A chegada da Neoenergia como patrocinadora do Campeonato Brasileiro e das seleções brasileiras femininas – primeiro patrocinador exclusivo delas na história – representa um marco na história da modalidade. E para a Diretora de Competições da CBF, Aline Pellegrino, esse passo vem para corrigir os anos de vetos e lutas que as mulheres precisaram enfrentaram para poderem jogar futebol no Brasil.
“Estamos em um momento de transição e começamos a zerar aqueles 40 anos de proibição. Agora estamos com competições, com melhorias técnicas, aumento das equipes, a gente está começando a enraizar o futebol das mulheres no Brasil. Chegar um parceiro desse tamanho, com duração de quatro anos, acreditando no produto, a palavra talvez hoje é credibilidade. E agora a gente traz isso pro futebol das mulheres no Brasil”, afirmou a dirigente às Dibradoras.
+ PELA 1ª VEZ NA HISTÓRIA, SELEÇÃO FEMININA TERÁ PATROCINADOR EXCLUSIVO
Nesta terça-feira (01), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anunciou, em coletiva de imprensa, o novo patrocinador exclusivo do futebol feminino.
A Neoenergia (filial brasileira da empresa espanhola Iberdrola) apoiará as Seleções Brasileiras Femininas (de base e adulta) e o Brasileirão Feminino A-1, que contará com direitos agregados de naming rights.
O contrato de patrocínio vai até 2024 anos e prevê a exibição da marca no uniforme de treino da Seleção Feminina, ações promocionais e ativações nas redes sociais. O campeonato nacional muda de nome e, a partir da próxima rodada, passa a se chamar Brasileirão Feminino Neoenergia.
Aline revelou que o interesse da Neoenergia em patrocinar o campeonato e as seleções foi ao encontro do que a CBF também desejava adquirir. “Foi um alinhamento de ambas as partes de patrocinar competição e seleções, porque estamos falando de um projeto de desenvolvimento do futebol feminino brasileiro como um todo”.
Os valores de investimento não foram revelados e para a dirigente este é um apenas um passo dentro de uma cadeia comercial que ainda precisa se completar para ser autossustentável.
“O que vai pagar o campeonato é o naming rights, o direito de transmissão, mais as placas e a parte comercial, que é a partir daí que você consegue vender o direito de transmissão. São essas três coisas que precisam ser trabalhadas e nós avançamos em um dos três pilares”, reforçou.
“Vendemos parte das placas, mas a gente ainda não tem o direito de transmissão vendido. Ainda temos lacunas importantes pra poder estar próximos de pagar essa competição e, ainda assim, talvez não pague porque estamos falando de uma competição que é 100% custeada (logística, arbitragem, auxílio operacional para as partidas, premiação)”, completou Aline.
O último patrocinador master que o Brasileirão Feminino A-1 teve foi com a Caixa Econômica Federal. O banco estatal investiu na competição por cinco anos (de 2013 até o final de 2017) e, na época, destinava R$ 10 milhões por ano à agência Sport Promotion, dona dos direitos sobre a competição e responsável por organizá-la. Depois do rompimento com a Caixa, a CBF passou a arcar com os custos.
A dirigente revelou que os valores de investimento da Neoenergia são altos, mas que não zeram os custos totais da competição. Além disso, trata-se de um valor global que é direcionado para as seleções e para a competição. E, diante desse cenário, não é possível traçar uma comparação com o antigo patrocinador.
“Aqui a gente tem um pacote muito maior, com seleção sub-17, sub-20, principal e o Brasileirão. O que eu vejo de positivo é o valor agregado do futebol feminino. Acho que ainda temos muito que caminhar. Hoje damos um passo importante dentro de um desses pilares e caminhamos para uma melhoria, seja em formato, em modelo, em direitos de transmissão, visibilidade e paralelamente na questão comercial também. Os valores finais são altos, mas ainda vamos buscar zerar essa conta”, declarou Aline reforçando que a venda dos direitos de transmissão também é primordial.
O exemplo que vem da Espanha
A Neoenergia, empresa do setor elétrico (filial brasileira da empresa espanhola Iberdrola), traz em sua bagagem a expertise de patrocinar a Liga Iberdrola e impulsionar o esporte feminino, com mais de 330 mil atletas apoiados de várias modalidade e em diversos países. Para Aline Pellegrino, a parceria traz credibilidade ao futebol das mulheres no Brasil.
“Eles patrocinam outros esportes femininos e outras mulheres no esporte. A gente viu o quanto cresceu a Iberdrola na Espanha e, quando a gente começa a conversar com esse grupo, é muito importante ver o interesse deles na nossa competição. A gente sabe de todo o potencial que temos no Brasil, com condição de trazer mudanças reais pro nosso esporte, trazer visibilidade, credibilidade pro futebol feminino brasileiro. A expectativa é muito grande porque a gente viu o sucesso desse patrocínio lá fora, o quanto ajudou a alavancar a liga e culminar em resultados, seja no futebol ou em outras modalidades”, opinou.
E claro, quando falamos do desenvolvimento da liga feminina espanhola, também enxergamos a evolução do futebol dentro da seleção, que atualmente ocupa a 13ª posição do Ranking da Fifa e tem no futebol de base suas principais conquistas: campeãs da Eurocopa (Sub-19 e Sub-17) e campeãs mundial na categoria Sub-17 em 2018.
Para Aline, a chegada do patrocínio soma ao trabalho que ela e Duda Luizelli (coordenadora de Seleções) desempenham dentro da entidade. “Acho que isso tem muito a ver com a minha chegada e chegada da Duda. De fazer a competição ser forte e interferir no potencial dessas atletas para que elas rendam mais na seleção. Quanto mais a gente tiver uma competição forte e com margem de crescimento, isso vai se refletir na seleção. Aconteceu exponencialmente com a liga espanhola e com a seleção espanhola nos últimos cinco anos”, afirmou.
“Passamos um recado para o mercado. São três coisas que farão a roda girar, agora estão faltando duas. A gente precisa que exista ação nessa cadeia produtiva, com cada um fazendo seu papel: a CBF, os clubes, a mídia, a televisão. A gente precisa de ações concretas nessa cadeia produtiva. Hoje a gente dá um passo gigantesco de uma ação concreta, dá uma chacoalhada no mercado e a partir disso a gente vai colher outros frutos.”