Recorde de público no Camp Nou: eu tava lá!

Olha, eu vou ser bem honesta com vocês: não tinha palavras pra escrever esse texto. Isso porque, depois de 6h de sono, eu ainda não consegui processar tudo o que senti no dia 30 de março de 2022, no Camp Nou, o estádio do Barcelona. Foi o maior público de um jogo entre clubes no futebol feminino. Sério, olha esse vídeo. Como traduzir em palavras?

Minhas expectativas já eram altas para esse jogo. Não só pela qualidade das duas equipes – especialmente do Barcelona -, mas também pelo fato de todos os ingressos estarem esgotados. Sendo bem honesta, eu nunca fui muito fã de visitar estádios em um tour ou coisa do tipo (mas não julgo quem gosta rs). Eu sempre prefiro ver um jogo e ter a experiência de torcida. E essa foi gigantesca.

Almoçar do lado do estádio, ver a torcida chegando aos poucos e se acomodando, conhecer a loja do clube, comprar uma(s) lembrancinha(s), sentir os olhos encherem de lágrimas ao ver o campo pela primeira vez. Nem a correria de estar trabalhando atrapalhou esses momentos pessoais. E, nas arquibancadas, muitas crianças, muitas mulheres, torcedores apaixonados por futebol, vivendo aqueles 90 minutos históricos.

Eu lembrei de uma das primeiras matérias sobre futebol feminino que escrevi, há quase 10 anos, sobre o São Francisco do Conde. O time do interior da Bahia tinha uma estrutura bastante precária, mas ainda assim, na época, ainda brigava para ser uma das principais equipes do Brasil. Hoje em dia, vemos na prática que, quando há interesse e um trabalho bem pensado, o time pode ir muito longe, e isso atrai o interesse do público. Foi só ver a procura na loja do Barcelona por camisas para personalizar com o nome Alexia e o número 11.

Sofie Svava e Alexia Putellas em Barcelona x Real Madrid (Photo by Alex Caparros – UEFA/UEFA via Getty Images)

Quando a gente fala em futebol feminino e reduz a apenas “não tem o mesmo público” ou “ninguém liga”, é um pensamento extremamente reducionista. Torna quase inquestionável a razão por trás dos anos de falta de público, de pouco interesse, de cobertura quase inexistente. O Brasil – e outros países, inclusive a própria Espanha – proibiu e condenou por décadas a prática de futebol feminino. Não é simples virar a chavinha e ver uma sociedade inteira aceitar que mulheres também têm o seu espaço no jogo. Todo dia é uma luta diferente. Às vezes eu me sinto muito pessimista, mas dessa vez? Eu tô doida pra ver o que vem pela frente.

Foram 91.553 pessoas cantando durante 90 minutos em um jogo de futebol feminino! Isso era um sonho, algo que eu nunca imaginei que fosse ver pessoalmente. Na véspera, lembrei de quando eu era criança, adolescente, e voltava para casa o mais rápido possível para ver jogos da Champions League (masculina). Eu sonhava em conhecer os grandes estádios da Europa, mas nem imaginava que esse sonho seria realizado com o futebol feminino. Quando eu estava crescendo, não via o campo como um espaço para mulheres. Hoje em dia, não consigo nem imaginar sem elas.

Claudia Pina, Aitana Bonmati, Fridolina Rolfoe e Gemma Font, do Barcelona (Photo by Alex Caparros – UEFA/UEFA via Getty Images)

Foi uma mistura entre a energia da torcida, a acústica do estádio, o belíssimo futebol apresentado e a oportunidade de estar trabalhando e mostrando esse evento para quem não podia estar lá. Esse dia foi importante para mim, como jornalista e como fã de futebol. Mas foi ainda mais importante para as meninas e mulheres que, com uma bola no pé, resistem e lutam por melhorias. É extremamente importante que elas vejam que também podem chegar lá. Não dá para não pensar em quantas meninas viram uma foto ou vídeo desse jogo e pensaram “quero ser jogadora de futebol e ir jogar na Europa”.

Hoje de manhã, vi o tuíte de Jenni Hermoso, que tem passagens por clubes expressivos do futebol feminino como Barça, Atlético de Madrid, Rayo Vallecano e PSG. Ela diz que o Barcelona a fez se sentir como uma “jogadora de verdade”. Uma jogadora como ela, com mais de 80 jogos pela seleção, Copas do Mundo e Olimpíadas no currículo, se sentiu ontem como uma jogadora de verdade.

Eu, que senti esse gostinho ontem (e sou um desastre se tentar jogar), já quero mais. Então imagina a adrenalina na cabeça dessas atletas? Das jogadoras do Real, que, apesar da eliminação, puderam disputar a Champions League feminina com a camisa merengue pela primeira vez? Que conseguiram calar mais de 90 mil pessoas duas vezes?

A verdade é que, depois de ter visto onde a gente pode chegar, só me deu mais energia pra continuar lutando. E acho que esse movimento, meu e de tantas outras mulheres, é imparável. Seguimos juntas!

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Uma resposta

  1. Não há como não se emocionar com um espetáculo desse porte, principalmente quando protagonizado pelas mulheres do mundo.
    Bravas guerreiras!!!

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