*Texto atualizado às 00h10 do dia 22/04/2020
O Deportivo Quito, equipe equatoriana que atualmente está na Segunda Categoria Provincial (correspondente a quarta e última categoria profissional do país, disputada de forma regional), será presidido pela primeira vez por uma mulher. O nome dela é Samantha Yépez Fernández, de 25 anos de idade, graduada em Administração de Empresas e que há três anos faz parte do conselho do clube.
Torcedora do clube desde a infância, Samantha assumiu o posto no lugar de Juan Manuel Aguirre, último presidente da equipe que se licenciou do cargo para assumir um cargo na Agência Equatoriana de Trânsito.
“Para mim, é um grande desafio profissional que assumo com muita responsabilidade, mas com muito orgulho e amor que tenho pela instituição. O trabalho que realizamos nos últimos anos me dá confiança para assumir a posição, obviamente sabendo que não estou sozinha e que tenho meu grupo de trabalho”, declarou ao portal El Mercurio.
O time azul-grená enfrenta inúmeras dificuldades financeiras, entrando em colapso em 2013 por conta de sequências de más-administrações. O Deportivo Quito se endividou, coleciona mais de 70 processos trabalhistas e encarou punições da FIFA dentro de campo (com pontos retirados durante um campeonato) e fora dele (com processos por falta de pagamentos à ex-jogadores e treinadores).
O clube do Equador – cinco vezes campeão nacional e com seis participações na Libertadores da América – está de volta ao futebol profissional depois de sofrer com rebaixamentos e jogar na categoria amadora na temporada passada.
Samantha chega ao comando do time sabendo da situação complicadíssima que terá de enfrentar. “A situação do clube é muito complicada, mas sempre é importante ter atitude e capacidade. Trabalhamos com comissões, cada uma executando o trabalho correspondente. O objetivo principal é continuar com a estrutura institucional do clube. Também queremos fortalecer as divisões de base”, declarou a atual presidente ao portal El Comercio.
Além disso, a presidente afirmou que está buscando apoio com patrocinadores e negociando a dívida do time que, segundo ela, chega a US$ 8 milhões. “Os credores devem entender que, se o Deportivo Quito desaparecer, eles não poderão nos cobrar. Antes, as dívidas vinham todas as semanas para a Federação Equatoriana de Futebol (FEF) e isso não aconteceu recentemente “, disse a jovem presidente ao EXTRA.
Quando perguntada sobre a presença de mulheres como líderes no futebol, declarou a importância do preparo para assumir cargos como esse. “É algo que está mudando na história, há muitas mulheres que estão fazendo seu trabalho muito bem e isso nos faz perceber que podemos ir longe no esporte que mais amamos, o futebol. Eu acho que, para ser um líder, o principal é a preparação, graças a Deus agora as mulheres têm a oportunidade de fazê-lo e com esse conhecimento e trabalho duro podemos contribuir.”
Samantha é a quarta mulher a assumir a presidência de um clube na elite do futebol equatoriano, segundo publicou o El Telegrafo. Antes dela, Mayra Argüello, foi presidente do Olmedo, Lucía Vallecilla exerceu o cargo no El Nacional e Martha Romero comandou o Orense.
Presidentes de clube no Brasil
Em 2019, o UOL Esporte publicou uma matéria indicando que nos clubes que disputaram as séries A, B e C em 2017, somente cinco mulheres exerciam funções de chefia. A discrepância foi verificada na tese de mestrado “A trajetória das mulheres gestoras nas organizações futebolísticas brasileiras”, de Monique Torga.
No documento, defendido junto ao Curso de Educação Física da Universidade de Juiz de Fora, ela compilou o organograma das 60 equipes inscritas nas três principais divisões do Campeonato Brasileiro daquela temporada. Monique pesquisou quem estava nos cargos de presidente, vice-presidente de futebol, supervisor de futebol, diretor-geral e diretor de futebol.
O cenário por aqui ainda é excludente e precisa ser conquistado pelas mulheres. No Brasil, a primeira mulher a comandar uma equipe profissional de futebol que se tem registro foi Marlene Matheus, no Corinthians, entre 1991 e 1993. Na época, ela tinha 55 anos anos e assumiu o cargo porque seu marido, o então presidente do clube alvinegro, Vicente Matheus, não podia se reeleger e a indicou.
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Depois dela, foi a vez de Patrícia Amorim presidir o Flamengo durante três anos, entre 2010 e 2012. Patrícia tem uma longa história no esporte, começando como nadadora, 28 vezes campeã brasileira nos 200, 400, 800 e 1.500 metros livres, responsável por quebrar 29 recordes sul-americanos e também o jejum de 16 anos da presença de uma brasileira nos Jogos Olímpicos quando se classificou para ir à Seul, em 1988.
Como presidente de um dos maiores clubes do país, Patrícia teve uma gestão conturbada e marcada por vários escândalos financeiros, conflitos com jogadores, treinadores e dirigentes. Mas foi também sob sua gestão que o clube carioca contou com a passagem de Ronaldinho Gaúcho e Adriano Imperador na Gávea.
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Além delas, há registros de outras poucas mulheres que se tornaram presidentes de clubes de futebol, como Lisete Frohlich, ex-presidente do Riograndense (Rio Grande do Sul), Rafaela Escalante, presidente do Plácido de Castro (Acre), Maria José Vieira, presidente do Atlético Cearense (Ceará) e Myrian Fortura, comandante do Tupi (Minas Gerais).
Olhando o cenário atual, ainda são poucas as mulheres que estão envolvidas nos conselhos do clube ou perto de se tornarem presidentes. Atualmente, o Corinthians tem uma vice-presidente, Edna Murad, que entrou na cena política ao ser eleita três vezes consecutivas como conselheira. Ela diz que foi uma surpresa quando Andrés Sanchez lançou a chapa com uma mulher incluída. “Não é muito comum mulheres na gestão de futebol”. O Vasco tem Sonia Maria Andrade dos Santos ocupando o cargo de 2ª vice-presidente do clube.
Já a empresária Leila Pereira, principal patrocinadora do Palmeiras, tem planos para chegar ao cargo máximo do clube a partir de 2021, quando ficará elegível.
-> Conhece algum outro clube que foi presidido por mulheres? Conta pra gente aqui nos comentários.
* Erramos: Noticiamos que Patrícia Amorim comandou o Flamengo entre 2009 e 2012, mas sua gestão começou no ano de 2010. O blog publicou também que o título rubro-negro havia sido conquistado na gestão de Patrícia, mas o presidente na época era Marcio Braga.