(Foto: Fernando Roberto/Red Bull Bragantino)
Finalista da Copa Paulista de 2022, o ano do Red Bull Bragantino foi de fortes emoções. Vindo do título da A2 do Brasileirão Feminino e consequentemente o acesso à elite do nacional, o time do interior de São Paulo começou a temporada com Rosana Augusto no comando técnico e algumas alterações no elenco.
A missão? Trazer uma nova filosofia de jogo e, aliado a resultados, desenvolver atletas. “Quando eu faço o processo seletivo, me foi pedido, e acho que fui escolhida por conta disso também, para que jogasse de forma agressiva, com uma progressão apoiada, verticalizando quando houvesse uma vantagem, é muito a ideia que eu penso. Então eu chego aqui com o time sendo campeão da Série A2 e com as meninas entendendo que aquilo ali foi bom, como de fato foi, e eu venho para implementar uma outra forma de jogar que é totalmente diferente, mas que também pode dar certo”, explica Rosana.
Sobre resultados, as coisas não saíram como o esperado e a equipe foi rebaixada no Campeonato Brasileiro com apenas uma vitória em 15 jogos. “Vínhamos performando bem, pecamos nas finalizações, mas fomos o 4º time no campeonato que mais finalizou, ficamos à frente de times grandes nessa estatística. Quanto mais a gente errava, os jogos iam passando, mais pressionadas a gente ficava, até por ser um time jovem, é um processo natural oscilar. A partir do momento que a gente tem um novo campeonato, que elas entenderam que aquilo que estávamos fazendo era bom, que não merecíamos cair, talvez precisasse passar por aquilo para virar a chave e entender que o trabalho estava sendo bem feito, que a entrega delas estava sendo 120% e que uma hora o resultado ia acontecer, as coisas começaram a dar certo e isso acontece no Paulista”, diz a comandante.
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Intensidade nos treinamentos e vitórias contra times grandes
Superado o momento delicado do rebaixamento, o foco se voltou 100% para o Paulistão Feminino. Já na segunda rodada, uma ótima vitória por 3 a 0 contra o São Paulo, placar que se repetiu diante do Palmeiras e uma série invicta até a oitava rodada (liderança garantida, até então).
“Fizemos alguns ajustes, começamos a treinar ainda mais a parte individual de ter análises pontuais, específicas, de dizer: ‘olha, isso aqui você faz muito bem, isso aqui precisa ajustar’, criamos pré-treinos para as atletas, elas chegavam 15 minutos antes para atividades leves, de fundamentos, situação de dentro do jogo, alguns momentos treinando em dois períodos, treinando (mais) finalização. Quando você carrega esse peso da derrota tem que ser mais resiliente, nós como comissão sempre acreditamos, muito convictos dos trabalhos. Potencializamos o que elas tinham”, aponta Rosana.
“Tivemos uma ótima competição dentro do Paulista, mas também temos que dar o mérito aos times grandes que estão há muito mais tempo trabalhando para isso. A gente se manteve entre a elite do futebol paulista, que é o melhor do Brasil, por muito tempo, e mostramos que temos plena condição de continuar essa caminhada e quem sabe num futuro próximo estar entre os grandes e competir de igual para igual”, completa.
Queda da invencibilidade
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A partir da retomada do estadual após a pausa para a Libertadores Feminina, o Red Bull Bragantino venceu apenas um jogo de quatro (derrotas para Santos, Corinthians e Ferroviária; vitória diante do Pinda) e ficou fora das semis da competição (o que havia conquistado em 2020, ano da montagem da equipe feminina).
“Eu não acho que tivemos uma queda de rendimento. Jogamos contra equipes muito fortes, que se coloca desde o início, dificilmente pensamos em três pontos contra times grandes. Enfrentar o Santos na Vila Belmiro depois de uma pausa que para eles fez muito bem, não é um placar absurdo perder na Vila (3×1). Estávamos performando tão bem que colocaram o Red Bull Bragantino como uma força do futebol feminino, mas estamos num processo de construção ainda. Muito se dá pelo que estamos desempenhando, mas hoje as forças ainda são os times de camisa e mais a Ferroviária”, fala Rosana.
“Perdemos uma classificação faltando dois minutos para a acabar o jogo contra a Ferroviária, sem quatro atletas que vinham sendo titulares, faltou um pouco de entrosamento ali, tudo influencia. Foram jogos pau a pau”, conclui.
Processo de amadurecimento e filosofia de jogo
Rosana chega ao Red Bull Bragantino logo após a conquista da Série A2 do Brasileiro Feminino. Expectativas foram criadas sobre como seria o primeiro ano do clube na elite do futebol feminino.
“Encontrei um time talentoso, mas que eu precisava mudar um pouco o modelo de jogo e criar mais essa identidade parecida com o que a filosofia do clube pede. Um grupo que tinha sido vencedor, com atletas talentosas, qualificadas, com pouco lastro de competição, entendendo que a Série A2 e a Série A1 é um abismo a diferença de competitividade. Na A1 tem meninas que estavam jogando fora do país e que retornam, tem os times de camisa, de tradição que são muito mais fortes”, explica a treinadora.
“A filosofia do Red Bull Bragantino é desenvolver atletas e ter um jogo agressivo, também é uma identidade minha. Tudo que nos foi pedido foi feito, então a gente vê um progresso, apesar dos resultados não serem o que gostaríamos, a performance foi muito boa e foi feito todo trabalho no ano no sentido de desenvolver atletas e o time ter essa evolução coletiva. Atacamos pontos individuais que no fim das contas valorizou o nosso coletivo. O clube tem 2 anos, não é da noite para o dia que as coisas vão acontecer, a gente tem que entender isso”, completa.
Rosana também é uma estreante no futebol feminino, mas desta vez na condição de treinadora. Multicampeã nos gramados, o time de Bragança é apenas o segundo clube que comanda. Antes dele, esteve à frente do Athletico-PR, onde venceu o estadual em 2021.
“Hoje é uma posição diferente da Rosana atleta, hoje sou eu que traço as estratégias, preciso estar à frente, tomar os primeiros golpes e preciso levantar (mas eu tenho um batalhão todo atrás de mim que também vai me ajudar a levantar, e foi isso que aconteceu). Esse ano foi bem pesado. Performar e não ter resultado me fez mais resiliente. Eu nunca estudei tanto na minha vida, nunca fiquei sem dormir tantas noites na minha vida para tentar entender e melhorar. Eu me cobro demais, sou a primeira a me cobrar”, afirma a comandante.
“O clube empresa te proporcional mais tempo de trabalho, valorizam coisas boas mesmo que não venham os resultados esperados. Se fosse em qualquer clube institucional eles provavelmente não me manteriam no cargo depois das derrotas no Brasileiro, e o RB continuou acreditando porque viu o desenvolvimento. Então é continuar trabalhando, erguer a cabeça, entender os processos e que por mais que os resultados não venham, tem muita coisa boa acontecendo e precisa ser valorizado”, completa.
Planejamento para 2023 e novamente Série A2 do nacional
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As metas iniciais de permanecer na A1 e novamente chegar às semis do Paulistão Feminino não aconteceram. Para o próximo ano, comandante e clube já iniciaram os planejamentos e alinharam novas expectativas.
“Eu não vejo um culpado porque caiu. É um processo que precisamos passar para evoluir, amadurecer. Quanto mais competição você tem, mais você vai evoluir. É um time jovem e muito qualificado. Nossa maior meta era atingir o desenvolvimento das meninas e um amadurecimento maior para nos próximos anos não ter quedas e maiores oscilações. Num futuro breve estaremos disputando coisas grandiosas”, diz Rosana.
“Para 2023 vamos perder algumas atletas que se destacaram, nosso trabalho individualizado fez com que algumas delas que estavam aqui já no ano passado tivessem uma visibilidade, isso diz que nosso trabalho foi direcionado. A ideia é que consigamos repor à altura, chegar já no primeiro jogo (da A2) com tudo muito bem consolidado. As atletas vão ser as mentoras, todas que estão aqui já terão essa espinha e vão ajudar as que estarão chegando, numa sintonia fina porque não podemos errar na A2, é campeonato curto e mais regionalizado”, pontua.
Preparação para a final da Copa Paulista diante do multicampeão Corinthians
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Se perdeu a classificação para as semifinais do Paulistão Feminino, o Red Bull Bragantino conseguiu avançar para a final da Copa Paulista depois de vencer o Taubaté no agregado por 7×4. Agora, o time de Rosana disputa o título com o Corinthians.
“Corinthians é sempre Corinthians, todo o favoritismo é deles, até pelo elenco que se tem e o Arthur é um ótimo treinador. Acredito que nesse momento não tem muito mais o que se preparar, já enfrentamos eles (derrota 1×0 no estadual), entendemos que é possível fazer um jogo interessante, sabendo que será um jogo muito difícil. Acredito que a preparação é muito mais mental do que tática e física, ao longo do ano a gente vem evoluindo nessa parte técnica e tática, e contra o Corinthians é um jogo muito mental e difícil”, diz Rosana.
“Em contrapartida, é um jogo que as meninas gostam bastante, o tipo de jogo que não precisa motivá-las. Nossos melhores jogos, os mais competitivos, foram contra os grandes, não teve nenhum resultado muito expressivo de diferença de placar quando perdemos. Os times grandes não tiveram resultados expressivos contra a gente, foi tudo muito próximo. É ser resiliente o tempo todo nessa final, são 180 minutos sem perder o foco”, conclui.
Red Bull Bragantino e Corinthians se enfrentam nesta quinta-feira (8), às 15h, no estádio Nabi Abi Chedid, em Bragança Paulista. O jogo da volta será na Arena Barueri, domingo (11), às 21h30.