Uma das favoritas ao título, a próxima adversária do Brasil na Copa do Mundo é uma seleção tecnicamente forte e fisicamente multiétnica. Das 23 jogadoras convocadas, duas nasceram fora do país e uma num território francês ultramarino. Outras 13 têm descendência direta de outros países, sendo a maioria deles ex-colônias francesas. Representatividade que supera vários setores da sociedade francesa.
Uma das principais referências da equipe, Wendie Renard é da cidade de Schoelcher, na Martinica. O país caribenho faz parte da região ultramarina da França, o que significa dizer que, mesmo tendo nascido a mais de 6.850 km de distância de Paris, ela tem o mesmo direito de Eugénie Le Sommer ou Ève Perisset, nascidas em Grasse e Saint Priest, de defender a seleção.
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— Equipe de France Féminine (@equipedefranceF) July 18, 2023
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Em uma das poucas vezes que falou sobre a adaptação em Paris, Renard comentou que sofreu racismo, preconceito e foi alvo de piadas por conta do sotaque créole, dialeto comum no Caribe e algumas regiões da América.
“Quando eu cheguei aqui (Paris), me fazia falta (falar créole). Mesmo com aqueles que falavam créole comigo, tudo era francês, francês, francês o tempo todo, porque nesse país não temos o direito de falar com adultos em créole”, disse em 2019 à France TVInfo.
Pelo menos no futebol, a diversidade se tornou uma constante. Desde 1998, quando a equipe masculina venceu o primeiro título e encantou o mundo com a geração “Black Blanc Beur” (preto branco árabe, em tradução livre), a seleção nunca mais deixou de ser colorida e ter atletas filhos de imigrantes ou nascidos em território fora da França. O próprio Kylian Mbappé, por exemplo, é francês filho de um camaronês com uma francesa de origem argelina.
A tunisiana Amel Majri e a congolesa Grace Geyoro são exemplos de atletas nascidas em outros países que defendem a França. Outras jogadoras, como Kadidiatou Diani, Kenza Dali e Selma Bacha são filhas de pais que saíram de ex-colônias francesas, tal qual Argélia, Mali e Gabão. Outras, como Laurina Fazer e Sakina Karchaoui, de protetorados como Madagascar e Marrocos. E não para aí: Estelle Cascarino, por exemplo, é filha de italiano e mãe nascida em Guadalupe. E Elisa de Almeida (o nome já entrega, certo?) tem pais portugueses.
Tá, mas o que isso significa?
Ainda há muito debate sobre o que a diversidade nas seleções de futebol realmente representam para a França. Em teoria, mostra que só é possível pensar nacionalmente com base na união cultural e étnica que compõe o país. Na prática, a sociedade francesa ainda tem dificuldade em aceitar como iguais cidadãos filhos de imigrantes ou de territórios ultramarinos – caso de Renard.
“Por um gol marcado contra o outro time, te chamam de macaco. Você me diz que isso não é possível. Tudo isso porque sou mestiça, porque tenho cabelos crespos, me comparam a um macaco. É de perder a cabeça! Não é fácil, mas essas coisas me dão mais força”, disse a zagueira do Lyon na mesma entrevista.
Se, de um lado, a França é um dos maiores reveladores de talentos no futebol muito por conta da variedade étnica – e até genética – de atletas, por outro ainda enfrenta mazelas que não conseguiu curar. Em junho deste ano, um adolescente de 17 anos chamado Nahel foi morto por policiais em Nanterre, nos arredores de Paris. A resposta veio em forma de convulsão social, mostrando que a França ainda tem muito a evoluir para chegar no nível de entrosamento de suas seleções.
Com tanta diversidade, a França é uma das equipes mais fortes da Copa do Mundo e cotada ao título, ainda inédito, na Copa do Mundo Feminina. A equipe está na 5ª posição no ranking da Fifa e é a principal adversária do Brasil na primeira fase, sendo que nunca perdeu para a canarinho em Mundiais.
França x Brasil vale liderança do Grupo F e acontece neste sábado (29/07) às 7h (Brasília).