Alex Morgan: ‘Atletas não deviam ter que optar entre esporte e maternidade’

Foto: Reprodução Glamour (Radka Leitmeritz)

Alex Morgan começou 2020 com um sonho ousado. Bicampeã do mundo e já campeã olímpica com a seleção americana de futebol, a atacante anunciou gravidez ainda no ano passado e, com a previsão de nascimento da filha para abril, ela ainda fazia planos para voltar a tempo de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio em julho. Com o adiamento desta edição confirmado pelo COI – a Olimpíada agora será em julho de 2021 -, Morgan “ganha” mais uns meses para voltar ainda mais preparada, mas não desiste de seu principal objetivo em meio a tudo isso.

“Eu gosto de falar abertamente sobre isso porque eu quero que mulheres vejam que não precisam escolher entre uma coisa e outra. Quanto mais atletas mães nós tivermos ainda no meio da carreira esportiva, melhor – só olhar o exemplo de Allyson Felix (multicampeã e medalhista de ouro no Mundial de Atletismo de 2019 após ter filho), Serena Williams (campeã do Australian Open grávida em 2017), e minha companheira de equipe Sydney Leroux (voltou a jogar pelo Orlando Pride três meses após dar luz ao segundo filho). Quando mais mulheres desafiarem o sistema, mais ele vai mudar”, afirmou a americana em matéria especial de capa para a revista Glamour nos Estados Unidos.

Morgan foi uma das artilheiras da Copa de 2019 (Foto: Reuters)

Quando anunciou que estava grávida em outubro, Morgan ouviu comentários de alguns fãs questionando o momento escolhido por ela para ser mãe. A atacante vivia, aos 30 anos, talvez o auge da sua carreira, tendo sido artilheira da Copa do Mundo de 2019, uma das finalistas do prêmio de melhor do mundo da Fifa no mesmo ano, e, com os Jogos Olímpicos em vista, muitos pensaram que teria sido uma decisão precipitada engravidar às vésperas de uma competição tão importante para a seleção americana de futebol.

“Fãs de futebol questionaram: ‘por que ela vai fazer algo assim bem no auge da carreira?’. Não é como se uma mulher não conseguisse fazer as duas coisas (carreira no esporte e maternidade) – nossos corpos são incríveis -, é o fato de que o mundo parece não ter sido feito para as mulheres prosperarem”, diz ela.

Foto: Reprodução Glamour (Radka Leitmeritz)

“Eu pensei comigo mesma: eu tenho uma rede de apoio para conseguir voltar a jogar. Não tenho motivos hoje para me aposentar do futebol só porque quero começar uma família”, observou. Morgan reconhece seus privilégios como uma jogadora que conseguiu manter seu emprego e seus ganhos com patrocinadores mesmo durante a gravidez (até pela luta de outras atletas que antes dela falaram disso publicamente e fizeram a Nike mudar sua política para atletas grávidas).

A gravidez ainda é um tabu para mulheres no esporte. Não só pelo julgamento das pessoas, mas principalmente pela falta de estabilidade delas no trabalho. É difícil encontrar clubes e patrocinadores que mantenham os vencimentos das jogadoras enquanto elas estão afastadas na gravidez. E o desafio de voltar após o nascimento de um filho também é grande – o corpo inteiro da mulher muda e a rotina se torna ainda mais exaustiva com amamentação ao longo do dia e na madrugada. Se estivesse nos Jogos de Tóquio, é possível que Morgan tivesse que amamentar no intervalo dos jogos no vestiário, como fez Sydney Leroux no Orlando Pride.

 

“Agora eu tenho mais tempo para lidar com isso e eu vou ter mais tempo com minha filha. Consigo me planejar com mais calma e um pouco mais de clareza. Tenho que olhar de maneira positiva pra isso”, afirmou.

Morgan mantinha uma rotina de treinos de futebol com exercícios monitorados até os sete meses de gravidez. Tudo foi feito pensando em manter seu corpo ativo e acostumado com a atividade que ela retomaria semanas após o parto, se tudo desse certo. Agora, com os Jogos adiados, ela tem menos preocupações com o futebol, mas ao mesmo tempo uma grande aflição na reta final da gravidez.

Foto: Reprodução Glamour (Radka Leitmeritz)

Com os casos de Covid-19 se multiplicando nos Estados Unidos, hospitais estão restringindo acesso de pais e doulas na sala de parto e isso preocupa bastante a atacante, que já pensa, inclusive, na opção de um parto em casa. “Eu não me sentiria bem no parto sem ter meu marido perto. Isso tem gerado uma grande discussão com ele, com minha mãe, minha doula. Ter o parto em casa pode ser um momento intenso e também muito bonito”, disse.

O mais interessante desse momento é que Alex Morgan terá uma menina. E, diante da luta que ela tem até hoje por um mundo mais igual no esporte (ela é uma das líderes no processo judicial da seleção americana contra a US. Soccer pedindo igualdade de tratamento e pagamento com relação à seleção masculina), a atacante já projeta um futuro mais promissor para a filha.

“Eu não lembro de ter ouvido falar sobre a discriminação que meninas e mulheres enfrentam no esporte quando eu era criança. Mas agora eu vejo meninas de oito anos de idade com cartazes dizendo: ‘Alex, obrigada por me dar um futuro melhor’. Eu mal posso esperar para compartilhar todas essas histórias com minha filha e poder contar para ela um pouco da história de luta que a mãe dela teve”, finalizou.

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