As paralisações nas competições deram o tom do ano de 2020 no mundo dos esportes. No futebol feminino no Brasil, a situação se repetiu, mas com um agravante: até o final do ano, apenas 11 dos 26 estados realizaram o campeonato estadual para as mulheres. A falta de estrutura, que já é um dos maiores problemas da modalidade, tornou-se ainda mais relevante em um contexto em que a testagem de atletas para a Covid-19 se tornou parte do protocolo de segurança, bem como a higienização constante dos centros de treinamento e estádios para que as partidas pudessem ser realizadas.
Pensando nas mudanças que os estados deveriam promover, no início de dezembro a CBF emitiu um ofício determinando que os campeonatos estaduais de 2020 fossem realizados até 28 de março de 2021, de modo que as federações tivessem tempo para reorganizar seus calendários e suas competições. A entidade precisa da realização dos torneios para definir os participantes da Série A2 do Brasileiro feminino de 2021 – a segunda divisão nacional tem 27 vagas para os campeões estaduais.
No entanto, na primeira semana de janeiro, ainda não há informações sobre boa parte dos estaduais que não aconteceram.
Norte: pouco mais da metade da região fez o dever de casa
Na região Norte, quatro dos sete estados realizaram o torneio. Amapá, Amazonas, Rondônia, Pará organizaram campeonatos, com um número menor de times – o Rondoniense, por exemplo, foi disputado por apenas três equipes – e com duração também reduzida.
Em modelos com grupos únicos, dois campeonatos tiveram transmissão ao vivo: a Federação Amapaense de Futebol disponibilizou os jogos para assistir online através da plataforma MyCujoo, e em Rondônia os torcedores puderam acompanhar os jogos no Youtube da FFER.O Amazonense estava para terminar, mas teve a final suspensa até que o STJD julgue o caso de uma possível escalação irregular de jogadora por um dos clubes que disputaria a decisão.
Já os estados que ficaram devendo o campeonato nesse ano foram Acre, Roraima e Tocantins. Segundo a Federação Roraimense de Futebol, “existem programações para que aconteça uma seletiva em Janeiro para se conhecer o representante do estado em competições nacionais”. Não foi especificado se essa seletiva funcionaria como o estadual. As federações do Acre e de Tocantins não responderam às tentativas de contato.
Nordeste: situação alarmante
No Nordeste, a situação também foi longe do ideal: apenas duas federações sediaram o torneio em 2020. O destaque foi a Paraíba, que em dezembro viu o Botafogo-PB levantar a taça com direito a transmissão na TV local.
Em Sergipe, o cenário foi diferente: a competição foi disputada antes da pandemia e terminou em fevereiro.
Três estados realizarão o torneio neste ano: Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, que chegou a iniciar a competição em novembro. No entanto, a disputa foi interrompida e adiada para este mês após a confirmação de 10 casos de Covid-19 incluindo atletas e comissão técnica do Sport.
No Ceará, era para o estadual começar agora, mas houve desistência de uma das quatro equipes que participariam. Agora, só Ceará, Fortaleza e São Gonçalo estão confirmados, e a Federação Cearense precisa definir uma nova data para a disputa.
Já a Federação Alagoana de Futebol realizou um campeonato de futebol feminino, mas não o Campeonato Estadual. Quem levou a Copa da Rainha Marta foi a União Desportiva do Alagoas, e ainda é incerto se o clube continuará sendo o representante do estado no Brasileirão A-2.
As federações do Piauí, Bahia e Maranhão não possuem informações sobre a realização da edição de 2020. Em entrevista ao site ne45, o presidente da Federação Baiana de Futebol, Ricardo Lima, afirmou que “se tratando do futebol feminino provavelmente não aconteça sua edição em 2020”.
No Centro Oeste, só o Distrito Federal salva
A pior região para o futebol feminino em 2020, no entanto, é o Centro-Oeste: Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul não tem informações sobre os campeonatos estaduais e não responderam aos e-mails para esclarecer dúvidas sobre os torneios. A boa notícia foi que o Distrito Federal realizou o Candangão Feminino com seis times em um campeonato que durou de outubro a dezembro e teve o Real Brasília como campeão. A final foi transmitida para a TV local e também foi disponibilizada pela internet através do Facebook da Federação de Futebol do Distrito Federal.
No Sudeste, Espírito Santo não segue exemplo do seus vizinhos
Pelo segundo ano seguido, a final do Paulistão foi um grande evento no calendário esportivo do estado, e contou com transmissão para a TV aberta e a TV fechada, um marco para o esporte. A novidade positiva na região foi que em Minas Gerais a final aconteceu no Mineirão e também foi televisionada, além de estar disponível também na internet.
No Rio de Janeiro, o torneio de 2020 está marcado para acontecer de janeiro a março, em um formato com 12 times na disputa. Para a temporada 2021, os planos são ainda maiores.
Segundo o diretor de competições da FERJ, Marcelo Vianna, “o Carioca de 2021 terá maior número de participantes e tem previsão inicial para o mês de outubro. Vale ressaltar que, com responsabilidade e acompanhamento da pandemia, está no radar da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro a realização do Feminino sub 17, a princípio, no mês de maio”.
Já no lado negativo, a Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo (FES) não se pronunciou sobre o Capixabão. A previsão era que o torneio acontecesse de agosto a novembro, mas nem foi iniciado. Durante o ano, no entando, a federação organizou o Capixabão Masculino das Séries A e B, além de já decidir o calendário para a modalidade dos homens para 2021.
Sul: SC e PR sem previsão
Para terminar, a região Sul do Brasil teve bons e maus exemplos. No Rio Grande do Sul, Internacional e Grêmio disputaram a final em dezembro com direito a transmissão para a TV local e também pela internet. Em Santa Catarina, o torneio começou a ser realizado em março, foi paralisado por conta da pandemia, mas até agora não retornou. Já no Paraná, a Federação informou que não há condições de realizar o campeonato segundo as recomendações do Ministério da Saúde.
O que diz a CBF
De acordo com a CBF, não há previsão de punição para os estados que não realizarem os campeonatos, já que se trata de um novo cenário. O problema, além da falta de continuidade no trabalho de desenvolvimento das atletas e da modalidade no Brasil, é que 27 dos 36 times que disputam a série A2 do Brasileirão são os vencedores dos campeonatos estaduais.
Com o início da disputa marcado para começar em maio, ainda há incerteza em relação aos representantes estaduais. Faltando apenas quatro meses para o início da competição, ainda não há previsão para que 11 federações realizem seus campeonatos e consigam enviar um representante para a segunda mais importante competição nacional. A CBF afirmou que a entidade está “aguardando a posição das federações” para “entender por que elas não pretendem fazer (os estaduais) e começar a levar sugestões para viabilizar”.
Enquanto essa situação não se resolve, listamos aqui os campeões estaudais de 2020 que já foram definidos. São eles: Oratório (AP), Esmac (PA), Real Ariquemes (RO), Botafogo-PB, Santos Dumont (SE), Atlético-MG, Corinthians (SP) e Internacional (RS).
*Reportagem: Laís Malek