Seleção feminina de flag faz vaquinha para ir a Mundial e quer consolidar esporte no país

Você sabe o que é flag football? Já viu algum jogo feminino da modalidade que tem grandes chances de estrear nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 2028?

E mais: sabia que as brasileiras ocupam a 6ª colocação no Ranking Mundial da Federação Internacional de Futebol Americano (IFAF) e estão prestes a disputar a “Copa do Mundo” da categoria em Israel? Mas, para que isso aconteça, as atletas e treinadoras estão pedindo auxílio financeiro em suas páginas pessoais e no perfil oficial da equipe no Instagram.

“Em todos os Mundiais que participamos nós fizemos ações (para conseguirem apoio financeiro), como vender produtos, vaquinhas, pedir ajuda para familiares, amigos e pessoas do esporte. Sempre foi foi necessário fazer esse planejamento para levarmos as atletas em todos os Mundiais”, declarou Victoria Guglielmo, técnica principal da seleção feminina de flag football.

O Mundial terá a participação de 30 seleções e acontecerá entre os dias 06 e 08 de dezembro, na cidade de Jerusalém, em Israel. As partidas serão realizadas no Kraft Family Sports Campus, estádio que pertence ao proprietário do New England Patriots (time profissional de futebol americano), Robert Kraft.

A seleção que vencer a competição vai garantir uma vaga para os Jogos Mundiais (The World Games) de 2022, na cidade de Birmingham, Alabama, em julho do mesmo ano.

A treinadora acredita que, por ser uma modalidade pouco conhecida por aqui, o flag football acaba encontrando muita dificuldade de apoio. Mas ela também reforça que o trabalho da Confederação começou a ser mais profissional recentemente. “Até pouco tempo não tinha CNPJ legalizado, não tinha como fazer projetos pela Lei de Incentivo ao Esporte, e isso ajuda muito na captação de grandes patrocínios.”

O que é o flag football 

O flag football, nada mais é, do que o futebol americano – mas com algumas adaptações. O objetivo é o mesmo, avançar com a bola pelo campo adversário e alcançar a zona final para marcar pontos, no caso, touchdowns. 

A maior diferença entre as duas modalidades é que no flag não há todo aquele contato físico que é comum no futebol americano e, por isso, as atletas não precisam jogar com aqueles equipamentos de proteção (capacete, ombreiras e etc). No flag, não é necessário derrubar e nem atingir o adversário para parar uma jogada e impedir que ele avance. Para isso, basta apenas retirar uma das fitas que as jogadoras usam presas na cintura.

Algumas mulheres praticam o futebol americano, mas são poucas. Nos Estados Unidos existem ligas, mas elas não ganham o mesmo destaque e apoio como acontece com a modalidade masculina, isso sem contar que elas enfrentam muito preconceito. Por ser um esporte de contato, acaba sendo “mal visto” para a prática feminina.

“As pessoas têm a impressão de que fora de campo você é mais ‘delicada e feminina’ e tem dificuldade de entender que essa mesma pessoa pode jogar futebol americano. É um esporte de contato, intenso, mas não é violento e agressivo, como as pessoas tendem a considerar. Tudo que acontece em campo é baseado em muita técnica e tática”, afirmou Ester Alencar, de 24 anos, jogadora seleção brasileira de flag e que também atua como quarterback no futebol americano.

Criação da seleção e evolução das mulheres no Flag

A seleção brasileira feminina de flag football existe desde 2012, quando as mulheres participaram internacionalmente pela 1ª vez representando o Brasil e desde então o projeto segue em evolução. Foram cinco Mundiais disputados a cada dois anos, ocupando a 12ª posição na estreia e alcançando a 6ª colocação em 2018 (além de ter a jogadora brasileira Pamela Peres escolhida como MVP defensiva).

Depois desse Mundial histórico em 2018, segundo os representantes da modalidade, um novo ciclo se iniciou para o esporte no Brasil. Um projeto foi criado do zero e novos objetivos foram traçados, entre eles, alcançar uma colocação ainda melhor no próximo Mundial e impulsionar a evolução do flag no Brasil inteiro.

(Foto: Instagram / Seleção feminina de flag)

A comissão técnica tem a missão – e já faz isso atualmente – de rodar o país em busca de talentos e realizar treinos abertos em todas as regiões, além de promover congressos para técnicas e técnicos e eventos online. Outra vitória importante da gestão atual foi conseguir uma parceria com o Osasco Audax para que as atletas da seleção pudessem ter um local fixo para treinar.

“Vejo uma evolução absurda (da presença feminina no flag) desde quando começamos a praticar, em 2012. Nessa época, quando fomos disputar o primeiro Mundial, existia em torno de 10 a 12 equipes femininas no Brasil. E depois que retornamos com mais bagagem desse Mundial, houve um crescimento dentro de um ano de 150% (no número de equipes). Hoje temos mais de 80 equipes pelo Brasil, é uma evolução natural, já temos mais pessoas praticando o esporte”, afirmou a treinadora.

As 15 convocadas para o Mundial em Israel (Foto: Divulgação)

No cenário da modalidade, Victoria destaca o México, Panamá e os Estados Unidos como as três melhores equipes de flag e isso acontece porque os países investem na disseminação e formação de atletas com afinco. “O esporte por lá é praticado desde criança e eles tem muito apoio das federações e confederações. Quando estivemos no Panamá, em 2016, visitamos um campeonato escolar que tinham mais de 40 escolas participando, com meninas entre 8 e 16 anos jogando. Nos Estados Unidos e no México, o flag football é inserido nas universidades também e isso é um grande diferencial.”

Segundo Cristiane Kajiwara, Presidente da Confederação de Futebol Americano aqui no Brasil, está nos planos da entidade desenvolver a base do esporte. “Nossa ideia é começar desde agora a fomentar as categorias de base, incentivar a prática do flag football nas escolas e universidades e já estamos trabalhando em parceria com a CBDU (Confederação Brasileira do Desporto Universitário) e CBDE (Confederação Brasileira do Desporto Escolar) para que a gente consiga implantar a bola oval nas competições escolares e em projetos sociais pelo Brasil para que as crianças conheçam e pratiquem a modalidade e que a gente chegue melhor preparado para o ciclo olímpico em 2028.”

Victoria Guglielmo, técnica principal da seleção feminina de flag football (Foto: Igor F Barboza)

Olhando para o futuro, Victoria reforça a importância de dar continuidade ao projeto de expansão da modalidade pelo país e tratar o esporte como profissional, mesmo que ele ainda seja amador. “Temos que seguir com a equipe multidisciplinar que temos na seleção, com nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e a comissão técnica formada por cinco mulheres que são profissionais de Educação Física. É importante evoluir em tudo que for necessário, entrando recursos financeiros ou não”, completou.

Adote uma atleta 

No site da Seleção Brasileira de Flag você pode colaborar financeiramente para ajudar a equipe a disputar o Mundial em Israel e também a realizar o sonho dessas mulheres. Uma delas é Ariane Lozada, de 35 anos, que praticava futebol, mas conheceu o flag por intermédio de uma amiga em 2016 e se apaixonou.

Ariane, com a bola na mão, é jogadora da seleção brasileira de flag football (Foto: Divulgação)

Ela participou de uma peneira no Spartans, equipe da Zona Sul paulista e passou a integrar o time. Hoje ela defende o São Paulo Storm. “Desde então tenho me dedicado à modalidade. Eles me acolheram, me ensinaram quase tudo que sei hoje sobre o flag e acreditaram no meu potencial. Com quatro meses de equipe, participei do meu primeiro campeonato e consegui ganhar como MVP, melhor jogadora do ataque. Foi aí que eu percebi que levava jeito e quis ir além”, contou às Dibradoras.

Ela chegou à seleção brasileira em 2019 e agora foi convocada para disputar o Mundial em Israel. “Pra mim foi uma surpresa porque eu sou a atleta mais velha da equipe. Vai ser minha primeira experiência em um Mundial, isso me causa uma certa ansiedade, mas isso significa pra mim a realização de um sonho. Desde pequena eu desejo ser atleta e aconteceu de chegar no degrau mais alto agora, vestindo a camisa da seleção”, revelou a recebedora.

Ari se orgulha de ser uma inspiração para tantas outras mulheres que desejam jogar em alto nível no esporte, independente da idade. “É possível, sim! E poder ouvir o apoio das pessoas e ser inspiração pra elas é muito fantástico.”

A atleta também acredita no sucesso do flag football no futuro. “Isso vem muito da nossa vontade. Se a gente for considerar apoio, visibilidade, essas coisas que são importantes para o desenvolvimento da modalidade, a gente desacredita do potencial. Mas pela vontade das meninas, da comissão e de quem acredita, temos total condições de chegar aos Jogos Olímpicos de 2028 e representar a modalidade muito bem.”

Avanços importantes estão acontecendo, mas elas precisam de apoio para competir e alcançar bons resultados no Mundial. Vamos colaborar com essa causa?

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