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O mata-mata do Campeonato Brasileiro Feminino A1 começa neste domingo (18), após uma primeira fase com menos transmissões em TV aberta e na internet do que em edições anteriores, situações de descaso de clubes como Ceará e Real Ariquemes e muitos erros de arbitragem que evidenciam a grande discrepância com que a CBF trata um aspecto tão importante no futebol feminino.
Na Série A1 feminina, a equipe de arbitragem é da cidade do time mandante e a diária paga é 6 vezes menor do que o valor pago na Série A do Brasileiro masculino, e 5 vezes menor do que na Série B.
São campeonatos com realidades distintas, mas o Brasileirão feminino atualmente é apresentado pela CBF como de grande importância. Então, por que existe tamanha discrepância até hoje? Conforme o posicionamento da CBF, “o valor da diária é menor porque a arbitragem é local e sem despesas adicionais, como hospedagem com pensão completa”.
Mas a própria CBF atenta para a “necessidade da não concentração regional” na seleção de árbitros, árbitras e assistentes. Segundo as Diretrizes para a classificação nacional dos árbitros, a arbitragem local pode “ensejar dificuldade para as designações” e, por isso, está entre os elementos que podem e devem ser considerados para a seleção nas competições organizadas pela entidade.
Tanto é que o futebol masculino nunca tem árbitros locais apitando os jogos das séries A e B e da Copa do Brasil, por exemplo.
“Entendemos também que, da forma como vem ocorrendo, é possível dar oportunidades aos árbitros locais, proporcionando maior desenvolvimento à categoria”, ponderou a CBF. Mas será mesmo que a primeira divisão de um Campeonato Brasileiro é o contexto ideal para se aplicar essa política?
Na prática, é muito comum ter equipes de arbitragem começando a apitar jogos da Série A1 feminina com pouquíssima experiência se comparado a outras competições nacionais, geralmente acumulada em campeonatos de categoria de base e, em alguns casos, nas Séries A2 e A3 femininas. O que acontece, inclusive, em jogos de maior destaque e rivalidade. Segundo a CBF, “a Comissão de Arbitragem considera que os árbitros escalados têm condições de apresentar bom rendimento nas competições”.
A CBF usa um quadro de pontuação para árbitros e árbitras em que atribui pesos diferentes às competições. Nele, um jogo de competições de futebol feminino corresponde a apenas 1 ponto, igual a competições de categoria de base. Essa é a menor pontuação possível. Um jogo de Copas Regionais ou da Série D designa 4 pontos ao profissional de arbitragem; enquanto na Série C são 6 pontos, na Série B são 10 pontos; e na Série A são 20 pontos.
Essa é uma classificação que, associada à discrepância dos valores pagos pelas diárias para atuação em jogos da Série A1 do feminino, provoca um movimento de desmobilização na busca por mais qualidade nas atuações das arbitragens dentro de campo. Questionada, a CBF afirma que as diretrizes da arbitragem estão sendo atualizadas e as distorções serão corrigidas e vão constar da nova publicação: “Com a atualização destas diretrizes, serão feitas alterações desses conceitos, buscando diminuir as diferenças na pontuação”.
Reclamações antigas, problema atual
A maneira como a CBF tem lidado com a arbitragem não acompanha o ritmo do crescimento e da profissionalização do futebol feminino no país. Há avanços, sim, mas em um ritmo ainda lento para o Campeonato Brasileiro Feminino. Reivindicação muito frequente entre clubes e profissionais da área, o VAR será usado em toda a fase mata-mata do Brasileirão feminino A1 pela primeira vez neste ano. Antes, a tecnologia de vídeo só era usada a partir das semifinais.
Em 2022, a atacante Cristiane cobrou a CBF por um tratamento igual ao masculino e o uso de VAR na modalidade após entender que teve um pênalti não marcado sobre ela no jogo entre Santos e Palmeiras. “Já que vocês (CBF) estão profissionalizando a modalidade, então faz o bagulho direito”, declarou a artilheira.
Naquele mesmo ano, a ex-jogadora Rosana, então treinadora do Red Bull Bragantino, também cobrou uma melhor arbitragem para a modalidade. “Ao longo dos anos, o futebol feminino encontrou muitas dificuldades e sem dúvidas evoluímos muito, mas precisamos falar de algo que ainda está muito distante do aceitável: a arbitragem”, postou a treinadora, que também falou da importância do VAR.
Essas reclamações são do ano passado, mas continuam atuais. Na penúltima rodada do Brasileiro feminino, o Grêmio era o 9º colocado, com 19 pontos, um a menos do que o Cruzeiro, na 8ª posição. O clube ainda lutava pela classificação às quartas de final, mas tinha pela frente uma pedreira: o Palmeiras, que estava na briga pela liderança, fora de casa. Nos acréscimos do jogo, as gremistas perdiam por 2 x 1 quando Raquel Fernandes marcou o que seria o gol de empate, aos 51 minutos. Mas um erro grosseiro de arbitragem marcou impedimento da atacante que estava em posição legal.
Os erros foram muito frequentes nas 15 rodadas da primeira fase do Brasileirão feminino deste ano. Pela rodada de abertura, o Grêmio empatou com o Cruzeiro, por 1 x 1, com um pênalti “não existente” marcado para o time gaúcho, conforme o comentarista Sandro Meira Ricci, da TV Globo, confirmou na transmissão. No futebol feminino, as melhorias exigem muita reivindicação. A CBF afirma que não encontrou crescimento de reclamações nos registros. Nos casos de erros de arbitragem, os clubes também precisam ser ativos e registrá-los na CBF, assim como fazem com frequência no masculino.
Os clubes estão investindo cada vez mais nos times femininos e é preciso que a CBF trate a primeira divisão do Brasileiro feminino com mais profissionalismo. Não dá pra tratar a Série A1 como “escola de arbitragem”. Isso pode valer para as séries A2 e A3, mas na primeira divisão seria importante contar com arbitragem mais experiente e avaliação constante da comissão de arbitragem da CBF sobre possíveis erros, assim como acontece no masculino.
Outro aspecto a ser revisto, é a diferença exorbitante entre as diárias pagas às equipes de arbitragem. São mercados distintos mas essa diferença acaba inibindo que árbitros mais experientes tenham interesse em apitar jogos femininos.