O Corinthians foi campeão brasileiro no último domingo pela terceira vez e, de novo, ganhou exatamente a mesma premiação que teve em 2018, quando conquistou o primeiro título. Desde que criou a bonificação em dinheiro para campeão e vice, a CBF nunca aumentou os valores destinados aos times femininos.
Pela conquista, o Corinthians ganhou R$120 mil, mesmo valor pago desde 2017 aos campeões do Brasileiro feminino. O vice leva R$60 mil. O assunto já havia vindo à tona em 2019 e voltou a ganhar holofotes nesta segunda-feira, quando a meia corintiana Gabi Zanotti expôs a questão no programa “Encontro com Fátima”, da TV Globo.
“A gente vê que a modalidade está evoluindo, mas muitas coisas ainda precisam evoluir junto com a modalidade. Vocês tocaram no ponto de premiação, e a gente vê que no Campeonato Brasileiro, por exemplo, a gente vai para o quinto ano sem um reajuste de premiação, acho isso inadmissível por tudo o que conquistamos nos últimos cinco anos”, afirmou a camisa 10 do time alvinegro.
“E eu não estou falando isso pelo Corinthians, estou falando pela modalidade. Porque hoje é o Corinthians, ano passado foi o Corinthians, mas em outros anos foram outras equipes. A gente não está aqui querendo comparar com o futebol masculino, porque a gente sabe que o produto é diferente, mas a gente sabe que precisa ser valorizado”, finalizou.
Em 2019, nessa matéria, questionamos a @CBF_Futebol sobre isso. E chegamos a 2021 sem nenhum aumento na premiação do @BRFeminino .https://t.co/W4rEAh4wYr
— Dibradoras (@dibradoras) September 27, 2021
Muitas manchetes repercutiram que a premiação do Brasileiro feminino representa 0,87% da premiação do Brasileiro masculino. Como a própria Gabi Zanotti pontuou, são realidades muito distintas e hoje não cabe a comparação.
O torneio masculino existe desde 1959, tem mais de 60 anos de história e contou com investimento da CBF também para hoje render valores milionários de direitos de transmissão da TV, que geram uma premiação ao campeão que, neste ano, chega aos R$ 33 milhões (quase o dobro do que era em 2018, por exemplo, quando o campeão levou R$ 18 milhões).
No feminino, ainda não há venda de direitos de transmissão, e todos os custos para que os jogos sejam exibidos na TV são bancados pela CBF. Ainda assim, houve uma evolução grande do campeonato, que passou, inclusive, a ter patrocinadores nos últimos dois anos, e seria justo que a premiação acompanhasse essa evolução.
A CBF alega que investe no desenvolvimento do futebol feminino como um todo, custeando 100% de todas as competições nacionais. Em 2020 e 2021, a entidade designou uma verba de 120 mil reais (240 mil no total) a cada um dos clubes da Série A1 como auxílio emergencial durante a pandemia. No futebol masculino, há comercialização de direitos de transmissão e isso faz com que a premiação das competições deles sejam muito mais altas. Já no feminino, ainda não houve venda total de direitos de TV, e algumas transmissões também são custeadas pela CBF. A Confederação ressalta que os novos patrocinadores chegaram apenas em junho deste ano e discute a possibilidade de viabilizar o reajuste de premiação para campeão e vice num futuro próximo.
Investimento e retorno
O Campeonato Brasileiro feminino é recente, e existe neste formato somente há cinco anos. Inicialmente, ele foi criado com 20 equipes em divisão única e, pasmem, sem qualquer premiação para campeão e vice. Só a partir de 2017, o torneio organizado pela CBF passou a premiar as equipes de acordo com o desempenho delas no torneio.
A desculpa para não oferecer dinheiro aos participantes do torneio costumava ser o fato de o Campeonato Brasileiro feminino não dar nenhum lucro à entidade, só despesas. De fato, a realidade do futebol feminino ainda requer investimento antes de dar retorno – é assim que acontece em todo lugar. A Inglaterra, por exemplo, é um dos países que mais tem investido na liga local e já ganhou um patrocínio milionário da Barclay’s para a Women’s Super League, que já conta com a participação de todos os principais times de camisa ingleses.
No Brasil, o futebol feminino ainda é uma modalidade em constante transformação. Com o sucesso da Copa do Mundo feminina em 2019, mais marcas passaram a se interessar pela modalidade. O Brasileiro feminino vendeu seus “naming rights” para a Neoenergia, e passou a ter mais patrocinadores exclusivos. O retorno começa a aparecer e, para a roda girar, é preciso também a CBF investir na premiação com um incentivo a mais para os clubes, que são os responsáveis por elevar a cada ano o nível das competições.
Os números desta edição do torneio dão mostras do sucesso crescente da competição. A Band se tornou a emissora oficial da competição em 2019, e teve um crescimento significativo da audiência neste ano, alcançando números que só haviam sido registrados antes com o Pânico na TV em 2017, segundo informações do repórter Gabriel Vaques no Notícias da TV. O Sportv passou a exibir jogos do mata-mata e também registrou números significativos, liderando a audiência da TV paga com folga.
Tudo isso mostra que o campeonato está crescendo e, com isso, nada mais justo do que fazer crescer também a recompensa dos clubes pela conquista.
Não há negócio nenhum no mundo que tenha dado lucro sem que tenha existido investimento antes. Por isso, é importante demais que o futebol feminino acompanhe essa lógica.
É claro que não dá para comparar com o universo do futebol masculino hoje. O que se espera é que, no Brasileiro feminino, que tem crescido mais a cada ano, mostrando seu potencial e recebendo mais visibilidade da mídia, também haja essa evolução. Os clubes têm investido cada vez mais, o nível técnico tem aumentado cada dia mais, então é justo que haja uma valorização para todo esse trabalho com uma premiação maior.