Extracampo: as importantes conquistas e cobranças das seleções eliminadas da Copa

Foto: Alex Grimm/FIFA

Seria muito pouco reduzir a maior edição de uma Copa do Mundo Feminina apenas às atuações dentro de campo, que já foram históricas. Para além das classificações inéditas às semifinais – como da Espanha, que bateu a Holanda por 2×1 na prorrogação, e da Austrália, que venceu nos pênaltis a França após uma partida disputada e sem gols – defesas milagrosas, como as da goleira sueca Zećira Mušović, e eliminações improváveis, como a dos Estados Unidos nas oitavas de final (e Alemanha e Brasil ainda na fase de grupos), algumas conquistas de seleções que já não estão mais na disputa também merecem destaque.

Hijab na Copa e no Fifa 23

Foto: Fifa 23/ Reprodução

O Marrocos foi uma seleção que teve importantes conquistas dentro e fora de campo, chegando às oitavas de final na sua primeira disputa numa Copa do Mundo. Ainda dentro de campo, foi dessa seleção a primeira atleta a jogar com hijab: Nouhaila Benzina, zagueira que estreou na segunda partida disputada pela seleção. A representatividade foi tanta que o Fifa 23, principal jogo eletrônico de futebol do mundo, atualizou o avatar da jogadora com a peça de vestimenta religiosa.

Vale ressaltar, no entanto, que o hijab (e outros artigos religiosos, como véu) ainda é proibido em jogos de futebol em alguns países, como a França – curiosamente, a seleção que eliminou o Marrocos nas oitavas de final e que tem comunidade muçulmana expressiva. Um grupo feminino de muçulmanas na França, chamado “Hijabeuses”, entrou com uma ação contra a Federação Francesa de Futebol (FFF) para que atletas possam usar o hijab e outras vestimentas de cunho religioso em campo. No entanto, o conselho negou o pedido. Caso a França volte a sediar uma Copa do Mundo Feminina, mulheres muçulmanas, como Benzina, não poderão se vestir da forma que se sentem confortáveis.

Ainda assim, a conquista inédita às oitavas de final e a representatividade de Benzina com o hijab deixaram a equipe orgulhosa. “Acho que provavelmente inspiramos várias garotinhas a jogar futebol no Marrocos. E para mim essa é uma vitória. Porque você ajuda a progredir a visão de seu país sobre as mulheres”, refletiu a jogadora Rosella Ayane, atacante do Tottenham.

Premiações e estrutura

Uma das três seleções africanas a conseguir vaga nas oitavas de final na edição 2023, a Nigéria resolveu fazer um pronunciamento conjunto com a Fifpro (sindicato dos jogadores e jogadoras profissionais de futebol) cobrando valores atrasados de salários após a eliminação, nos pênaltis, para a Inglaterra. Na nota, as atletas dizem que não se pronunciaram durante a Copa do Mundo para não perderem o foco na competição.

Em outro trecho da publicação, as jogadoras criticam a conduta da entidade que deveria buscar maneiras de melhorar as condições de trabalho da seleção nigeriana no Mundial: “O time está extremamente frustrado que precisou pedir à Federação Nigeriana de Futebol os pagamentos antes e durante o torneio e pode ter que continuar pedindo depois. É lamentável que as jogadoras tenham que interpelar a própria federação num tempo tão importante nas suas carreiras”.

A Jamaica, por outro lado, também é uma equipe que usou a atenção conquistada pelo acesso inédito às oitavas de final para mostrar que a Federação Jamaicana de Futebol continua sem dar a devida atenção às Reggae Girlz – tanto que a equipe precisou recorrer a uma vaquinha, além da ajuda de Cedella Marley, para bancar a viagem à Austrália e os custos com hospedagem durante a Copa do Mundo.

Cedella Marley ajudou a bancar as Reggae Girlz. Foto: Angela Weiss/AFP/Getty Images

O técnico da equipe, Lorne Donaldson, falou que “teme pelo futuro da seleção jamaicana” após a eliminação para a Colômbia. O país ainda busca vaga para os Jogos Olímpicos de Paris-2024 e tem pela frente o torneio da Concacaf, que será disputado em setembro, em Toronto, no Canadá. Essa participação é de suma importância, já que o Canadá, que também não está garantido em Paris-2024 e foi eliminado na fase de grupos, vai para o tudo ou nada.

“Acho que ainda estamos vivendo um bom momento, mesmo com a derrota. Obviamente, com o resultado do Canadá, o torneio da Concacaf será um desafio, pois elas vão para a competição com fome de vitória. Mas nós também vamos”, disse Chantelle Swaby, meia da seleção.

Treinador da Zâmbia é investigado por assédio

Precisou de muita insistência das jogadoras e da imprensa, mas o técnico da Zâmbia, Bruce Mwape, está sendo investigado por assédio sexual pela Fifa. Essa não é bem uma conquista, já que se trata de uma denúncia envolvendo abuso dentro da estrutura da seleção feminina, que participou pela primeira vez de uma Copa do Mundo. Mas mostra que o caso não passou sem que, ao menos, começasse a ser apurado.

Bruce Mwape é investigado pela Fifa. (Foto: Getty Images)

Antes mesmo de a competição começar, chegaram informações das próprias jogadoras dando conta que Mwape constantemente frequentava o quarto de atletas, onde passava a noite. Se alguma se negasse, poderia ser penalizada. “Ele quer dormir com quase todos da equipe”, “elas têm que dizer sim a tudo” e “ele constantemente as faz ver que está acima delas, e não na relação hierárquica de um treinador com suas jogadoras” são exemplos de frases ditas por jogadoras, de forma anônima, ao jornal inglês The Guardian. 

Após a eliminação da Zâmbia na fase de grupos, a Fifa anunciou que o treinador seria investigado por conduta sexual imprópria. Mas durante a Copa do Mundo, a mesma Fifa baniu perguntas de jornalistas sobre o tema em coletivas de imprensa antes e depois dos jogos.

A denúncia é referente ao técnico ter, supostamente, acariciado os seios de uma das jogadoras durante um treino antes do último jogo pela fase de grupos, em que a equipe venceu a Costa Rica por 3 a 1. Por decisão unânime das jogadoras, elas escolheram fazer a denúncia apenas após a última partida, pois temiam retaliação da comissão técnica.

Vale ressaltar que o próprio Mwape é alvo de investigações pela Associação de Futebol da Zâmbia (FAZ), assim como o técnico da seleção sub-17, Kaluga Kangwa. Segundo jogadoras, a FAZ não deu a devida importância às denúncias por conta do resultado positivo da equipe, com a classificação à Copa do Mundo e a vitória sobre a Alemanha por 3 a 2 no amistoso antes do Mundial.

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Uma resposta

  1. Temos a lembrar a brutal e praticamente impune agressao de jogadora inglesa – acho que foi a propria Lauren Hemp – pisando as costas de uma adversaria CAIDA no chão… Fazer isso num jogo oficial é o fim da linha para qualquer profissional.
    O gesto foi tão indescritivel que tinha que dar cinco jogos de suspensão.
    A midia foi muito superficial e leniente com isso.
    Cade a FIFA?

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