aceitei o trabalho podendo fazer um projeto interdisciplinar. Sabia que ali era só um laboratório, eu queria conhecer mais a realidade”, disse Arthur.

“No mesmo ano eu já estava enfrentando o Santos, o Saad numa final. Muito rapidamente eu já conhecia as principais equipes da modalidade, o que me fez olhar como plano de carreira, onde poderia me destacar dentro de um cenário carente e desafiador. O interesse era evoluir como profissional, então precisei trabalhar muito para realizar a montagem de um time, toda estrutura necessária”, completou.

‘As coisas não vieram de graça, foram conquistadas’

Centro Olímpico foi o primeiro Campeão do Brasileiro Feminino 2013 sob o comando de Arthur Elias (Foto: Assessoria/CBF)

Uma das coisas que Arthur Elias gosta de destacar sobre sua carreira é a importância de se cercar de bons profissionais. Depois da experiência com equipes universitárias, é no Centro Olímpico, ao lado desses bons profissionais, que o treinador chega pela primeira vez à glória máxima da modalidade nacional.

“O futebol feminino me trouxe essa possibilidade de terminar todos os anos, de completar meus trabalhos e nunca ser demitido, além de conseguir sempre ter pessoas extremamente competentes junto, mesmo sem ganhar dinheiro no começo. Quando vem o Centro Olímpico em 2010 e 2011 eu troco a minha comissão inteira e chego com aquele olhar de que dali você pode tirar mais, ter uma melhor estrutura, condições de realização”, explicou o técnico.

O projeto no Centro Olímpico rendeu ao comandante seu primeiro Brasileirão Feminino, em 2013. De lá para cá o Corinthians entra na sua vida e soma à conquista mais quatro Campeonatos Brasileiros (2018, 2020, 2021 e 2022), uma Copa do Brasil (2016), três Libertadores (2017, 2019, 2021) e o tri Paulista (2019, 2020 e 2021).

Foto: Staff Images Woman/CBF

“As coisas não foram entregues de graça, inclusive no Corinthians. Você precisa saber o momento de trazer as pessoas certas, alternativas para aquele lugar. É fácil pedir, difícil é criar alternativas”, falou Arthur.

‘Nossas atletas competem para serem cada vez melhores entre elas’

O Corinthians virou o time a ser batido por todos os títulos que conquistou, e manteve sua hegemonia mesmo diante da mudança de cenário do futebol feminino no Brasil, com a chegada de mais investimento dos times de camisa e maior competitividade. O clube sabia dos desafios que teria, e correu atrás para “surpreender”.

“Nós não nos reinventamos. Evoluímos e trouxemos elementos novos que foram deixando aquilo que a gente já tinha de estrutura de jogo, ideia de jogo, mais complexo, imprevisível para esses adversários e desafiador para as meninas, que toparam. É importante enxergar coisas novas, que você é capaz de fazer diferente, fazer mais, de responder a situações que na verdade estamos competindo com a gente mesmo para seguir vencendo”, contou Arthur.

(Foto: Conmebol)

O resultado dentro de campo tem muito do que é feito nos bastidores de um clube que investe na modalidade. “Reflete para uma evolução de todos os profissionais. Quanto mais tenho uma equipe multidisciplinar, mais as atletas precisam aproveitar isso. O feminino sempre foi muito sofrido, nos últimos anos elas têm respondido de forma fantástica e aproveitando essas condições que são melhores, mas eu entendo que tem que ainda ser bem melhor”, afirmou Arthur.

O exemplo para o filho

Apelidado de “Rei” pela torcida corintiana, Arthur batalha para deixar um bom legado não só à equipe feminina, mas também a seu filho Aluísio, de 6 anos. Rodeado de mulheres por conta do trabalho, o treinador entende a responsabilidade de criar um filho homem em um mundo cruelmente machista.

“Com certeza me ajuda (o trabalho). A questão da mulher, do ambiente que eu vivo, o que isso representa, a luta de vocês… com certeza ele já cresce com uma outra visão. Na visão dele o futebol é mais feminino do que masculino, ele entende que as mulheres é quem jogam, é natural para ele”, afirmou o comandante.

“A mãe do Aluísio é antropóloga, o tanto que ela contribui para ele, sempre contribuiu para mim para entender mais a fundo. O que eu realmente fico triste, mas é algo difícil de fazer na prática, é que eu gostaria de estar mais com ele, participar mais, dividir, mas o futebol me exige muito e eu tenho tentado sim o meu máximo poder trazer a figura do pai nessa divisão de responsabilidades que muitas vezes os pais deixam as tarefas de casa para as mães, e isso não está certo, eu tento me esforçar muito para que ele entenda isso”, completou.

Futuro e seleção brasileira

Conquista após conquista, as redes sociais esbravejavam por Arthur Elias no comando de algum time masculino ou à frente da Seleção Brasileira Feminina.

“Eu sempre tive o sonho e confesso que teve alguns momentos que imaginei estar mais perto dessa oportunidade. Mas com a experiência vamos vendo que é uma decisão que depende muito menos de mim, então o que eu penso é que se acontecer um dia vai ser muito prazeroso, de muito orgulho, mas não trabalho hoje planejando e nem contando com essa oportunidade”, apontou Arthur ainda em 2020.

Esse momento agora chegou. Com contrato até a Copa do Mundo de 2027, Arthur terá a oportunidade de levar seu conhecimento para a seleção brasileira com o objetivo de fazer o Brasil voltar a ser protagonista no futebol feminino.

“Hoje eu me sinto realizado. Acredito que em pouco tempo vamos conseguir mudar a mentalidade do futebol feminino e trazer resultados a curto prazo. A Seleção Feminina deve voltar a ser protagonista mundial e espero contribuir para isso”, declarou durante a sua apresentação na sede da CBF.

Em nota, o Corinthians afirmou que o treinador irá assumir a Seleção Brasileira após o término da participação do time brasileiro na CONMEBOL Libertadores Feminina (mais detalhes abaixo).

“O Corinthians recebeu, nos últimos dias, contatos da Confederação Brasileira de Futebol sobre a intenção da entidade de contratar o treinador Arthur Elias para o comando técnico da Seleção Brasileira. Diante da vontade dele, bem como em respeito a ótima e leal relação do clube com o profissional, foi concedida a liberação para Arthur Elias assumir a equipe nacional ao término da participação do Timão na CONMEBOL Libertadores Feminina.”

*Reportagem de Mariana Pereira

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